Alguns dados biográficos de Clementino de Souza e Castro Júnior

Voluntários paulistas no front de Cunha. Da esquerda para a direita: Geraldo Nascimento e Vavá (os dois cunhenses do grupo), Clementino, Tegon e Zilcar. Foto: Acervo Gazeta de S. Paulo.

Clementino de Souza e Castro Júnior (São Paulo, 23 de julho de 1.897 – São Paulo, 22 de agosto de 1.981) era filho de Clementino de Souza e Castro e Luiza Arruda de Souza e Castro. Seu pai foi prefeito de São Paulo na transição do regime monárquico para o republicano, entre 1890 e 1891, e chegou a exercer o cargo de ministro no Tribunal de Justiça de São Paulo. O bairro de Vila Clementino, localizado no distrito de Vila Mariana em São Paulo, recebeu essa denominação em homenagem ao seu pai, gestor público de grandes realizações.

Tomando parte nos acontecimentos daquele outono e inverno de 1932, quando a cidade de São Paulo se agitava contra a ditadura de Vargas, eufemisticamente chamada de “Governo Provisório”, Clementino Júnior se alistou como voluntário, tendo sido deslocado para a “Frente Norte” (Vale do Paraíba), mais precisamente para o “Sector de Cunha”, já nos primeiros momentos da guerra civil.

Quando se alistou como voluntário nas fileiras do Exército Constitucionalista, já era casado e pai de três filhas. Esse fato o distingue de muitos, mostrando a sua devoção à causa constitucionalista. Paulista e constitucionalista.

Soldados e oficiais em um momento de folga e de pausa para a pose. Trata-se do casarão da Dona Benzinha, já demolido, que foi utilizado como Delegacia Técnica durante a Revolução de 1932. Clementino observa debruçado na janela. Foto: Museu Francisco Veloso.

Em Cunha, devido à sua formação acadêmica – engenharia civil pelo antigo Colégio Mackenzie – veio a compor o corpo técnico do Estado Maior da Praça de Cunha, quando instalada na cidade a Delegacia Técnica do Exército Constitucionalista, que funcionou no casarão que ficava na esquina da rua Dr. Casemiro da Rocha com a Praça da Matriz. O casarão foi demolido, mas um novo prédio (em proporção e estilo semelhante) foi erguido e hoje está alugado para a Caixa Econômica Federal. Como engenheiro, confeccionava os croquis e mapas bélicos. Também ficou responsável pela intendência. No acúmulo das duas funções, tendo contato direto com os anseios das trincheiras e com as resenhas da oficialidade, foi testemunha privilegiada dos acontecimentos que se desenrolaram em Cunha.

Cunha sitiada. A situação da guerra em 16 de agosto de 1932, às 18h, não era nada favorável aos paulistas. Mapa: Clementino Jr. Data: 16 ago. 1932.

Anotava tudo em seu diário pessoal. Infelizmente foi perdido, conforme relata no livro, quando preso no 6º R.I. de Caçapava, em outubro de 1932, em razão da derrota do movimento constitucionalista. Mas a memória é impertinente, resistente, persistente. Três anos depois, suas reminiscências ocasionaram o livro “Cunha em 1932”, pela editora “Revista dos Tribunaes”, o primeiro escrito sobre Cunha e que, de fato, tornou nossa cidade e a batalha que se travou aqui famosa nos círculos sociais da metrópole piratiningana. Mas é importante reforçar que o livro é sobre o município de Cunha e as batalhas que ocorreram aqui; não é sobre os cunhenses. Cunha é só o cenário, o teatro de operações.

Capa original do livro “Cunha em 1932”, lançado em 1935. Digitalização: Jacuhy.

Sua intenção ao pôr no papel suas lembranças era revidar à apropriação política que alguns faziam do movimento. Esses, motivados por interesses pessoais e sem compromisso com a verdade, omitiam ou se inseriam na história para angariar prestígio e votos, maculando os nobres ideais que levaram milhares de jovens a partir para as trincheiras. Por isso o livro vem a lume em 1935, quando o país já gozava da democracia e a campanha partidária reconquistava as ruas e corações. Motivo da luta dos constitucionalistas, a democracia retornava; todavia com sua parte indesejada: os políticos e as negociatas de sempre.

Foi casado com Izaura Camargo Souza Castro e teve os seguintes filhos: Clelia, Luiza, Teresa, Irene e Jurandyr. Este deu o seguinte depoimento sobre seu pai: “sua vida aqui foi linda, alegre, cheia de lutas e vitórias. Cidadão íntegro que, com muita sabedoria, soube cuidar dos seus. Sempre dando exemplos de patriotismo, deixou saudades eternas. Sempre dizia: ‘Quem não cuidou da família, não teve um filho, não escreveu um livro, não plantou uma árvore e não lutou pela pátria: não deve ser considerado homem’. Que Deus o mantenha na Paz.”. Quando faleceu, em 1981, aos 84 anos de idade, deixou além de saudades e corações enlutados, filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.

Clementino Jr. e sua esposa Izaura. Foto: Jurandyr Castro.

A força do seu depoimento sobre o movimento encetado por S. Paulo em 1932 reside na sua conversão em objeto de análise, das ideias e ideologias que permeiam a obra e nos ajudam a entender a mentalidade da época. Seu interesse para nós: cunhenses, paulistas, democratas, brasileiros, vai muito além dos fatos e fotografias que ilustram o livro. Ali está o paulista metropolitano que já não se reconhece mais no paulista interiorano. Uma das contradições imposta pela industrialização. É o desejo da elite paulista de romper com seu passado pobre, rústico, agrário, caipira, nativista que prevalece no livro quando Clementino se refere aos cunhenses. Por isso, ao digitalizar o livro, decidi manter a grafia, o número e o conteúdo de cada página correspondendo ao original, sem nada acrescentar ou suprimir. Nem fiz qualquer nota de rodapé.

