José Luiz Pasin (1939 – 2008), um intelectual iluminado

Professor José Luiz Pasin: um mestre generoso, uma mente brilhante. Foto: Centro UNISAL.

De História foi o grande professor. Entusiasmado e cativante, profundo conhecedor do tempo que passou e que, nas suas aulas, parecia nunca passar… Foi testemunha ocular de tudo que falava? Um viajante do tempo com quem tivemos a honra de conviver, aprender, absorver? Havia um “que” de magia que nos envolvia em sua exposição… Das suas aulas, a única que coisa que não trazíamos conosco eram anotações sobre o conteúdo. Não havia tempo a perder fazendo anotações, dizia o mestre. Falava com tanta propriedade e com tanto brilho nos olhos que nos arremessava em uma espécie de túnel do tempo imaginativo e nos colocava à mesa das velhas fazendas vale-paraibanas, a observar o cotidiano duro dos negros nos terreirões e o vai-e-vem dentro da Casa Grande. Eloquente em suas ideias e explanações. Democrático e cortês na escuta. Educador exímio, cativou uma geração inteira de estudantes a se apaixonar pelo seu Vale do Paraíba. E me incluo entre os tais.

Da minha janela na Roseira Velha, quando eu abro de manhã, eu faço meu diálogo com o mundo. É indiferente morar em Roseira Velha, Rio de Janeiro, Londres, Paris ou Roma; tudo é muito relativo. O que importo é o que faço no espaço onde moro; é a minha relação diária com as pessoas e com a cultura. Eu sempre digo que o meu país, antes de tudo é o Vale do Paraíba, inserido no Brasil. Estas fronteiras geográficas, estas raízes, que constituem a Serra da Mantiqueira, de um lado, e a Serra do Mar, do outro, elas impelem a minha caminhada e eu não saberia viver fora deste Vale do Paraíba“.

Pasin, em entrevista de 1987

Um vulto, um ícone a circular pelos corredores da Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, sua segunda casa. Um idealista, um sonhador, crente que foi no potencial dos jovens para construção de um mundo melhor. Mais que de Humanas, um humanista por formação e de coração. História Regional foi sua praia, além de Paraty. Mestre em História do Brasil. O Vale do Paraíba, sua pátria (dizia ele), foi mais que um objeto de pesquisa: uma causa sagrada. E dela foi sumo sacerdote por décadas. Um apologista da nossa importância, por vezes ignorada. Criador do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV), rebento que emergiu após o primeiro simpósio de história regional que promoveu, lá nos idos de 1972. Da cultura regional foi o defensor, o incentivador. Ajudou a fundar museus, arquivos públicos e a tombar imóveis, sobrados e fazendas. Ativista cultural e provocador. Um espírito inconformado e contestador, sujeito suspeito e subversivo para as autoridades que inventaram os Anos de Chumbo. Acabou preso no 5º Batalhão de Infantaria Leve de Lorena. Mas muito mais foi amado e querido. E por todos que tiveram o prazer de conhecê-lo: amigos, alunos, colegas, empresários, conhecidos e até pelos políticos.

Ruth Guimarães e Professor Pasin, dois ícones da cultura valeparaibana. Foto: Botelho Netto.

Um legítimo cavalheiro que levava luz aonde ia, com bom humor, simpatia, cordialidade. Foi ecologista quando isso ainda era novidade. Para ele, já naquele tempo, o cuidar do ambiente era uma questão ética. E olha que ninguém se preocupava com aquecimento global… Abnegado, um verdadeiro mecenas, a colocar suas posses e bens em favor das grandes causas de seu tempo e suas: luta pela preservação ambiental e pela memória e história do Vale do Paraíba. Um intelectual completo e, ao mesmo tempo, um signo de contrariedade a esse tipo, pois sempre foi uma pessoa amável e simpática.

Monarquista convicto, porque via no antigo regime fonte de legitimidade, identidade e apreço histórico. Na política foi do Partido Verde, um defensor das minorias e da socialdemocracia. Estudou o índio, o negro, os tropeiros, os pobres, a mulher, a classe média, os barões do café do Vale de ontem. Sua sociabilidade e generosidade não se restringia ao trato, também adentrava no seu campo de estudo.

“Eu fiz o curso de História nos anos 60, me formei em 1962, na Faculdade Salesiana de Lorena, considerada, na época, uma instituição universitária de renome nacional. Como acontecia nas universidades do país, havia uma necessidade de se discutir a realidade brasileira, os problemas sociais, reforma agrária, situação da classe operária, da universidade… tudo isso já repercutia aqui, na Faculdade Salesiana”.

Pasin, em entrevista de 2004

Fez da sua Fazenda Boa Vista, em Roseira, reserva ecológica e faculdade. Um espaço de educação ambiental. Procurou viver aquilo que acreditava e pregava. Coerência foi a sua marca registrada.

Zé, como era chamado, tinha luz no nome. E teve luz na vida. E mesmo mais de uma década sem ele, um feixe irradia sobre todos os que debruçam na pesquisa histórica regional, pois ainda é fonte indispensável. E de tanta luz que esparramou, iluminou uma geração inteira de jovens estudantes de História, ávidos em desvendar os meandros das circunstâncias históricas pretéritas. E esse lume não cessará tão logo.

“Eu tenho procurado ao longo da minha vida ser coerente. As coisas que eu penso, as coisas que eu digo, principalmente nas salas de aula, nos cursos que eu ministro, nas conferências, nas entrevistas e nas atitudes em relação à minha própria vida. Então, eu parto da ideia de que a minha vida é dedicada aos movimentos culturais e aos movimentos ambientalistas”.

Pasin, em entrevista de 1987

Natural de Aparecida, havia adquirido uma casa em Cunha pouco antes de morrer, vitimado por câncer. O Zé tinha a simplicidade dos caipiras e a sofisticação dos aristocratas. Queria descansar entre as montanhas e sentir o gostoso frio dos Mares de Morros. Todavia, o infortúnio não o permitiu e o nosso amigo Zé partiu. Deixando, além de muita saudade, uma vasta herança a todos nós: a imprescindível bibliografia histórica da nossa região. Lê-la é perpetuar a sua memória, honrar a sua vida de valor.

É, Zé, quero acreditar que você, agora um espírito iluminado, ainda caminha entre nós ou pela Estrada Real. Que habita, encantado, os velhos casarões que você lutou para que continuassem em pé, assombrando o descaso, a indiferença e os demolidores que se atreverem. Você sempre estará de alguma forma entre nós, com a mesma personalidade forte e presença marcante que tinha nas conversas, nos convivas, saraus, aulas, palestras, lançamentos de livros, coquetéis, conferências, escarafunchando arquivos empoeirados, criando coisas novas para preservar coisas antigas… E sempre com um largo sorriso.

José Luiz Pasin foi mais que um intelectual das letras e ideias. Engajou-se nos movimentos de preservação do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e ambiental do Vale do Paraíba. Foto: Botelho Netto.

Zé, Zé Luiz, professor Pasin, você fez História em todos os sentidos.

Com gratidão e admiração eterna, de um dos seus muitos ex-alunos.

No Centro UNISAL, de Lorena, Pasin, enquanto professor universitário, formou gerações de professores e historiadores da nossa região. Foto: Centro UNISAL – Lorena.

