Clementino de Souza e Castro Júnior (São Paulo, 23 de julho de 1.897 – São Paulo, 22 de agosto de 1.981) era filho de Clementino de Souza e Castro e Luiza Arruda de Souza e Castro. Seu pai foi prefeito de São Paulo na transição do regime monárquico para o republicano, entre 1890 e 1891, e chegou a exercer o cargo de ministro no Tribunal de Justiça de São Paulo. O bairro de Vila Clementino, localizado no distrito de Vila Mariana em São Paulo, recebeu essa denominação em homenagem ao seu pai, gestor público de grandes realizações.
Tomando parte nos acontecimentos daquele outono e inverno de 1932, quando a cidade de São Paulo se agitava contra a ditadura de Vargas, eufemisticamente chamada de “Governo Provisório”, Clementino Júnior se alistou como voluntário, tendo sido deslocado para a “Frente Norte” (Vale do Paraíba), mais precisamente para o “Sector de Cunha”, já nos primeiros momentos da guerra civil.
Quando se alistou como voluntário nas fileiras do Exército Constitucionalista, já era casado e pai de três filhas. Esse fato o distingue de muitos, mostrando a sua devoção à causa constitucionalista. Paulista e constitucionalista.
Em Cunha, devido à sua formação acadêmica – engenharia civil pelo antigo Colégio Mackenzie – veio a compor o corpo técnico do Estado Maior da Praça de Cunha, quando instalada na cidade a Delegacia Técnica do Exército Constitucionalista, que funcionou no casarão que ficava na esquina da rua Dr. Casemiro da Rocha com a Praça da Matriz. O casarão foi demolido, mas um novo prédio (em proporção e estilo semelhante) foi erguido e hoje está alugado para a Caixa Econômica Federal. Como engenheiro, confeccionava os croquis e mapas bélicos. Também ficou responsável pela intendência. No acúmulo das duas funções, tendo contato direto com os anseios das trincheiras e com as resenhas da oficialidade, foi testemunha privilegiada dos acontecimentos que se desenrolaram em Cunha.
Anotava tudo em seu diário pessoal. Infelizmente foi perdido, conforme relata no livro, quando preso no 6º R.I. de Caçapava, em outubro de 1932, em razão da derrota do movimento constitucionalista. Mas a memória é impertinente, resistente, persistente. Três anos depois, suas reminiscências ocasionaram o livro “Cunha em 1932”, pela editora “Revista dos Tribunaes”, o primeiro escrito sobre Cunha e que, de fato, tornou nossa cidade e a batalha que se travou aqui famosa nos círculos sociais da metrópole piratiningana. Mas é importante reforçar que o livro é sobre o município de Cunha e as batalhas que ocorreram aqui; não é sobre os cunhenses. Cunha é só o cenário, o teatro de operações.
Sua intenção ao pôr no papel suas lembranças era revidar à apropriação política que alguns faziam do movimento. Esses, motivados por interesses pessoais e sem compromisso com a verdade, omitiam ou se inseriam na história para angariar prestígio e votos, maculando os nobres ideais que levaram milhares de jovens a partir para as trincheiras. Por isso o livro vem a lume em 1935, quando o país já gozava da democracia e a campanha partidária reconquistava as ruas e corações. Motivo da luta dos constitucionalistas, a democracia retornava; todavia com sua parte indesejada: os políticos e as negociatas de sempre.
Foi casado com Izaura Camargo Souza Castro e teve os seguintes filhos: Clelia, Luiza, Teresa, Irene e Jurandyr. Este deu o seguinte depoimento sobre seu pai: “sua vida aqui foi linda, alegre, cheia de lutas e vitórias. Cidadão íntegro que, com muita sabedoria, soube cuidar dos seus. Sempre dando exemplos de patriotismo, deixou saudades eternas. Sempre dizia: ‘Quem não cuidou da família, não teve um filho, não escreveu um livro, não plantou uma árvore e não lutou pela pátria: não deve ser considerado homem’. Que Deus o mantenha na Paz.”. Quando faleceu, em 1981, aos 84 anos de idade, deixou além de saudades e corações enlutados, filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.
A força do seu depoimento sobre o movimento encetado por S. Paulo em 1932 reside na sua conversão em objeto de análise, das ideias e ideologias que permeiam a obra e nos ajudam a entender a mentalidade da época. Seu interesse para nós: cunhenses, paulistas, democratas, brasileiros, vai muito além dos fatos e fotografias que ilustram o livro. Ali está o paulista metropolitano que já não se reconhece mais no paulista interiorano. Uma das contradições imposta pela industrialização. É o desejo da elite paulista de romper com seu passado pobre, rústico, agrário, caipira, nativista que prevalece no livro quando Clementino se refere aos cunhenses. Por isso, ao digitalizar o livro, decidi manter a grafia, o número e o conteúdo de cada página correspondendo ao original, sem nada acrescentar ou suprimir. Nem fiz qualquer nota de rodapé.
Ao Clementino, que descansa o sono dos justos, fica a minha profunda gratidão por ter trazido, com muita sinceridade, suas memórias à lume; aos que lutaram e puseram sua vida abaixo dos altos ideais que nortearam os paulistas no campo de batalha, fica minha reverencia. E a todos os cunhenses que sofreram naqueles dias difíceis, fica o meu reconhecimento.
Eles – os exércitos paulista e getulista – lutaram por suas convicções políticas, suas paixões partidárias; nós, cunhenses, lutamos para sobreviver ao inferno que essas convicções apaixonadas criaram.
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