“Cunha em 1932”: Dedicatória escrita em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, para um dos seus primos: “lembranças da nossa guerra”.

Ao Clementino, que descansa o sono dos justos, fica a minha profunda gratidão por ter trazido, com muita sinceridade, suas memórias à lume; aos que lutaram e puseram sua vida abaixo dos altos ideais que nortearam os paulistas no campo de batalha, fica minha reverencia. E a todos os cunhenses que sofreram naqueles dias difíceis, fica o meu reconhecimento.

Eles – os exércitos paulista e getulista – lutaram por suas convicções políticas, suas paixões partidárias; nós, cunhenses, lutamos para sobreviver ao inferno que essas convicções apaixonadas criaram.

Para ler ou fazer o download do livro “Cunha em 1932”, clique AQUI:

José Luiz Pasin (1939 – 2008), um intelectual iluminado

Professor José Luiz Pasin: um mestre generoso, uma mente brilhante. Foto: Centro UNISAL.

De História foi o grande professor. Entusiasmado e cativante, profundo conhecedor do tempo que passou e que, nas suas aulas, parecia nunca passar… Foi testemunha ocular de tudo que falava? Um viajante do tempo com quem tivemos a honra de conviver, aprender, absorver? Havia um “que” de magia que nos envolvia em sua exposição… Das suas aulas, a única que coisa que não trazíamos conosco eram anotações sobre o conteúdo. Não havia tempo a perder fazendo anotações, dizia o mestre. Falava com tanta propriedade e com tanto brilho nos olhos que nos arremessava em uma espécie de túnel do tempo imaginativo e nos colocava à mesa das velhas fazendas vale-paraibanas, a observar o cotidiano duro dos negros nos terreirões e o vai-e-vem dentro da Casa Grande. Eloquente em suas ideias e explanações. Democrático e cortês na escuta. Educador exímio, cativou uma geração inteira de estudantes a se apaixonar pelo seu Vale do Paraíba. E me incluo entre os tais.

Da minha janela na Roseira Velha, quando eu abro de manhã, eu faço meu diálogo com o mundo. É indiferente morar em Roseira Velha, Rio de Janeiro, Londres, Paris ou Roma; tudo é muito relativo. O que importo é o que faço no espaço onde moro; é a minha relação diária com as pessoas e com a cultura. Eu sempre digo que o meu país, antes de tudo é o Vale do Paraíba, inserido no Brasil. Estas fronteiras geográficas, estas raízes, que constituem a Serra da Mantiqueira, de um lado, e a Serra do Mar, do outro, elas impelem a minha caminhada e eu não saberia viver fora deste Vale do Paraíba“.

Pasin, em entrevista de 1987

Um vulto, um ícone a circular pelos corredores da Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, sua segunda casa. Um idealista, um sonhador, crente que foi no potencial dos jovens para construção de um mundo melhor. Mais que de Humanas, um humanista por formação e de coração. História Regional foi sua praia, além de Paraty. Mestre em História do Brasil. O Vale do Paraíba, sua pátria (dizia ele), foi mais que um objeto de pesquisa: uma causa sagrada. E dela foi sumo sacerdote por décadas. Um apologista da nossa importância, por vezes ignorada. Criador do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV), rebento que emergiu após o primeiro simpósio de história regional que promoveu, lá nos idos de 1972. Da cultura regional foi o defensor, o incentivador. Ajudou a fundar museus, arquivos públicos e a tombar imóveis, sobrados e fazendas. Ativista cultural e provocador. Um espírito inconformado e contestador, sujeito suspeito e subversivo para as autoridades que inventaram os Anos de Chumbo. Acabou preso no 5º Batalhão de Infantaria Leve de Lorena. Mas muito mais foi amado e querido. E por todos que tiveram o prazer de conhecê-lo: amigos, alunos, colegas, empresários, conhecidos e até pelos políticos.

Ruth Guimarães e Professor Pasin, dois ícones da cultura valeparaibana. Foto: Botelho Netto.

Um legítimo cavalheiro que levava luz aonde ia, com bom humor, simpatia, cordialidade. Foi ecologista quando isso ainda era novidade. Para ele, já naquele tempo, o cuidar do ambiente era uma questão ética. E olha que ninguém se preocupava com aquecimento global… Abnegado, um verdadeiro mecenas, a colocar suas posses e bens em favor das grandes causas de seu tempo e suas: luta pela preservação ambiental e pela memória e história do Vale do Paraíba. Um intelectual completo e, ao mesmo tempo, um signo de contrariedade a esse tipo, pois sempre foi uma pessoa amável e simpática.

Monarquista convicto, porque via no antigo regime fonte de legitimidade, identidade e apreço histórico. Na política foi do Partido Verde, um defensor das minorias e da socialdemocracia. Estudou o índio, o negro, os tropeiros, os pobres, a mulher, a classe média, os barões do café do Vale de ontem. Sua sociabilidade e generosidade não se restringia ao trato, também adentrava no seu campo de estudo.

“Eu fiz o curso de História nos anos 60, me formei em 1962, na Faculdade Salesiana de Lorena, considerada, na época, uma instituição universitária de renome nacional. Como acontecia nas universidades do país, havia uma necessidade de se discutir a realidade brasileira, os problemas sociais, reforma agrária, situação da classe operária, da universidade… tudo isso já repercutia aqui, na Faculdade Salesiana”.