José Luiz Pasin (Aparecida – SP, 27 de agosto de 1939 – Guaratinguetá – SP, 11 de janeiro de 2008), foi um historiador, pedagogo, escritor, poeta, articulista e professor brasileiro. Confira abaixo um pouco da sua brilhante trajetória intelectual.

Instituições e organizações em que atuou:
Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV)
Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Centro UNISAL) – Lorena
Professor de História de escolas públicas e de colégios privados do Vale do Paraíba
Museu Frei Galvão – Guaratinguetá
Academia Paulista de História
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
Colégio Brasileiro de Genealogia
Instituto Histórico e Artístico de Paraty
Instituto Genealógico Brasileiro
União Brasileira de Escritores
Conselho Regional de Museologia do Estado de São Paulo (COREM)

Núcleo de Pesquisa Regional do Centro UNISAL
Faculdades Integradas “Teresa D’Ávila” (FATEA) – Lorena
Faculdade de Roseira (FARO) – Roseira

Revista e jornais para quem escreveu:
Revista Ângulo
Folha de São Paulo
Valeparaibano

Prêmios recebidos:
Prêmio Cultural “Eugênia Sereno” – 2001
Prêmio de História Regional – 2001

Livros e monografias (levantamento parcial) de sua autoria:
Os Ciclos Econômicos do Vale do Paraíba (1962)
Poetas de Guaratinguetá (1974)
Algumas notas para a história do Vale do Paraíba: desbravamento e povoamento (1977)

Poetas de Aparecida (1978)
O Visconde de Guaratinguetá (1979)
Guaratinguetá: tempo e memória (1983)
Vale do Paraíba: ontem e hoje (1988)

Pasin: cem anos de uma família italiana no Brasil (1988)
Panorama da Literatura do Vale do Paraíba (1995)
O Instituto de Estudos Valeparaibanos e a preservação do Patrimônio Ambiental e Cultural do Vale do Paraíba (1999)
Barões do Café: titulares do Império no Vale do Paraíba Paulista (2001)
A Jornada da Independência (2002)
O Outro Euclides: o engenheiro Euclides da Cunha no Vale do Paraíba, 1902-1903 (2002)
Vale do Paraíba: a Estrada Real, Roteiros & Caminhos (2004)
Catálogo da sala Euclides da Cunha (2005)
Vale do Paraíba: história e cultura (2007)

Fontes:
ALMEIDA, D. A. de. Seis anos sem o Prof. Pasin, um dos maiores historiadores do Vale do Paraíba, 10 jan. 2014. Disponível em: < https://unisal.br/seis-anos-sem-o-prof-pasin-um-dos-maiores-historiadores-do-vale-do-paraiba/ >. Acesso em: 29 set. 2021.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO (ALESP). Requerimento de pesar pelo falecimento de José Luiz Pasin. Autor: Deputado Aloísio Vieira. Partido: PDT. Ano: 2008. Disponível em: < https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fwww.al.sp.gov.br%2Fspl%2F2008%2F02%2FPropositura%2F11034233_775638_propositura_RequerimentodePesar_775638%255B1%255D.doc&wdOrigin=BROWSELINK >. Acesso em: 29 set. 2021.
BASTOS, M. Instituto de Estudos Valeparaibanos cuida do Patrimônio Ambiental do Vale. 2019. Disponível em: < http://unisal.br/hotsite/recicle/instituto-de-estudos-valeparaibanos-cuida-do-patrimonio-ambiental-do-vale/ >. Acesso em: 29 set. 2021.
CARLOS, E. O Prócer da História. 8 abr. 2018. Disponível em: < http://redescobrindoovale.blogspot.com/2018/04/o-procer-da-historia.html >. Acesso em: 29 set. 2021.
ENTREVISTA com José Luiz Pasin. O Lince. Ano 2, n. 20, ago. 2008. Disponível em: < http://www.jornalolince.com.br/2008/ago/entrevista/pasin.php >. Acesso em: 29 set. 2021.
INSTITUTO DE ESTUDOS VALEPARAIBANOS (IEV). Sobre. Disponível em: < http://iev.org.br/sobre >. Acesso em: 29 set. 2021.
SINDICATO DE HOTÉIS, BARES, RESTAURANTES E SIMILARES DE APARECIDA E VALE HISTÓRICO (SP) – SINHORES. Morre o Historiador José Luiz Pasin, 11 jan. 2008. Disponível em: < http://sinhoresaparecida.blogspot.com/2008/01/morre-o-historiador-jos-luiz-pasin-11.html >. Acesso em: 29 ago. 2021.

As três humanidades

Por Mário Ferreira dos Santos *

A Torre de Babel, pintura de Pieter Bruegel, o Velho (1563). Fonte: Wikimedia.

A civilização é a metrópole. Cada vez cresce mais a separação entre os metropolitanos e os provincianos. Enquanto estes continuam a ser os guardiões das culturas, aqueles aniquilam-se na morte das ideias, que substituem por brilhos de moeda falsa. Estamos numa época de decadência, porque se instaura definitivamente no mundo, mais uma vez, o predomínio inconteste das metrópoles.

São elas que falam em nome dos povos. Paris é a França; Berlim é a Alemanha; Londres, a Inglaterra, e Nova Iorque, os Estados Unidos.

São essas cidades os oráculos dos povos e apontam os destinos das nações. No entanto, nelas existe a depressão de todos os valores do homem. E é por isso que elas são o primeiro capítulo da decadência.

