O terremoto de Cunha – 22 de março de 1967

O outono tinha acabado de começar. Um dos verões mais chuvosos da história foi aquele da temporada de 1966/1967, no Sudeste Brasileiro. A cidade de Caraguatatuba foi uma das atingidas por tanta precipitação, com deslizamentos que provocaram a morte de 450 pessoas, devastando a cidade do litoral norte paulista. Cunha, muito embora não tenha sofrido, também viveu uma temporada chuvosa. O Paraíba do Sul extravasava, inundando as cidades do seu Vale.

Tudo começou com um estrondo. Trovão? Impossível, o tempo estava bom naquele 22 de março de 1967. Em seguida, o tremor. Panelas areadas e penduradas tilintando. Quadros caindo. Paredes trincando. A água na bacia de banho começou a se mexer. Não durou mais que 3 segundos, mas o susto foi grande. Como disseram: “parecia uma vertigem, uma tontura”. Não, não era vertigem. Era a crosta terrestre se acomodando. Passava das 21h30 da noite de uma quarta-feira e as famílias de Cunha já se preparavam para ir deitar-se. Muitos foram dormir com medo e sem entender nada.

Exceto na cidade. Relata o jornalista da Folha de São Paulo: “Em Cunha repetiu-se a história [de outras cidades do Vale]: o estouro, que ninguém sabe explicar, o tremor e depois a cidade em pânico”. A Polícia Militar teve que intervir para garantir “a ordem” e botar o povo, com medo, para dentro de casa.

Intensidade

Manchete do jornal Folha de São Paulo noticiando o ocorrido, 23 mar. 1967. Fonte: Acervo Folha.

No dia seguinte, pela manhã, o rádio anunciou: “a terra tremeu no Vale do Paraíba”. O epicentro foi em Cunha. Os sismógrafos da USP mediram o sismo e foi aferida uma magnitude de 4,1 na escala Richter. Em aspectos gerais, um tremor ligeiro, de baixa intensidade; mas para os padrões brasileiros, cuja estrutura se assenta no interior da placa tectônica Sulamericana, é muito. Na Escala de Mercalli-Sieberg, o sismo de Cunha foi classificado na intensidade VII, ou seja, “Muito forte”, com os seguintes efeitos perceptíveis: “Caem muitas chaminés. Há estragos limitados em edifícios de boa construção, mas importantes e generalizados nas construções mais frágeis. Facilmente perceptível pelos condutores de veículos automóveis em trânsito. Desencadeia pânico geral nas populações”.

O sismógrafo do Observatório Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro, registrou o tremor às 21h13, com uma duração de 80 segundos. A população carioca também sentiu o abalo.

O abalo foi sentido em outras cidades: Caraguatatuba, Ubatuba, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena, Lagoinha, Paraibuna, São Luiz do Paraitinga, Paraty, São Sebastião, Ilhabela, Angra dos Reis, Barra Mansa e até na cidade do Rio de Janeiro (de forma menos intensa), como mencionado acima. A população das cidades atingidas pelo abalo ficou apavorada e saiu pelas ruas, principalmente em São Luiz do Paraitinga, Ubatuba e Caraguatatuba, a ponto da polícia precisar intervir para acalmar os ânimos. Coube ao professor de Geologia da USP Viktor Leinz explicar o fenômeno e afastar o temor e o possível nexo entre a chuvarada e o tremor. Explicou que esses fenômenos são raros no Brasil e, quando ocorrem, são de baixa intensidade, causando estragos pequenos. E que são frutos da ação de agentes internos, de forças que agem no interior da Terra, sem relação com a atmosfera e a precipitação elevada do verão de 1967. Em seu livro “Geologia Geral”, ele explica que o estrondo ouvido antes do terremoto se deve a uma refração da onda sísmica, que acontece em terra, no ar, propagando assim uma onda na atmosfera em um comprimento perceptível à audição humana.

Causa

Perfil Geológico da Rodovia Paulo Virgínio – SP -171, mostrando as zonas de cisalhamento entre Guaratinguetá e Cunha. Fonte: Dissertação “O complexo embu no leste do estado de São Paulo: contribuição ao conhecimento da litoestratigrafia e da evolução estrutural e metamórfica”, de Amélia João Fernandes, USP, 1991.

O geólogo e professor do Departamento de Geologia, Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), da Unesp em Rio Claro, José Alexandre Perinotto, explica que os terremotos, também conhecidos como abalos sísmicos, podem ser ocasionados por atividade vulcânica, falhas geológicas ou pelo encontro de placas tectônicas. No caso do tremor de terra que teve seu epicentro em Cunha, a causa foi falha geológica (fratura na crosta terrestre). Onde há falha, é possível ocorrer novas quebras, dependendo de fatores como o peso, distensão e compressão exercido sobre ela.