Pasin, em entrevista de 2004

Fez da sua Fazenda Boa Vista, em Roseira, reserva ecológica e faculdade. Um espaço de educação ambiental. Procurou viver aquilo que acreditava e pregava. Coerência foi a sua marca registrada.

Zé, como era chamado, tinha luz no nome. E teve luz na vida. E mesmo mais de uma década sem ele, um feixe irradia sobre todos os que debruçam na pesquisa histórica regional, pois ainda é fonte indispensável. E de tanta luz que esparramou, iluminou uma geração inteira de jovens estudantes de História, ávidos em desvendar os meandros das circunstâncias históricas pretéritas. E esse lume não cessará tão logo.

“Eu tenho procurado ao longo da minha vida ser coerente. As coisas que eu penso, as coisas que eu digo, principalmente nas salas de aula, nos cursos que eu ministro, nas conferências, nas entrevistas e nas atitudes em relação à minha própria vida. Então, eu parto da ideia de que a minha vida é dedicada aos movimentos culturais e aos movimentos ambientalistas”.

Pasin, em entrevista de 1987

Natural de Aparecida, havia adquirido uma casa em Cunha pouco antes de morrer, vitimado por câncer. O Zé tinha a simplicidade dos caipiras e a sofisticação dos aristocratas. Queria descansar entre as montanhas e sentir o gostoso frio dos Mares de Morros. Todavia, o infortúnio não o permitiu e o nosso amigo Zé partiu. Deixando, além de muita saudade, uma vasta herança a todos nós: a imprescindível bibliografia histórica da nossa região. Lê-la é perpetuar a sua memória, honrar a sua vida de valor.

É, Zé, quero acreditar que você, agora um espírito iluminado, ainda caminha entre nós ou pela Estrada Real. Que habita, encantado, os velhos casarões que você lutou para que continuassem em pé, assombrando o descaso, a indiferença e os demolidores que se atreverem. Você sempre estará de alguma forma entre nós, com a mesma personalidade forte e presença marcante que tinha nas conversas, nos convivas, saraus, aulas, palestras, lançamentos de livros, coquetéis, conferências, escarafunchando arquivos empoeirados, criando coisas novas para preservar coisas antigas… E sempre com um largo sorriso.

José Luiz Pasin foi mais que um intelectual das letras e ideias. Engajou-se nos movimentos de preservação do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e ambiental do Vale do Paraíba. Foto: Botelho Netto.

Zé, Zé Luiz, professor Pasin, você fez História em todos os sentidos.

Com gratidão e admiração eterna, de um dos seus muitos ex-alunos.

No Centro UNISAL, de Lorena, Pasin, enquanto professor universitário, formou gerações de professores e historiadores da nossa região. Foto: Centro UNISAL – Lorena.

José Luiz Pasin (Aparecida – SP, 27 de agosto de 1939 – Guaratinguetá – SP, 11 de janeiro de 2008), foi um historiador, pedagogo, escritor, poeta, articulista e professor brasileiro. Confira abaixo um pouco da sua brilhante trajetória intelectual.

Instituições e organizações em que atuou:
Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV)
Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Centro UNISAL) – Lorena
Professor de História de escolas públicas e de colégios privados do Vale do Paraíba
Museu Frei Galvão – Guaratinguetá
Academia Paulista de História
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
Colégio Brasileiro de Genealogia
Instituto Histórico e Artístico de Paraty
Instituto Genealógico Brasileiro
União Brasileira de Escritores
Conselho Regional de Museologia do Estado de São Paulo (COREM)

Núcleo de Pesquisa Regional do Centro UNISAL
Faculdades Integradas “Teresa D’Ávila” (FATEA) – Lorena
Faculdade de Roseira (FARO) – Roseira

Revista e jornais para quem escreveu:
Revista Ângulo
Folha de São Paulo
Valeparaibano

Prêmios recebidos:
Prêmio Cultural “Eugênia Sereno” – 2001
Prêmio de História Regional – 2001

Livros e monografias (levantamento parcial) de sua autoria:
Os Ciclos Econômicos do Vale do Paraíba (1962)
Poetas de Guaratinguetá (1974)
Algumas notas para a história do Vale do Paraíba: desbravamento e povoamento (1977)

Poetas de Aparecida (1978)
O Visconde de Guaratinguetá (1979)
Guaratinguetá: tempo e memória (1983)
Vale do Paraíba: ontem e hoje (1988)

Pasin: cem anos de uma família italiana no Brasil (1988)
Panorama da Literatura do Vale do Paraíba (1995)
O Instituto de Estudos Valeparaibanos e a preservação do Patrimônio Ambiental e Cultural do Vale do Paraíba (1999)
Barões do Café: titulares do Império no Vale do Paraíba Paulista (2001)
A Jornada da Independência (2002)
O Outro Euclides: o engenheiro Euclides da Cunha no Vale do Paraíba, 1902-1903 (2002)
Vale do Paraíba: a Estrada Real, Roteiros & Caminhos (2004)
Catálogo da sala Euclides da Cunha (2005)
Vale do Paraíba: história e cultura (2007)