A separação entre o metropolitano e o provinciano é crescente, repito. Podemos distingui-los pelos seguintes caracteres que ressalto, no metropolitano: cinismo, desinteresse pelos grandes problemas interrogativos do homem; ausência da dúvida; espírito folgazão; jargão cheio de molequismo como meio de linguagem; falta constante do espírito de conservadorismo, sob qualquer aspecto; necessidade imprescindível de encher o vazio interior com divertimentos mais violentos, excitantes mais rápidos; pouca elegância nas maneiras; tendência para o chiste, para o humor, o trocadilho; tendência às exterioridades, manifesta mais intensamente na busca do vestiário; pretensão de superioridade sobre o provinciano que lhe serve de motivo de ridículo, sobretudo quanto às virtudes que este possui e que são olhadas pelo metropolitano como reminiscências de épocas anteriores que ele julga já ultrapassadas; aumento do esquerdismo nas massas; na arte é atraído pelo temporal, pelo passageiro, pelo epidérmico; não compreende mais arte pela arte; dissociação dos sentimentos nobres que eles os eiva de interesses e de lucros próximos; ausência do heroísmo desinteressado; gosto pela literatura leve, pelo romance em vez do ensaio, pela novela em vez do estudo; ausência de ideais excelsos, substituídos pelas ânsias de vitórias materiais; volubilidade crescente; radicalização às ruas: “Tenho asfalto na alma … ” ; nova concepção utilitária do amor; transformação do casamento em companheirismo; transformação do sentido provinciano da mulher; tendência para maior liberdade sexual ; aumento da neurastenia e doenças nervosas; modificação degenerativa de todos os sentimentos; diminuição do sentido do destino, do signo, para incremento do sentido de causalidade; redução dos instintos por uma padronização consciente normativa de um “modus-vivendi”; maior tensão e vigília na vida; mais vazio nas almas; artificialização crescente da vida e da criação consciente; predomínio da moda, que segue num ritmo cada vez mais rápido; instalação do provisório em suas construções e obras de arquitetura e consequente espírito de “moda”, na arte, com o envelhecimento precoce dos seus ídolos; instalação de crenças variadas, com codificações de cunho típico metropolitano; maior ingenuidade na aceitação dos fatos e nos divertimentos; maior atração pela luz e pelo movimento; mais crescente o sentido de morte nas obras humanas metropolitanas, que trazem sempre o gérmem da destruição; completa ausência do sentido de reversibilidade do tempo, consciência mais forte da hora que passa, do segundo que passa; gosto pelas coisas “exquises”, instauração da música de sons vitais e do ritmo mais sexual; predominância no consciente dos problemas de ordem sexual; aumento do “taedium vitae”; maior fixação íntima da cidade que nunca abandona o metropolitano, mesmo quando ausente dela; instalação do herói citadino, de brilho rápido, que se salienta por qualquer realização provisória como esportistas, políticos, locutores de rádio, aviadores, etc; maior desagregação dos elementos raciais, para dar nascimento a um tipo comum; ausência de espiritualismo, com crescente desenvolvimento de doutrinas de fundo causal, científico; divinização do dinheiro em contraposição ao sentido econômico rural dos bens; infecundidade física e espiritual; ausência de angústia quando se vê o último de sua família, sem possibilidade de perpetuação; redução da natalidade, ao princípio como consequência de ordem econômica, finalmente formando o espírito do homem citadino; redução do instinto maternal das mulheres, que passam bruscamente da meninice para a maturidade; ausência do brinquedo ingênuo, infantil; espírito emancipativo das mulheres; uniformização da urbanística metropolitana, entre si, entre as grandes cidades; a música, a literatura, e a pintura e a escultura, assumem um caráter profissional; ausência do estilo e instalação do gosto; desaparecimento dos costumes para dar lugar às maneiras de comportamento; desaparecimento do traje popular pela influência de uma moda variável; ânsia de imposição do estilo metropolitano sobre as partes ainda não conquistadas; ânsia de imposição de formas genéricas para o domínio no mundo inteiro; aumento crescente do agnosticismo como atitude filosófica, como posição mais fácil para enfrentar as grandes e eternas perguntas; a originalidade como signo de decadência; nas metrópoles, na ânsia de originalidade, “Os homens excelsos não são originais”.

Justifico por final o título: três humanidades.

A primeira é a da província, a segunda, a das metrópoles, e a terceira a que há de vir, após a grande transmutação do mundo, após a grande carnificina.

Fonte:
FERREIRA DOS SANTOS, Mário. Páginas várias. 2. ed. São Paulo: Logos, 1963, pp. 106-108.
(Coleção Antologia da Literatura Mundial)

* Mário Dias Ferreira dos Santos (Tietê, 3 de janeiro de 1907 – São Paulo, 11 de abril de 1968) foi um filósofo, tradutor e escritor brasileiro. Traduziu obras de diversos autores e escreveu livros sobre diversos temas, publicados sob o nome Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais. Ele também desenvolveu seu próprio sistema, nomeado de Filosofia Concreta. Um dos poucos estudiosos brasileiros do chamado anarquismo cristão, tendo sido ativo participante do Centro de Cultura Social, um dos mais importantes núcleos anarquistas de São Paulo da primeira metade do século XX. Era autodidata e dono de uma enorme erudição. Para saber mais sobre o filósofo clique aqui.

Jacuhy cria canal no YouTube

Visual do canal do Jacuhy. Aguardamos vocês por lá.

A História de Cunha precisa ser divulgada em todas as mídias sociais e em todos os formatos possíveis. A disseminação de informações relevantes sobre a história e geografia cunhense é uma das missões do Jacuhy. É preciso alcançar todos os públicos, sobretudo os mais jovens. E também aqueles que já concluíram seus estudos. Nunca é tarde para aprender mais um pouco. E nunca é cedo para começar a aprender. O Jacuhy tem se orientado por essas premissas e por outras no mesmo sentido desde quando fez sua primeira postagem, lá em 2016. É preciso explorar ou fazer acontecer a função pedagógica das redes sociais.

E, considerando todas essas coisas, o Jacuhy resolveu criar um canal no YouTube, maior rede social mundial de conteúdo audiovisual. A priori, porque o WordPress (a plataforma deste blog) não fornece suporte para inserção de vídeo nos posts. Pelo menos não no plano que dispomos. Também não permite a inserção de vídeo já postado no Facebook, via código ou link, por exemplo. Todavia, permite a inserção de vídeo já postado no YouTube. Menos mal. Algumas postagens podem ser enriquecidas com vídeos, além de fotos e links, que já são habituais por aqui.

Já subimos um vídeo com fotografias antigas de Cunha por lá, inclusive. Veja abaixo.

É claro que a produção de vídeos específicos sobre a história e geografia cunhense é o nosso desejo para o futuro. Com a criação do canal, abre-se um leque de oportunidades a serem exploradas, visando sempre a divulgação de Cunha, com finalidade pedagógica. Assim esperamos e tentaremos fazer; dentro das nossas limitações e apesar delas.

Caso tenha conta por lá, se inscreva em nosso canal, clicando aqui. Ou entrando pelo link abaixo:
https://www.youtube.com/channel/UCa7xRrUeSi4krfGDgRt6fPg

Um grande abraço e muito obrigado por nos seguir e divulgar.

25 de setembro de 2010 – Lançamento do livro “A História de Cunha”, do professor João Veloso

O homem e a obra. Veloso tem nas mãos “A História de Cunha”. Foto: Geraldo Magela Tannús. Ano: 2010.

Há 11 anos era lançada a obra “A História de Cunha – 1600-2010 – Freguesia do Facão – A Rota da exploração das minas e abastecimento de tropas“, do professor e historiador cunhense João José de Oliveira Veloso (1945-2020), um livro que é fruto de uma vida de pesquisa. Páginas e páginas de muita informação, fatos e fontes primárias sobre a História de Cunha, antiga Freguesia do Facão.

E foi lançado em 2.010, justamente no ano em que Cunha viveu uma terrível catástrofe climática, revelando o caráter providencial do livro, pois diante do cenário de destruição que estava posto, nada mais inspirador para reconstrução do que olhar para grandeza do nosso passado.

São 496 páginas de pura história, quase sempre recheadas com fontes primárias. Fruto do amor e desprendimento de um apaixonado por Cunha: o professor João Veloso. Ele, tal como os sertanistas de outrora, explorou corredores e estantes empoeiradas dos arquivos públicos, enveredou-se por museus, inquiriu cunhenses que já se foram, averiguou obras, artigos e teses, campeou fotos e artefatos, desenterrou pilhas e pilhas de testamentos e doações de sesmarias, reconstituiu as sendas das tropas e os caminhos perdidos. Lapidou todas as informações colhidas, organizando-as e fazendo a sua interpretação. Para, finalmente, nos entregar essa obra valiosíssima. É um livro definitivo? O próprio professor Veloso, com a humildade que lhe era típica, rechaçou essa qualificação. Para ele, havia muito a ser pesquisado e muitas perguntas sem resposta na história local. Mas, convenhamos, não há mais nada de essencial a ser dito. Alguns fatos, talvez, ainda possam ser pormenorizados e ampliados, como o próprio professor João Veloso fez questão de deixar claro, quando deu uma aula pública, em 2017, na homenagem que a Câmara de Cunha lhe rendeu, na data em que foi aprovada a mudança do dia de comemoração de aniversário de Cunha para 19 de março. Essa retificação foi ancorada na pesquisa que culminou na publicação do livro “A História de Cunha (1.600 – 2.010)”, pelo professor João Veloso.