Fontes:
ALMEIDA, D. A. de. Seis anos sem o Prof. Pasin, um dos maiores historiadores do Vale do Paraíba, 10 jan. 2014. Disponível em: < https://unisal.br/seis-anos-sem-o-prof-pasin-um-dos-maiores-historiadores-do-vale-do-paraiba/ >. Acesso em: 29 set. 2021.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO (ALESP). Requerimento de pesar pelo falecimento de José Luiz Pasin. Autor: Deputado Aloísio Vieira. Partido: PDT. Ano: 2008. Disponível em: < https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fwww.al.sp.gov.br%2Fspl%2F2008%2F02%2FPropositura%2F11034233_775638_propositura_RequerimentodePesar_775638%255B1%255D.doc&wdOrigin=BROWSELINK >. Acesso em: 29 set. 2021.
BASTOS, M. Instituto de Estudos Valeparaibanos cuida do Patrimônio Ambiental do Vale. 2019. Disponível em: < http://unisal.br/hotsite/recicle/instituto-de-estudos-valeparaibanos-cuida-do-patrimonio-ambiental-do-vale/ >. Acesso em: 29 set. 2021.
CARLOS, E. O Prócer da História. 8 abr. 2018. Disponível em: < http://redescobrindoovale.blogspot.com/2018/04/o-procer-da-historia.html >. Acesso em: 29 set. 2021.
ENTREVISTA com José Luiz Pasin. O Lince. Ano 2, n. 20, ago. 2008. Disponível em: < http://www.jornalolince.com.br/2008/ago/entrevista/pasin.php >. Acesso em: 29 set. 2021.
INSTITUTO DE ESTUDOS VALEPARAIBANOS (IEV). Sobre. Disponível em: < http://iev.org.br/sobre >. Acesso em: 29 set. 2021.
SINDICATO DE HOTÉIS, BARES, RESTAURANTES E SIMILARES DE APARECIDA E VALE HISTÓRICO (SP) – SINHORES. Morre o Historiador José Luiz Pasin, 11 jan. 2008. Disponível em: < http://sinhoresaparecida.blogspot.com/2008/01/morre-o-historiador-jos-luiz-pasin-11.html >. Acesso em: 29 ago. 2021.

25 de setembro de 2010 – Lançamento do livro “A História de Cunha”, do professor João Veloso

O homem e a obra. Veloso tem nas mãos “A História de Cunha”. Foto: Geraldo Magela Tannús. Ano: 2010.

Há 11 anos era lançada a obra “A História de Cunha – 1600-2010 – Freguesia do Facão – A Rota da exploração das minas e abastecimento de tropas“, do professor e historiador cunhense João José de Oliveira Veloso (1945-2020), um livro que é fruto de uma vida de pesquisa. Páginas e páginas de muita informação, fatos e fontes primárias sobre a História de Cunha, antiga Freguesia do Facão.

E foi lançado em 2.010, justamente no ano em que Cunha viveu uma terrível catástrofe climática, revelando o caráter providencial do livro, pois diante do cenário de destruição que estava posto, nada mais inspirador para reconstrução do que olhar para grandeza do nosso passado.

São 496 páginas de pura história, quase sempre recheadas com fontes primárias. Fruto do amor e desprendimento de um apaixonado por Cunha: o professor João Veloso. Ele, tal como os sertanistas de outrora, explorou corredores e estantes empoeiradas dos arquivos públicos, enveredou-se por museus, inquiriu cunhenses que já se foram, averiguou obras, artigos e teses, campeou fotos e artefatos, desenterrou pilhas e pilhas de testamentos e doações de sesmarias, reconstituiu as sendas das tropas e os caminhos perdidos. Lapidou todas as informações colhidas, organizando-as e fazendo a sua interpretação. Para, finalmente, nos entregar essa obra valiosíssima. É um livro definitivo? O próprio professor Veloso, com a humildade que lhe era típica, rechaçou essa qualificação. Para ele, havia muito a ser pesquisado e muitas perguntas sem resposta na história local. Mas, convenhamos, não há mais nada de essencial a ser dito. Alguns fatos, talvez, ainda possam ser pormenorizados e ampliados, como o próprio professor João Veloso fez questão de deixar claro, quando deu uma aula pública, em 2017, na homenagem que a Câmara de Cunha lhe rendeu, na data em que foi aprovada a mudança do dia de comemoração de aniversário de Cunha para 19 de março. Essa retificação foi ancorada na pesquisa que culminou na publicação do livro “A História de Cunha (1.600 – 2.010)”, pelo professor João Veloso.

Foram mais de 40 anos de pesquisas realizadas por um professor abnegado, que não mediu esforços físicos e financeiros para trazer à lume um passado quase esquecido. Tirou o pó da grandeza do passado de Cunha, nos presenteando com a publicação. Como diz o professor José Eduardo Marques Mauro (professor do IEB-USP), o “livro patenteia o coroamento de todo um extenso e duradouro trabalho do autor, que, apresentado com esmerada publicação, assume o significado de uma autêntica dádiva ofertada à cidade e a população do município, se constituindo em um reforço ao aperfeiçoamento da identidade local e regional da população cunhense”. O professor Nelson Pesciotta (USP/UNITAU, ex-presidente do IEV), in memoriam, foi além. Para Pesciotta, o livro do professor João Veloso foi “uma certidão de nascimento para Cunha”. E foi mesmo!  Descortinou o nosso passado, situou o Cunha (Facão) no tempo e foi a primeira obra exclusiva sobre História de Cunha. E, pela sua abrangência temporal e qualidade acadêmica, é até hoje a única. Por ser insuperável, deve ser lida e consultada. Não é à toa que o professor José Eduardo disse que compreender a História de Cunha é uma forma de compreender a História do Brasil, já que na micro-história do município é possível pôr em evidência o pulsar da Nação.

O professor João Veloso foi o fundador do Centro de Cultura e Tradição de Cunha, criador e mantenedor do Museu Municipal “Francisco Veloso” e foi membro ativo do IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos). Também fez a tradução do livro “O fim de uma tradição”, do antropólogo Robert W. Shirley, obra de referência nas áreas de Sociologia e Antropologia, no que concerne ao estudo de comunidade.