Foram mais de 40 anos de pesquisas realizadas por um professor abnegado, que não mediu esforços físicos e financeiros para trazer à lume um passado quase esquecido. Tirou o pó da grandeza do passado de Cunha, nos presenteando com a publicação. Como diz o professor José Eduardo Marques Mauro (professor do IEB-USP), o “livro patenteia o coroamento de todo um extenso e duradouro trabalho do autor, que, apresentado com esmerada publicação, assume o significado de uma autêntica dádiva ofertada à cidade e a população do município, se constituindo em um reforço ao aperfeiçoamento da identidade local e regional da população cunhense”. O professor Nelson Pesciotta (USP/UNITAU, ex-presidente do IEV), in memoriam, foi além. Para Pesciotta, o livro do professor João Veloso foi “uma certidão de nascimento para Cunha”. E foi mesmo!  Descortinou o nosso passado, situou o Cunha (Facão) no tempo e foi a primeira obra exclusiva sobre História de Cunha. E, pela sua abrangência temporal e qualidade acadêmica, é até hoje a única. Por ser insuperável, deve ser lida e consultada. Não é à toa que o professor José Eduardo disse que compreender a História de Cunha é uma forma de compreender a História do Brasil, já que na micro-história do município é possível pôr em evidência o pulsar da Nação.

O professor João Veloso foi o fundador do Centro de Cultura e Tradição de Cunha, criador e mantenedor do Museu Municipal “Francisco Veloso” e foi membro ativo do IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos). Também fez a tradução do livro “O fim de uma tradição”, do antropólogo Robert W. Shirley, obra de referência nas áreas de Sociologia e Antropologia, no que concerne ao estudo de comunidade.

A obra “A História de Cunha“, atualmente esgotada, fomentou o interesse e o debate sobre a História local, servindo de referência para outros livros e dissertações sobre Cunha que foram lançadas no último decênio. Podemos dizer ainda que são frutos dessa obra ímpar o grupo do Facebook “Memória Cunhense“, um dos maiores do Vale sobre a temática memorialista, e a retificação da data de fundação do município de Cunha (agora 19/03/1724 e não mais 20/04/1858).

Mais que um historiador, o professor João foi um defensor do patrimônio histórico e cultural cunhense, um cidadão ativo na defesa da cultura e tradições do nosso povo. Em 2008, junto com o professor José Eduardo Marques Mauro, encetou um movimento que resultou na criação do COMPHACC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Cunha), realizando o tombamento dos imóveis históricos da cidade de Cunha, estabelecendo uma área de envoltória para preservar a nossa paisagem urbana. Graças a esse tombamento, em 2018, veio o tombamento estadual, realizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), órgão do Governo de São Paulo.

O livro “A História de Cunha” não foi a sua primeira obra e não foi a última. Em 2014, lançou “A história de Zina: a saga de uma família da zona rural cunhense”, uma ficção histórica romanceada. Suas crônicas, presentes no livro “O ambiente natural cunhense” são ótimas e merecem ser relidas. Um retrato fiel do povo de Cunha, de seus modos e dilemas, com uma boa dose de sofisticada ironia. Quando partiu, no começo deste ano, tinha um livro no prelo, sobre as manifestações folclóricas do município. Torcemos pelo lançamento. Como obra póstuma e como uma forma de gratidão do povo de Cunha a quem tanto fez por nosso lugar.

Uma segunda edição da obra “História de Cunha“, revista e ampliada, vinha sendo preparada, antes do repentino e infeliz falecimento do professor João Veloso. Mas quem sabe não possa sair nos próximos anos? Em 2024, Cunha irá comemorar o seu Tricentenário. E uma segunda edição dessa obra é um presente e tanto para comemorar tão significativo jubileu. Cunha merece!

Fonte:
VELOSO, J. J. de O. A História de Cunha (1600-2010): Freguesia do Facão: A rota da exploração das minas e abastecimento das tropas. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 2010.

Obs.: Texto publicado em 25 de setembro de 2020, na página Jacuhy, do Facebook, na série “Hoje na História de Cunha”. A redação foi alterada em virtude do falecimento do professor e historiador João Veloso, em novembro de 2020.

Robert Shirley, o pesquisador americano que virou “cunheiro”

Robert Shirley esteve em Cunha, na década de 1960, para pesquisar os impactos do progresso industrial e urbano sobre a cultura e tradição local. Dessa pesquisa surgiu o livro “O fim de uma tradição“.

Robert Weaver Shirley nasceu em 11 de dezembro de 1936, na cidade de Baltimore, estado de Maryland, nos Estados Unidos da América. Era filho do Dr. Hale Forman Shirley, um típico médico caipira do Meio-Oeste americano, natural de Iowa, onde se criou e estudou. Sua mãe se chamava Mildred Weaver Shirley, nascida na mesma região de seu marido, criada em uma das muitas fazendas que compõem o estado do Illinois. Como estudante de Nutrição na Universidade de Iowa, ela conhece o jovem Hale, ainda um estudante de Medicina e seu futuro marido. Seu pai decide aprofundar sua formação e parte para Baltimore, objetivando estudar Psiquiatria Infantil na Universidade Johns Hopkins. Após a formação, quando Robert tinha apenas dois anos, os Shirley se mudam para o outro lado do país, se estabelecendo em São Francisco, Califórnia. Seu pai fora nomeado professor de Pediatria e Psiquiatria na Universidade de Stanford. Sua família se estabelece de forma definitiva na Baía de São Francisco desde então. Sua mãe veio a falecer em 1960 e seu pai em 1974. Essa proximidade familiar com a Medicina, o leva a trabalhar por vários anos como assistente de pesquisa médica em Palo Alto, Califórnia, na Universidade Stanford.

Robert Shirley graduou-se em Biologia e Antropologia na Universidade de Stanford, se mudando, posteriormente, para Nova Iorque, a fim de terminar seu doutorado na Universidade Columbia. Nessa Academia, influenciado pelo antropólogo e brasilianista Charles Wagley (1913-1991), inicia seus estudos sobre o Brasil, interesse que iria nortear toda sua carreira acadêmica e seria seu campo de pesquisa predileto e vitalício.

” Minha ligação com esta comunidade pequena [Cunha] é uma das felicidades de minha vida […] Mais uma vez, portanto, quero agradecer ao povo de Cunha por sua amizade durante doze anos”

Robert Shirley, em 1977.

Para realizar as pesquisas que culminariam em seu doutorado em Antropologia, parte para o Brasil, mais especificamente para a pequena e isolada cidade de Cunha, no extremo leste de São Paulo. Mais que uma experiência acadêmica e de pesquisa, Cunha o marcaria para sempre, como várias vezes testemunhou Shirley. Cunha foi um objeto de estudo que se transformou em um verdadeiro laboratório de experiências humanas, pessoais e solidárias para o cientista social. Aqui esteve por dois anos (1965-1966), dando continuidade às pesquisas sociais desenvolvidas na década de 1940 por Emílio Willems. Cunha foi, durante o século XX, uma espécie de cidade-laboratório dos cientistas sociais, pelo fato de ser uma comunidade isolada e que mantinha a cultura tradicional ainda intacta. Os mais importantes “estudos de comunidade” no Brasil aconteceram em nosso município. Seu interesse aqui era medir o impacto das cidades industriais paulistas sobre a pequena comunidade tradicional, cujo isolamento vinha sendo gradativamente rompido com novas estradas e novos meios de comunicação. Shirley, certa vez, afirmou que vir para Cunha era muito mais que um deslocamento no espaço, mas também um deslocamento no tempo, como se pudéssemos voltar a uma época pretérita. Sua pesquisa identifica vários sinais de ruptura na cultura tradicional, o que para ele levaria, com o passar do tempo, ao desaparecimento das manifestações folclóricas típicas do mundo rural.

O antropólogo nunca escondeu de ninguém: Cunha era sua segunda casa, depois da fria Toronto, onde tinha seu emprego. Os Veloso, segundo sua própria confissão, era sua família adotiva. Nestas paragens encontrou sua tese e novos amigos. Da relação fraternal com o inesquecível professor João Veloso (1945-2020), nasceu o Centro de Cultura e Tradição de Cunha, a tradução dos livros “O fim de uma tradição” e “Antropologia Jurídica” para o português e diversos boletins e matérias sobre a cultura e tradição local. Uma amizade intelectual que rendeu muitos frutos para Cunha e que até hoje desfrutamos. Shirley nunca se esqueceu da noite chuvosa, em janeiro de 1965, quando chegou a Cunha, após enfrentar o lamaçal que era a Estrada Cunha-Guaratinguetá e ter que pernoitar no meio do caminho. Instalou-se no “Hotel Paulista” (do Rafaello, belíssimo casarão colonial já demolido), e logo transformou a estalagem em uma espécie da sucursal da Universidade Columbia, ocupando quartos e salas e orientando ajudantes de pesquisa. Deixou Cunha um ano e meio depois com “20 quilos de material escrito e memórias infinitas”. Aproveitou o ensejo da introdução que fez ao livro “Um causo sério”, do José Velloso, em setembro de 1991, para fazer muitas confissões do seu amor a Cunha e aos amigos que aqui encontrou e sempre que pode visitou… Coisas que não cabiam na austeridade e sobriedade das publicações de suas inúmeras pesquisas, onde o distanciamento afetivo com o objeto de estudo é necessário para a credibilidade da pesquisa.

Robert Shirley, em 1966, quando estava em Cunha fazendo sua pesquisa de doutorado. Fonte: Museu Municipal Francisco Veloso.

Foi membro do corpo docente da Universidade de Toronto por mais de 27 anos, atuando na graduação e pós-graduação do curso de Antropologia, no Campus Scarborough. As disciplinas que ministrou foram: Antropologia Social e Cultural, Antropologia Econômica e Política, Escravidão Comparada e Direito e Sociedade. Além disso, também chegou a lecionar uma matéria sobre as sociedades latino-americanas, dando um curso sobre “As Américas: uma perspectiva antropológica”, com enfoque no México e no Brasil. Na pós-graduação, foi professor de Antropologia Jurídica e Metodologia e História do Pensamento Antropológico.

Já em 1988 havia se tornado o grande brasilianista do Canadá, atuando na Universidade de Toronto, abrindo as cortinas para os estudos sobre Brasil e apresentando o “país tropical abençoado por Deus” a milhares de jovens estudantes interessados pelo mundo abaixo da Linha do Equador. Realizou diversos cursos e seminários sobre o Brasil, durante muito tempo, no St. Michael’s College.

Como professor, conseguiu ministrar seus cursos em várias universidades brasileiras, tendo a oportunidade de visitar assim grande parte do país. Viajou para o Amazonas, região Nordeste, embora a maior de suas pesquisas tenha sido nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Sua área de pesquisa e atuação no ensino superior esteve ligada à Antropologia Social, matéria que lecionou em quatro universidades brasileiras. Também foi o introdutor, nas universidades brasileiras, da disciplina de Antropologia Jurídica, tendo atuado no Museu Nacional do Rio de Janeiro e na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Lecionou ainda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O Brasil foi o seu grande campo de pesquisa, conforme ele mesmo escreveu: “em 1970, comecei a me interessar pelas instituições que ligam as regiões rurais e urbanas. Passei alguns meses trabalhando em cooperativas, mas acabei me estabelecendo em uma extensa pesquisa sobre direito e instituições jurídicas no Brasil”. Início da década de 1980 estudou a cultura e as tradições gaúchas, quando era professor da UFRS. Em meados da década, ainda em Porto Alegre, junto com a professora Claudia Fonseca começa sua pesquisa sobre Antropologia Jurídica e Direito Comparado e o impacto das instituições jurídicas de uma perspectiva urbana, usando o método de estudo da comunidade. Na década de 1990, inicia os estudos sobre as favelas do Rio de Janeiro e São Paulo, fazendo comparativos sobre a organização de favelas nas diferentes cidades do Brasil. Aproveita para, nessa época, estudar as religiões afro-brasileiras enquanto força organizadora de comunidades carentes. Em 1993-1994, vive o seu ano sabático e aproveita para visitar Cunha por quatro meses. Retorna a Toronto em 1994, passando a atuar na área de Criminologia, buscando uma reforma policial e uma governança comunitária e de policiamento. No verão de 1996, retorna ao Brasil, como bolsista, para o Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP). No Brasil, pesquisou a organização jurídica local, as religiões nacionais e as organizações comunitárias.

Apaixonado por artes, literatura, dança e música (principalmente música clássica), Shirley não deixou esse hobby de fora de suas andanças acadêmicas. Do Brasil levou, quando retornou ao Canadá, uma enorme coleção de gravações brasileiras de diversos músicos e ritmos, além, claro, de uma infinidade de livros sobre nosso país, por quem nutria muito mais que um interesse de pesquisa, mas profundo afeto e respeito. Apoiou e acolheu em sua casa o coreógrafo brasileiro Newton Moraes.

Faleceu em 23 de julho de 2008, em sua residência, de forma repentina, em Toronto, aos 72 anos de idade. Já tinha se tornado professor emérito de Antropologia, na Universidade de Toronto. Ficou na lembrança dos alunos, amigos e familiares como um homem extremamente gentil. Deixou saudades em seu companheiro Newton Moraes, em seus irmãos Bill Shirley e Barbara Sierra e em seus sobrinhos Stephanie, Linda, Nicholas, Ethan, na sobrinha-neta Alexandra e em muitos amigos.

Sua obra, ainda que menos importante e impactante que a de Willems, contribuiu para a Antropologia brasileira, principalmente ao introduzir um novo campo de estudo: a Antropologia Jurídica. Para Cunha, ele foi muito mais que um pesquisador “do estrangeiro”, que só via o lugar como um objeto de pesquisa.  Virou “cunheiro” de alma e coração e deu suporte acadêmico aos movimentos culturais e de preservação histórica que brotaram na cidade após a década de 1970. Apesar de ter sido um problematizador sobre o iminente desaparecimento da cultura tradicional frente ao industrialismo paulista, foi ele um dos somaram esforços para que nossas tradições não chegassem ao fim.