A obra “A História de Cunha“, atualmente esgotada, fomentou o interesse e o debate sobre a História local, servindo de referência para outros livros e dissertações sobre Cunha que foram lançadas no último decênio. Podemos dizer ainda que são frutos dessa obra ímpar o grupo do Facebook “Memória Cunhense“, um dos maiores do Vale sobre a temática memorialista, e a retificação da data de fundação do município de Cunha (agora 19/03/1724 e não mais 20/04/1858).

Mais que um historiador, o professor João foi um defensor do patrimônio histórico e cultural cunhense, um cidadão ativo na defesa da cultura e tradições do nosso povo. Em 2008, junto com o professor José Eduardo Marques Mauro, encetou um movimento que resultou na criação do COMPHACC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Cunha), realizando o tombamento dos imóveis históricos da cidade de Cunha, estabelecendo uma área de envoltória para preservar a nossa paisagem urbana. Graças a esse tombamento, em 2018, veio o tombamento estadual, realizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), órgão do Governo de São Paulo.

O livro “A História de Cunha” não foi a sua primeira obra e não foi a última. Em 2014, lançou “A história de Zina: a saga de uma família da zona rural cunhense”, uma ficção histórica romanceada. Suas crônicas, presentes no livro “O ambiente natural cunhense” são ótimas e merecem ser relidas. Um retrato fiel do povo de Cunha, de seus modos e dilemas, com uma boa dose de sofisticada ironia. Quando partiu, no começo deste ano, tinha um livro no prelo, sobre as manifestações folclóricas do município. Torcemos pelo lançamento. Como obra póstuma e como uma forma de gratidão do povo de Cunha a quem tanto fez por nosso lugar.

Uma segunda edição da obra “História de Cunha“, revista e ampliada, vinha sendo preparada, antes do repentino e infeliz falecimento do professor João Veloso. Mas quem sabe não possa sair nos próximos anos? Em 2024, Cunha irá comemorar o seu Tricentenário. E uma segunda edição dessa obra é um presente e tanto para comemorar tão significativo jubileu. Cunha merece!

Fonte:
VELOSO, J. J. de O. A História de Cunha (1600-2010): Freguesia do Facão: A rota da exploração das minas e abastecimento das tropas. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 2010.

Obs.: Texto publicado em 25 de setembro de 2020, na página Jacuhy, do Facebook, na série “Hoje na História de Cunha”. A redação foi alterada em virtude do falecimento do professor e historiador João Veloso, em novembro de 2020.

Robert Shirley, o pesquisador americano que virou “cunheiro”

Robert Shirley esteve em Cunha, na década de 1960, para pesquisar os impactos do progresso industrial e urbano sobre a cultura e tradição local. Dessa pesquisa surgiu o livro “O fim de uma tradição“.

Robert Weaver Shirley nasceu em 11 de dezembro de 1936, na cidade de Baltimore, estado de Maryland, nos Estados Unidos da América. Era filho do Dr. Hale Forman Shirley, um típico médico caipira do Meio-Oeste americano, natural de Iowa, onde se criou e estudou. Sua mãe se chamava Mildred Weaver Shirley, nascida na mesma região de seu marido, criada em uma das muitas fazendas que compõem o estado do Illinois. Como estudante de Nutrição na Universidade de Iowa, ela conhece o jovem Hale, ainda um estudante de Medicina e seu futuro marido. Seu pai decide aprofundar sua formação e parte para Baltimore, objetivando estudar Psiquiatria Infantil na Universidade Johns Hopkins. Após a formação, quando Robert tinha apenas dois anos, os Shirley se mudam para o outro lado do país, se estabelecendo em São Francisco, Califórnia. Seu pai fora nomeado professor de Pediatria e Psiquiatria na Universidade de Stanford. Sua família se estabelece de forma definitiva na Baía de São Francisco desde então. Sua mãe veio a falecer em 1960 e seu pai em 1974. Essa proximidade familiar com a Medicina, o leva a trabalhar por vários anos como assistente de pesquisa médica em Palo Alto, Califórnia, na Universidade Stanford.

Robert Shirley graduou-se em Biologia e Antropologia na Universidade de Stanford, se mudando, posteriormente, para Nova Iorque, a fim de terminar seu doutorado na Universidade Columbia. Nessa Academia, influenciado pelo antropólogo e brasilianista Charles Wagley (1913-1991), inicia seus estudos sobre o Brasil, interesse que iria nortear toda sua carreira acadêmica e seria seu campo de pesquisa predileto e vitalício.

” Minha ligação com esta comunidade pequena [Cunha] é uma das felicidades de minha vida […] Mais uma vez, portanto, quero agradecer ao povo de Cunha por sua amizade durante doze anos”

Robert Shirley, em 1977.

Para realizar as pesquisas que culminariam em seu doutorado em Antropologia, parte para o Brasil, mais especificamente para a pequena e isolada cidade de Cunha, no extremo leste de São Paulo. Mais que uma experiência acadêmica e de pesquisa, Cunha o marcaria para sempre, como várias vezes testemunhou Shirley. Cunha foi um objeto de estudo que se transformou em um verdadeiro laboratório de experiências humanas, pessoais e solidárias para o cientista social. Aqui esteve por dois anos (1965-1966), dando continuidade às pesquisas sociais desenvolvidas na década de 1940 por Emílio Willems. Cunha foi, durante o século XX, uma espécie de cidade-laboratório dos cientistas sociais, pelo fato de ser uma comunidade isolada e que mantinha a cultura tradicional ainda intacta. Os mais importantes “estudos de comunidade” no Brasil aconteceram em nosso município. Seu interesse aqui era medir o impacto das cidades industriais paulistas sobre a pequena comunidade tradicional, cujo isolamento vinha sendo gradativamente rompido com novas estradas e novos meios de comunicação. Shirley, certa vez, afirmou que vir para Cunha era muito mais que um deslocamento no espaço, mas também um deslocamento no tempo, como se pudéssemos voltar a uma época pretérita. Sua pesquisa identifica vários sinais de ruptura na cultura tradicional, o que para ele levaria, com o passar do tempo, ao desaparecimento das manifestações folclóricas típicas do mundo rural.