Livros:

1971 – The End of a Tradition: Culture Change and Development in the Município of Cunha, São Paulo, Brazil. Columbia University Press, New York and London.

1977 – O Fim de uma Tradição (tradução de João José de Oliveira Veloso, com um prefácio à edição brasileira e um capítulo extra: “Cunha, Doze Anos Depois”), Editora Perspectiva, Série Debates, n. 141, São Paulo.

1987 – Antropologia Jurídica (tradução de João José de Oliveira Veloso), Editora Saraiva, São Paulo.

Artigos:

1962 – em parceria com A.K. Romney: “Love Magic and Socialization Anxiety: A Cross Cultural Survey,” American Anthropologist, v. 64, n. 5, out., tomo I, pp. 1028-31

1964 – com R.G. Desai: “Association of Leukemia and Blood Groups,” The Journal of Medical Genetics, vol. 2, n. 3.

1967 – “The End of a Tradition”: tese de doutoramento da Universidade de Columbia, da cidade de Nova Iorque, publicada pela Universidade Microfilms, Ann Arbor, Michigan.

1970 – “Politics and Labour Migration in Brazil: The Politics of Underemployment,” in Manpower and Economic Development, Institute of Developing Areas, McGill University, Montreal, PQ., v. 2, n. 1, pp. 45-48.

1971 – “Social and Economic Change in the Municipío of Cunha,” Ciências Econômicas e Sociais, São Paulo, v. 6, n. 2, pp. 93-101.

1973 – “Patronage and Cooperation, An Analysis from São Paulo State,” in Patronage and the Power Structure in Latin America, A. Strikon and S. Greenfield, editors; The University of New Mexico Press, Albuquerque, NM.

1978 – “Legal Institutions and Early Industrial Growth: Manchester/São Paulo,” no Stanford Journal of International Studies, v. XIII, Spring, pp. 157-176. Posteriormente publicado em livro como: Manchester and São Paulo, John Wirth, and Robert L. Jones editors, Stanford University Press, Stanford, California.

1979 – “Law in Rural Brazil” em Brazil, Anthropological Perspectives: Essays in Honor of Charles Wagley, Maxine L Margolis and William E. Carter, Editors, pp. 343-361. Columbia University Press, New York.

1987 – “A Brief Survey of Law in Brazil” em NS: The Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies, v. XII, n. 23, 1987; pp. 1-13.

1990 – “Recreating Communities: The Formation of Community in a Brazilian Shantytown,” em Urban Anthropology, v. 19, n. 3, 1990, pp. 255-276.

1991 – “A lições de Cunha” no jornal Folha de São Paulo, 9 ago. 1991, p. 10-12.

1991 – “Gaúcho Identity and Regional Nationalism, A Case Study of the Traditionalist Movement in Rio Grande do Sul, Brazil,” no Journal of Latin American Lore, #17, pp. 199-224, Journal of the Latin American Institute of U. C. L. A.

1992 – “Brazil in Toronto” no Abacaxi Times, (jornal da comunidade brasileira em Toronto): n. 8, nov. 1992, p. 7.

1992 – “Introdução ao livro de José Velloso” em SOBRINHO, José Veloso. Um Causo Sério, pp. 11-13, Centro de Cultura e Tradição de Cunha, Cunha, São Paulo.

1994 – “Brazilians in Canada” artigo da Encyclopedia of the Canadian People, publicação da Multi – Cultural History Society of Ontario, Toronto.

1995 – “A Case of Kidnapping – and a Case of Prejudice” Review of two books: “Wrong Time, Wrong place,” by Caroline Mallan and “See no Evil,” by Isabel Vincent, em The Financial Post, 20 mai. 1995, p.33

1996 – “The Moçambique and the Parabola, How Weekend Tourism is helping to Preserve Folk Traditions in Rural São Paulo, Brazil” em ANTHROPOS: 91, Berichte und Kommentare, pp. 545-551; Köln, Germany.

1997 – “Atitudes com Relação à Polícia em uma Favela do Sul do Brasil,” em Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, v. 9 – 1, mai. 1997, pp. 215-231, São Paulo.

1997 – “Faith and Freedom (a brief history of Afro-Brazilian Religion),” in The Queen’s Quarterly, inverno de 1997, pp. 690-711.

Fontes:
OBITUÁRIO de Robert W. Shirley. Disponível em: <https://www.legacy.com/obituaries/thestar/obituary.aspx?n=robert-w-shirley&pid=117514415 >. Acesso em: 23 set. 2021.
SHIRLEY, R. W. O fim de uma tradição: cultura e desenvolvimento no município de Cunha. Tradução de João José de Oliveira Veloso. São Paulo: Perspectiva, 1977.
UNIVERSITY OF TORONTO. Robert Shirley Anthropologist. Disponível em: <http://homes.chass.utoronto.ca/~rshirley/robert/index.htm >. Acesso em: 23 set. 2021.
VELLOSO SOBRINHO, J. Um causo sério. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 1992.

Entrevista com a Drª. Vania Zaccaro de Oliveira

A delegada Dr.ª Vania de Oliveira, fundadora do grupo “Memória Cunhense”. Foto: jornal “O Vale”.

Foi uma grata notícia para todos nós, quando em 2013, ficamos sabendo que a nova delegada da Delegacia de Polícia de Cunha era gente daqui. Pela primeira vez a cidade teria um delegado do lugar. E seria a Vania do “Nerso do Pó”, do dono da fábrica de torrefação de café Vicunha. Pronto! Já tínhamos a ficha completa da pessoa e os antecedentes todos, pois em Cunha ninguém é anônimo, todo mundo é “fio” de alguém, neto de outrem,… Assim, mais do que um processo genealógico, podemos fazer suposições sobre a estirpe da pessoa. Coisa nossa. E a da Vania era a melhor possível. Seus pais (Nércio & Cinira) foram conhecidíssimos e queridíssimos por todos.  E para completar, a Vania já chegou com a fama feita: seu ótimo trabalho em São Luiz do Paraitinga tinha extrapolado as fronteiras, repercutindo em Cunha, para orgulho nosso. E em Cunha não foi diferente. Fez um excelente trabalho combatendo o crime na cidade e na nossa extensa zona rural. Promovida, teve que partir. Mas antes criou o maior grupo de memória coletiva do Vale, o “Memória Cunhense”, sucesso de audiência e postagens entre os “cunheiros”. Fruto do seu amor à terra e ao povo de Cunha. Sua terra! Ainda que por um fortuito geográfico tenha nascido em Guaratinguetá, cidade em que trabalha e reside atualmente. Mas ninguém duvida que seja uma cunhense de alma e coração. Nós conhecemos os nossos.

Mesmo morando aqui do lado, Vania revela que pretende voltar, após se aposentar, para a terra onde seu “umbigo está enterrado”.

No dia 9 de setembro deste ano, a Dr.ª Vania Idalira Zaccaro de Oliveira, gentilmente, concedeu uma entrevista ao Jacuhy, que publicamos abaixo.

Jacuhy: Em 2012 você teve a ideia de criar um grupo “Memória Cunhense”, hoje um sucesso total e um dos maiores grupos virtuais de história e memória da nossa região. Como aconteceu? O que motivou você a criar o grupo? E como você vê hoje, nove anos depois, os resultados e as colaborações recebidas pelo grupo?