O antropólogo nunca escondeu de ninguém: Cunha era sua segunda casa, depois da fria Toronto, onde tinha seu emprego. Os Veloso, segundo sua própria confissão, era sua família adotiva. Nestas paragens encontrou sua tese e novos amigos. Da relação fraternal com o inesquecível professor João Veloso (1945-2020), nasceu o Centro de Cultura e Tradição de Cunha, a tradução dos livros “O fim de uma tradição” e “Antropologia Jurídica” para o português e diversos boletins e matérias sobre a cultura e tradição local. Uma amizade intelectual que rendeu muitos frutos para Cunha e que até hoje desfrutamos. Shirley nunca se esqueceu da noite chuvosa, em janeiro de 1965, quando chegou a Cunha, após enfrentar o lamaçal que era a Estrada Cunha-Guaratinguetá e ter que pernoitar no meio do caminho. Instalou-se no “Hotel Paulista” (do Rafaello, belíssimo casarão colonial já demolido), e logo transformou a estalagem em uma espécie da sucursal da Universidade Columbia, ocupando quartos e salas e orientando ajudantes de pesquisa. Deixou Cunha um ano e meio depois com “20 quilos de material escrito e memórias infinitas”. Aproveitou o ensejo da introdução que fez ao livro “Um causo sério”, do José Velloso, em setembro de 1991, para fazer muitas confissões do seu amor a Cunha e aos amigos que aqui encontrou e sempre que pode visitou… Coisas que não cabiam na austeridade e sobriedade das publicações de suas inúmeras pesquisas, onde o distanciamento afetivo com o objeto de estudo é necessário para a credibilidade da pesquisa.

Robert Shirley, em 1966, quando estava em Cunha fazendo sua pesquisa de doutorado. Fonte: Museu Municipal Francisco Veloso.

Foi membro do corpo docente da Universidade de Toronto por mais de 27 anos, atuando na graduação e pós-graduação do curso de Antropologia, no Campus Scarborough. As disciplinas que ministrou foram: Antropologia Social e Cultural, Antropologia Econômica e Política, Escravidão Comparada e Direito e Sociedade. Além disso, também chegou a lecionar uma matéria sobre as sociedades latino-americanas, dando um curso sobre “As Américas: uma perspectiva antropológica”, com enfoque no México e no Brasil. Na pós-graduação, foi professor de Antropologia Jurídica e Metodologia e História do Pensamento Antropológico.

Já em 1988 havia se tornado o grande brasilianista do Canadá, atuando na Universidade de Toronto, abrindo as cortinas para os estudos sobre Brasil e apresentando o “país tropical abençoado por Deus” a milhares de jovens estudantes interessados pelo mundo abaixo da Linha do Equador. Realizou diversos cursos e seminários sobre o Brasil, durante muito tempo, no St. Michael’s College.

Como professor, conseguiu ministrar seus cursos em várias universidades brasileiras, tendo a oportunidade de visitar assim grande parte do país. Viajou para o Amazonas, região Nordeste, embora a maior de suas pesquisas tenha sido nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Sua área de pesquisa e atuação no ensino superior esteve ligada à Antropologia Social, matéria que lecionou em quatro universidades brasileiras. Também foi o introdutor, nas universidades brasileiras, da disciplina de Antropologia Jurídica, tendo atuado no Museu Nacional do Rio de Janeiro e na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Lecionou ainda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O Brasil foi o seu grande campo de pesquisa, conforme ele mesmo escreveu: “em 1970, comecei a me interessar pelas instituições que ligam as regiões rurais e urbanas. Passei alguns meses trabalhando em cooperativas, mas acabei me estabelecendo em uma extensa pesquisa sobre direito e instituições jurídicas no Brasil”. Início da década de 1980 estudou a cultura e as tradições gaúchas, quando era professor da UFRS. Em meados da década, ainda em Porto Alegre, junto com a professora Claudia Fonseca começa sua pesquisa sobre Antropologia Jurídica e Direito Comparado e o impacto das instituições jurídicas de uma perspectiva urbana, usando o método de estudo da comunidade. Na década de 1990, inicia os estudos sobre as favelas do Rio de Janeiro e São Paulo, fazendo comparativos sobre a organização de favelas nas diferentes cidades do Brasil. Aproveita para, nessa época, estudar as religiões afro-brasileiras enquanto força organizadora de comunidades carentes. Em 1993-1994, vive o seu ano sabático e aproveita para visitar Cunha por quatro meses. Retorna a Toronto em 1994, passando a atuar na área de Criminologia, buscando uma reforma policial e uma governança comunitária e de policiamento. No verão de 1996, retorna ao Brasil, como bolsista, para o Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP). No Brasil, pesquisou a organização jurídica local, as religiões nacionais e as organizações comunitárias.

Apaixonado por artes, literatura, dança e música (principalmente música clássica), Shirley não deixou esse hobby de fora de suas andanças acadêmicas. Do Brasil levou, quando retornou ao Canadá, uma enorme coleção de gravações brasileiras de diversos músicos e ritmos, além, claro, de uma infinidade de livros sobre nosso país, por quem nutria muito mais que um interesse de pesquisa, mas profundo afeto e respeito. Apoiou e acolheu em sua casa o coreógrafo brasileiro Newton Moraes.