Vania: Acessando as redes sociais, percebi que alguns de meus amigos virtuais, em algumas oportunidades, publicavam fotografias antigas de familiares. Essas fotos, além de serem muito comentadas, despertavam meu interesse, seja pelo fato de dar um rosto para um cunhense, ilustre ou não, ou ainda pelo fato de que algumas dessas fotos apresentavam como pano de fundo uma construção antiga ou uma paisagem, que permitia reconstruir, pelo menos na minha imaginação, como seria fazer parte daquele momento importante da história de alguém ou mesmo a configuração arquitetônica ou paisagística de Cunha. A partir de então, passei a consultar algumas pessoas que demonstravam interesse pela parte histórica, dentre eles Victor Amato e o Efraim, os quais foram unânimes em incentivar a ideia de juntar todo esse material disperso em vários perfis e agrupá-los em um grupo, para que ficassem acessíveis para qualquer pessoa, sendo que os membros também poderiam alimentar com qualquer documento ou fotografia importante de sua família. É importante ressaltar que, em razão do isolamento de Cunha, por um longo período, não tivemos grande quantidade de registros fotográficos e, os poucos que foram feitos, em grande parte, pertenciam a cunhenses que deixaram a cidade em busca de uma vida melhor; assim, poderiam compartilhar de onde estivessem.

Outro detalhe importante é que o grupo pretendia dar visibilidade àquelas pessoas que, embora não tivessem destaque social ou ocupassem cargos importantes, faziam parte do imaginário do povo cunhense por diversas razões, particularidades ou qualidades. Essas fotografias são as mais raras e, não por coincidência, são as mais visualizadas e inspiram os membros do grupo a tecerem seus comentários. Foi dessa forma que conheci o Zé Varda, o Ignácio Bebiano dos Reis, o Dr. Casemiro da Rocha, a D. Benzinha, a Lenice Amato, dentre tantos outros.

Hoje, passados 9 anos, entendo que o grupo segue firme, com mais de 8000 membros e mais de 4000 registros fotográficos, documentais, jornalísticos e literários. Esse farto material o torna apto à realização de pesquisas por estudantes ou apenas curiosos.

“Nós, cunhenses, temos um grande desafio que é dar visibilidade e destaque à cultura, às tradições, aos costumes que nos dão o sentido como cidade. É importante que os jovens tenham a dimensão desses valores e sintam-se interessados em discorrer e pesquisar sobre o assunto, registrando as histórias que ainda não foram contadas…”

Vania Zaccaro, sobre o desafio que a sociedade cunhense tem para com sua própria história, após a partida do professor João Veloso

Jacuhy: Ano passado perdemos o professor João Veloso, grande incentivador da história e cultura local. Para você, que se interessa por essas questões, quais são os desafios que Cunha precisa enfrentar nessas áreas, agora sem a presença do professor João Veloso?

Vania: O falecimento do Professor João Veloso é uma perda imensurável. Foi meu professor no ensino médio e meu interesse na história de Cunha se deve ao seu trabalho. Eu acho, inclusive, que a história de Cunha se divide em antes de João Veloso e depois de João Veloso. Antes houve uma literatura com relação a nossa história, mais específica para trabalhos acadêmicos, feita por renomados estudiosos, importantíssima, mas nada que se compare com o livro “A História de Cunha”, escrito pelo professor João Veloso. Pela profundidade, pelo cuidado na pesquisa e pelo olhar apaixonado de um cunhense que dedicou sua vida para resgatar tudo que nos é caro.

Com a morte do professor, acho que nós, cunhenses, temos um grande desafio que é dar visibilidade e destaque à cultura, às tradições, aos costumes que nos dão o sentido como cidade. É importante que os jovens tenham a dimensão desses valores e sintam-se interessados em discorrer e pesquisar sobre o assunto, registrando as histórias que ainda não foram contadas, para que não pereçam.

Jacuhy: Você foi delegada em São Luiz do Paraitinga, município vizinho de Cunha, e que tem uma postura muita ativa e propositiva na preservação da história e cultural do lugar. O que tem em São Luiz que não tem em Cunha? Podemos aprender algo com os nossos vizinhos?

Vania: Tive a grata satisfação de exercer minhas funções, por 9 anos, no município de São Luiz do Paraitinga, cidade que me acolheu e me honrou com o título de cidadã luizense. Os luizenses são as pessoas mais orgulhosas de sua cidade que eu conheci. Eles amam seus casarões, a música, as tradições, a história e principalmente a cultura caipira, sendo reconhecidos como o do “último reduto caipira do estado”. Esses valores fizeram com que eles resistissem às inovações e preservassem seu patrimônio arquitetônico e imaterial, mantendo-o o mais fiel possível. Em Cunha, faltou essa consciência de preservação. A arquitetura colonial foi considerada ultrapassada e algumas casas foram demolidas para se construir prédios modernos. Essa desconsideração influencia todo o resto.  Vejo um certo distanciamento da população em geral com tudo que é relativo a esses bens, materiais e imateriais, fazendo com que sobrevivam graças a esforços de alguns abnegados, que resistem para defendê-los.

Jacuhy: Você passou a infância em Cunha e nossa cidade viveu muitas mudanças nos últimos anos. Quais são suas recordações desse período? Há algumas personagens que você recordaria? Há algo que nossa cidade perdeu e que devia resgatar?

Vania: Eu vivi em Cunha desde meu nascimento até os 34 anos, quando tive que sair para assumir cargo público. Embora a cidade fosse bem diferente, para mim era perfeita. Somente tenho boas lembranças, de momentos felizes, de amizades sinceras, de acolhimento, de empatia e solidariedade. Embora não professasse a fé católica (venho de uma família metodista), participava das festas religiosas, procissões, missas e isso foi superimportante para minha formação. Viver nessa época tinha um sentido mágico. Lembro, com muitas saudades, dos caminhões leiteiros, que transportavam as pessoas e tudo que conseguiam carregar: frangos, queijos, frutas e hortaliças, ovos e flores, no dia de Finados. Essas flores eram de todos os tipos, copos-de-leite, hortênsias, palmas de Santa Rita, lírios brancos, rosas, dálias etc. As pessoas, com toda dificuldade de locomoção, deixavam suas casas e iam até o cemitério para prestar homenagens aos seus antepassados e o cemitério ficava pequeno para tanto movimento. As músicas tocadas eram apenas sacras e religiosas e todos estavam tristes e comovidos. Também me marcava muito a Sexta-Feira da Paixão, onde os pecuaristas doavam toda a sua produção leiteira para quem quisesse aproveitar. O leite retirado das vacas, nesse dia triste, não poderia ser vendido. Hoje, tudo é muito diferente.

Jacuhy: Entre os seus interesses em nossa História, Vânia, você é uma das que mais destacam a nossa memória degustativa e a importância dela para nossa identidade. Por que você gosta de destacar essa questão? Há algum motivo pessoal por trás? E quais pratos e iguarias cunhenses que poderiam, segundo sua opinião, se tornarem patrimônio cultural imaterial de Cunha, já que os municípios de nossa região estão fazendo um resgate nesse sentido?

Vania: Essa memória degustativa faz parte do processo de reconhecimento da identidade do lugar. O afogado está para São Luiz do Paraitinga, como o bolinho de arroz está para Cunha. Qual cunhense que comendo um bolinho de arroz não lembrará das festas religiosas? As comidas típicas fazem parte dos rituais e por isso a preservação desses costumes mantém a essência da tradição. Eu acho que poderíamos pensar em reivindicar o bolinho de arroz como patrimônio imaterial de Cunha, para que pudesse ser produzido e experimentado pelos turistas.

Jacuhy: Você fez um bom trabalho quando esteve em Cunha, recebendo o reconhecimento da sociedade cunhense. Pretende voltar para Cunha ainda exercendo a sua profissão ou só depois de se aposentar? Ou não pretende mais retornar para cá?

Vania: Obrigada por sua generosidade em avaliar meu trabalho. Por três anos tive a honra de prestar serviços na minha cidade e, em razão de uma evolução na carreira, somos obrigados assumir maiores responsabilidades em cidades maiores. Entretanto, a aposentadoria se aproxima e, assim que conseguir, voltarei para onde meu umbigo está enterrado.

“Qual cunhense que comendo um bolinho de arroz não lembrará das festas religiosas? As comidas típicas fazem parte dos rituais e por isso a preservação desses costumes mantém a essência da tradição. Eu acho que poderíamos pensar em reivindicar o bolinho de arroz como patrimônio imaterial de Cunha, para que pudesse ser produzido e experimentado pelos turistas”

Vania Zaccaro, sobre a necessidade de ampliar o conjunto de bens do patrimônio cultural cunhense

Jacuhy: Vânia, você deixa muito claro em nossas conversas e nas suas postagens que, entre suas paixões, estão a História, as histórias e os causos de Cunha. Pretende escrever um livro sobre o assunto? Ou mesmo um livro sobre Cunha?

Vania: É apenas uma pretensão distante. Aposentada, teria um tempo maior para me dedicar a esses assuntos importantes e ajudar com ideias e pesquisas. Penso que existem vários cunhenses brilhantes que devem ter guardado poesias, contos, crônicas e histórias e, quem sabe, poderíamos fazer uma coletânea e editar alguma coisa. São apenas ilações de uma cunhense apaixonada por sua terra.

Jacuhy: Muito obrigado por sua entrevista e colaboração com a nossa página e blog.

Vania: Por nada. Eu é que agradeço a sua consideração.


Entrevista concedida por mensagem, pela Drª. Vania Idalira Zaccaro de Oliveira, para a página e blog Jacuhy.
Data: 09 de setembro de 2021.

15 de setembro de 1785 – Cunha conquista sua independência política

Arte ilustrativa sobre a separação territorial que se fez em 1.785. Cunha desmembrava de Guaratinguetá e se tornava vila e município. Fonte: Jacuhy. Série: Hoje na História de Cunha

Em 15 de setembro de 1.785, a Freguesia de Nª. Sª. da Conceição do Facão se emancipava politicamente da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, constituindo-se a partir de então em município. Mudou de status e também de nome, passando a se denominar Vila de Nossa Senhora da Conceição de Cunha, uma homenagem ao Governador da província de São Paulo na época, Capitão-General Francisco da Cunha e Meneses, o que sugere que o nobre militar português teve um papel decisivo no processo que culminou em nossa independência política e administrativa, que – certamente – sofreu forte oposição da elite guaratinguetaense, que não queria a secessão de uma de suas mais prósperas freguesias. Como uma vila do Estado do Brasil, colônia ultramar do Reino de Portugal, a elite cunhense foi incumbida de construir a Câmara, composta pelos “homens bons” (isto é, os ricos) e responsável pela administração da vila (o cargo de prefeito é invencionice republicana), a Cadeia Pública e o Pelourinho, símbolo do domínio português. Assim, estaria composta a organização do poder local, necessário para o funcionamento da vila dentro do sistema colonial. No Auto de Ereção da Vila de Cunha consta como motivos da criação da nova vila a numerosa população (para época) e a grande distância de Guaratinguetá, que dificultava o funcionamento da Justiça e do Governo Civil na Freguesia do Facão.

Antigo sobrado onde funcionava a Câmara, Fórum, Cadeia Pública (no térreo) e Prefeitura (com o advento do regime republicano). O velho sobrado, erguido no final do século XVIII, com grossas paredes de taipa de pilão, foi consumido por um incêndio criminoso em 1.961, levando consigo toda a documentação histórica de Cunha. Condenado e em ruínas, foi demolido. Hoje, no local, há a Delegacia de Polícia de Cunha. Foto: Arquivo do Museu Municipal Francisco Veloso. Data: década de 1.940.

O Auto de Ereção da Vila de Cunha foi muito celebrado pelos cunhenses. Assim que foi lido pelas autoridades, foi levado à Igreja Matriz, onde ficou exposto em frente ao Santíssimo Sacramento, sendo abençoado pelo vigário da paróquia. Toda a elite agrária se fez presente, juntamente com demais membros da sociedade local. A emancipação foi recebida com grande contentamento por todos.

Segundo pesquisa de VELOSO (2010), as autoridades constituídas da Vila de Cunha em 1.791 eram: Antonio José de Macedo – JUIZ ORDINÁRIO; José Borges dos Santos – VEREADOR; Antonio Monteiro de Gouvêa – VEREADOR; e Luiz Manoel de Andrade – PROCURADOR.

Cunha foi a primeiro município a se desmembrar de Guaratinguetá e será seguida por Lorena, três anos depois, em 1.788. Ao todo foram dezesseis desmembramentos (consequentes e subsequentes) da Vila originária. Os últimos municípios a se desmembrarem do que foi o antigo território da Vila de S. Antônio de Guaratinguetá foram Potim e Arapeí (de Bananal), ambos em 1.991.

Recentemente, em 2.017, após várias audiências públicas, a Câmara de Cunha retificou a data de aniversário do município, abandonando o tradicional 20 abril, e adotando o 19 de março como data festiva, alusão à fundação do município, tomando como marco a construção da Capela de Jesus, Maria e José da Boa Vista, em 1.724. A retificação da celebração anual vinha sendo concitada pelo professor João Veloso em artigos publicados no “Jornal da Montanha” desde o início da década de 2.010. Entretanto, a sugestão só vai ganhar força após o aparecimento do grupo “Memória Cunhense”, no Facebook. Ali, em meio as postagens de fotos e fatos, a ideia vai repercutir e ganhar apoiadores, desejosos que o equívoco histórico fosse sanado. No começo do ano de 2.017, o professor, músico e historiador Victor Amato dos Santos tomaria a frente das audiências públicas, subsidiado e apoiado pelo próprio professor Veloso, explanando as razões e a necessidade da retificação da data de comemoração. O 15 de setembro de 1.785, data da emancipação política-administrativa, evento comemorado de praxe em outros municípios, será preterido em virtude do 19 de março de 1.724, data adotada como fundação do município. Houve quem discordasse desta data e preferisse aquela, porém a maioria da edilidade votou favorável à retificação para o dia 19 de março. O Projeto de Lei foi sancionado pelo Executivo Municipal, na íntegra, vigorando desde então.

Fontes:
Fundação SEADE. Desmembramento dos Municípios Paulistas. Disponível em: http://www.seade.gov.br/visualizacao/desmembramentosp/. Acesso em 13 de set. de 2019.
VELOSO, J. J. de O. A História de Cunha: 1600-2010. pp. 274-277.

Postagem feita originalmente na página Jacuhy, em 15 set. 2019, na série “Hoje na História de Cunha”.