Faleceu em 23 de julho de 2008, em sua residência, de forma repentina, em Toronto, aos 72 anos de idade. Já tinha se tornado professor emérito de Antropologia, na Universidade de Toronto. Ficou na lembrança dos alunos, amigos e familiares como um homem extremamente gentil. Deixou saudades em seu companheiro Newton Moraes, em seus irmãos Bill Shirley e Barbara Sierra e em seus sobrinhos Stephanie, Linda, Nicholas, Ethan, na sobrinha-neta Alexandra e em muitos amigos.

Sua obra, ainda que menos importante e impactante que a de Willems, contribuiu para a Antropologia brasileira, principalmente ao introduzir um novo campo de estudo: a Antropologia Jurídica. Para Cunha, ele foi muito mais que um pesquisador “do estrangeiro”, que só via o lugar como um objeto de pesquisa.  Virou “cunheiro” de alma e coração e deu suporte acadêmico aos movimentos culturais e de preservação histórica que brotaram na cidade após a década de 1970. Apesar de ter sido um problematizador sobre o iminente desaparecimento da cultura tradicional frente ao industrialismo paulista, foi ele um dos somaram esforços para que nossas tradições não chegassem ao fim.

Livros:

1971 – The End of a Tradition: Culture Change and Development in the Município of Cunha, São Paulo, Brazil. Columbia University Press, New York and London.

1977 – O Fim de uma Tradição (tradução de João José de Oliveira Veloso, com um prefácio à edição brasileira e um capítulo extra: “Cunha, Doze Anos Depois”), Editora Perspectiva, Série Debates, n. 141, São Paulo.

1987 – Antropologia Jurídica (tradução de João José de Oliveira Veloso), Editora Saraiva, São Paulo.

Artigos:

1962 – em parceria com A.K. Romney: “Love Magic and Socialization Anxiety: A Cross Cultural Survey,” American Anthropologist, v. 64, n. 5, out., tomo I, pp. 1028-31

1964 – com R.G. Desai: “Association of Leukemia and Blood Groups,” The Journal of Medical Genetics, vol. 2, n. 3.

1967 – “The End of a Tradition”: tese de doutoramento da Universidade de Columbia, da cidade de Nova Iorque, publicada pela Universidade Microfilms, Ann Arbor, Michigan.

1970 – “Politics and Labour Migration in Brazil: The Politics of Underemployment,” in Manpower and Economic Development, Institute of Developing Areas, McGill University, Montreal, PQ., v. 2, n. 1, pp. 45-48.

1971 – “Social and Economic Change in the Municipío of Cunha,” Ciências Econômicas e Sociais, São Paulo, v. 6, n. 2, pp. 93-101.

1973 – “Patronage and Cooperation, An Analysis from São Paulo State,” in Patronage and the Power Structure in Latin America, A. Strikon and S. Greenfield, editors; The University of New Mexico Press, Albuquerque, NM.

1978 – “Legal Institutions and Early Industrial Growth: Manchester/São Paulo,” no Stanford Journal of International Studies, v. XIII, Spring, pp. 157-176. Posteriormente publicado em livro como: Manchester and São Paulo, John Wirth, and Robert L. Jones editors, Stanford University Press, Stanford, California.

1979 – “Law in Rural Brazil” em Brazil, Anthropological Perspectives: Essays in Honor of Charles Wagley, Maxine L Margolis and William E. Carter, Editors, pp. 343-361. Columbia University Press, New York.

1987 – “A Brief Survey of Law in Brazil” em NS: The Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies, v. XII, n. 23, 1987; pp. 1-13.

1990 – “Recreating Communities: The Formation of Community in a Brazilian Shantytown,” em Urban Anthropology, v. 19, n. 3, 1990, pp. 255-276.

1991 – “A lições de Cunha” no jornal Folha de São Paulo, 9 ago. 1991, p. 10-12.

1991 – “Gaúcho Identity and Regional Nationalism, A Case Study of the Traditionalist Movement in Rio Grande do Sul, Brazil,” no Journal of Latin American Lore, #17, pp. 199-224, Journal of the Latin American Institute of U. C. L. A.

1992 – “Brazil in Toronto” no Abacaxi Times, (jornal da comunidade brasileira em Toronto): n. 8, nov. 1992, p. 7.

1992 – “Introdução ao livro de José Velloso” em SOBRINHO, José Veloso. Um Causo Sério, pp. 11-13, Centro de Cultura e Tradição de Cunha, Cunha, São Paulo.

1994 – “Brazilians in Canada” artigo da Encyclopedia of the Canadian People, publicação da Multi – Cultural History Society of Ontario, Toronto.

1995 – “A Case of Kidnapping – and a Case of Prejudice” Review of two books: “Wrong Time, Wrong place,” by Caroline Mallan and “See no Evil,” by Isabel Vincent, em The Financial Post, 20 mai. 1995, p.33

1996 – “The Moçambique and the Parabola, How Weekend Tourism is helping to Preserve Folk Traditions in Rural São Paulo, Brazil” em ANTHROPOS: 91, Berichte und Kommentare, pp. 545-551; Köln, Germany.

1997 – “Atitudes com Relação à Polícia em uma Favela do Sul do Brasil,” em Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, v. 9 – 1, mai. 1997, pp. 215-231, São Paulo.

1997 – “Faith and Freedom (a brief history of Afro-Brazilian Religion),” in The Queen’s Quarterly, inverno de 1997, pp. 690-711.

Fontes:
OBITUÁRIO de Robert W. Shirley. Disponível em: <https://www.legacy.com/obituaries/thestar/obituary.aspx?n=robert-w-shirley&pid=117514415 >. Acesso em: 23 set. 2021.
SHIRLEY, R. W. O fim de uma tradição: cultura e desenvolvimento no município de Cunha. Tradução de João José de Oliveira Veloso. São Paulo: Perspectiva, 1977.
UNIVERSITY OF TORONTO. Robert Shirley Anthropologist. Disponível em: <http://homes.chass.utoronto.ca/~rshirley/robert/index.htm >. Acesso em: 23 set. 2021.
VELLOSO SOBRINHO, J. Um causo sério. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 1992.

Livro: “Cerâmica em Cunha: 40 anos do forno noborigama no Brasil”

Mais uma obra comemorativa e publicitária sobre os ceramistas de Cunha. Produzida em 2015 e publicada em 2016 pelo Instituto Cultural da Cerâmica de Cunha (ICCC), em conjunto com a Secretaria de Turismo de Cunha, a obra segue as pegadas da publicação anterior sobre os ceramistas de Cunha, fazendo um documentário histórico, biográfico e artístico, no mesmo estilo da publicação feita na década anterior.

Capa do livro “Cerâmica em Cunha”, com textos de Liliana de Morais e fotos de Johnny Mazzilli.

Sob a coordenação artística de Laurentino Gonçalves Dias Júnior, com pesquisa e textos de Liliana Granja Pereira de Morais e belíssimas fotografias de Johnny Mazzilli, saiu mais uma obra do forno sobre a cerâmica de Cunha.

A publicação segue a mesma senda da anterior. No princípio, apresenta o testemunho de Alberto Cidraes, testemunha ocular da história em primeira pessoa, pois está entre no grupo de pioneiros. No seu relato ele deixa claro: escolheram Cunha porque ficava no eixo Rio-São Paulo e isso facilitava a comercialização das suas obras. Além do mais, foram bem recebidos pelas autoridades cunhenses: receberam um espaço para criar um ateliê coletivo. Um antigo e abandonado matadouro. Pensando bem, um “presente de grego“. Mas que no fim das contas acabou dando certo. Nenhum cavalo de Troia é suficiente para derrotar o talento.

A obra segue apontando as especificidades da cerâmica moldada e queimada em Cunha, o fogo do forno Noborigama, um estrangeiro que se adaptou bem aos trópicos, encaipirando-se por completo no coração da Paulistânia. Delineia os principais fatos históricos relacionados ao grupo de pioneiros e o contexto local. Apresenta o processo de estabelecimento dos primeiros ateliês individuais, as estratégias de comercialização artística adotadas pelos ceramistas, a necessidade de alavancar o turismo em Cunha, feito em que foram bem-sucedidos. Trata do Noborigama, o ícone, e expõe os processos criativos de uma peça cerâmica, da retirada da argila até a queima.

Há, como na obra anterior, breves biografias dos ceramistas de Cunha, com foto deles e de suas criações. Uma forma de mostrar a pluralidade de concepções artísticas que apresenta a cerâmica de Cunha atualmente e também de apresentar muitos filhos da terra, jovens que ingressaram na cerâmica e hoje já produzem e expõem suas peças. Eis o legado da cerâmica, eis o legado o Instituto Cultural de Cerâmica de Cunha (ICCC)

A novidade nessa obra é mesmo o ICCC , um instituto pedagógico que teve o instinto de perceber a importância de formar uma nova leva de ceramistas locais, focando nos mais jovens, nos estudantes, para aqueles que Cunha oferece tão poucas oportunidades. A criação desse instituto demonstra a responsabilidade social dos ceramistas e amor que nutrem pela nossa terra; terra em um sentido muito mais amplo do que fonte de argila. Terra como torrão, como chão, como lar, como pátria. O legado para Cunha será mais riquíssimo porque já está sendo e dando resultados. O epílogo é uma esperança, um sonho. E tudo se fecha em um glossário.

O livro pode ser lido on-line.

Livro “30 anos de cerâmica em Cunha”

Livro comemorativo sobre os 30 anos da chegada dos primeiros ceramistas a Cunha, produzido pelos protagonistas Mieko Ukeseki e Alberto Cidraes e com o apoio da CunhaTur e da Prefeitura de Cunha. A obra saiu em 2005, “Ano da Cerâmica em Cunha“, comemorado em função das três décadas passadas desde a instalação do primeiro forno Noborigama na Estância Climática.

Capa do livro editado e produzido sob a coordenação da ceramista Mieko Ukeseki.

O livro é um documentário sobre a cerâmica de alta temperatura desenvolvida em Cunha. Traz um relato histórico, com fotos e detalhes da chegada do primeiro grupo ceramistas, a introdução do forno oriental Noborigama (icônico) as razões de terem vindo parar aqui, uma das “cidades mortas” do Vale do Paraíba e a instalação do primeiro ateliê coletivo, no antigo e decrépito Matadouro Municipal, espaço cedido ao grupo de nômades (em processo de sedentarização) pelo ex-prefeito Zelão. Os progressos artísticos e experimentais de cada ceramista, culminando na conquista de novos espaços, com as aberturas de fornada, gérmen do turismo cunhense.

Há também uma breve biografia dos vários ceramistas instalados em Cunha no ano de 2005, apresentando juntamente algumas fotografias de peças artísticas produzidas pelas mãos, imaginação e sensibilidade talentosa de cada um. E não se esqueceram das paneleiras de Cunha. Mulheres hábeis no trato da argila, produtoras de peças utilitárias, cujo saber, transmitido de forma hereditária, remonta à ancestralidade dos povos originários.

Enfim, um interessante e necessário documentário, demonstrando como a “cidade morta” e barroca, perdida entre três cordilheiras, se transforma no maior polo da América do Sul de cerâmica de autor.

O livro pode ser lido on-line.