O município de Cunha, segundo a geofísica Amélia João Fernandes, é atravessado por três zonas de cisalhamento de falhas geológicas: “Alto da Fartura”, “Santa Rita” e a megafalha “Cubatão”. Perinotto explica que “zonas de cisalhamento são regiões da crosta terrestre nas quais existem um acúmulo de falhas geológicas. São zonas que podem sofrer esse movimento de cisalhar, ou seja, um bloco se deslocar em relação ao outro. Então, essas zonas de cisalhamento têm tudo a ver com os terremotos. Isso porque é ao longo do deslocamento dos planos de falhas que há o dispêndio da energia e, consequentemente, causa-se a vibração, que é o abalo sísmico. Nós chamamos de zona de rifts cenozóicos do sudeste brasileiro. Essa zona é bastante propícia para causar esse abalo e vai continuar causando outros em diferentes magnitudes e intensidades.”

Parte do Mapa Geológico esquemático da Rodovia Paulo Virgínio – SP -171, com destaque (acrescentado) para as zonas de cisalhamento entre Guaratinguetá e e para a cidade de Cunha. Fonte: Dissertação “O complexo embu no leste do estado de São Paulo: contribuição ao conhecimento da litoestratigrafia e da evolução estrutural e metamórfica”, de Amélia João Fernandes, USP, 1991.


Consequências
Além do pânico generalizado na cidade, o abalo sísmico causou muitos estragos, porém, nenhuma vítima fatal ou ferido.

Tanto na zona rural quanto na zona urbana rachaduras apareceram nas paredes das casas e quadros foram derrubados. A região mais atingida pelo terremoto foi o eixo Cunha-Guaratinguetá. No local denominado “Descanso do Machado”, uma árvore de 15 metros foi arrancada do solo. Uma fenda de cerca de 40 centímetros abriu-se no chão. Portão, cercas e varais foram arrancados.


Pela intensidade incomum, lembra Jesus Berrocal, geofísico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), o sismo de Cunha serviu de referência para a construção da usina nuclear Angra I, em Angra dos Reis (RJ). Em operação desde 1982, a usina é resistente a um tremor da magnitude daquele que teve seu epicentro Cunha, em 1967, e desliga-se automaticamente, caso o sismo ultrapasse a margem de segurança do projeto (4,1 na escala Richter).

Conclusão
“Não existem locais estáveis. Tudo está se movendo”, diz pesquisador Alloua Saadi, responsável pelo primeiro mapa neotectônico do Brasil, identificando as 48 falhas mestras (principais) que cortam o solo do país. Quem pensa que o Brasil está livre dos terremotos está enganado. Ainda mais o município de Cunha, que é cortado por 3 falhas geológicas. Entretanto, não há razão para alarme. Se acontecer de novo um abalo sísmico em Cunha, vamos levar mais susto do que prejuízo.

Referências:
Geologia Geral, Viktor Leinz e Sérgio E. do Amaral (2003)
O Complexo Embu no leste do estado de São Paulo, Dissertação de Mestrado (USP), Amélia J. O. Fernandes (1991)
O Estado de S. Paulo (1967)
Folha de São Paulo (1967)
Correio da Manhã (1967)
Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2014)
Jornal da UNESP (2023)

Censo 2022 aponta crescimento da população de Cunha

Contrariando as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dos últimos anos, a população de Cunha voltou a crescer. Foram recenseados 22.125 habitantes em todo o município em 2022, durante a realização do Censo. Esse dado foi divulgado pelo IBGE no dia 28 de dezembro de 2022. Trata-se de uma prévia da população de todos os municípios com base nos dados coletados pelo Censo Demográfico 2022 até o dia 25 de dezembro do ano de 2022. A divulgação tem como objetivo cumprir a lei que determina que cabe ao IBGE fornecer ao Tribunal de Contas da União (TCU), anualmente, o cálculo da população de cada um dos 5.570 municípios do país. Seguindo um modelo estatístico, o IBGE entregou um resultado prévio do ano de 2022, tendo em vista que o Censo 2022 ainda não está concluído em muitos municípios. Entretanto, em Cunha já está 100% concluído, com os 74 setores censitários apurados. Portanto, o resultado apresentado já é definitivo.

Observando as projeções populacionais do IBGE de 2019, 2020 e 2021 para Cunha, nota-se que indicavam sucessivas quedas na população municipal. Como essas projeções se baseiam em tendências, é provável que consideraram a redução da população que ocorreu entre os censos de 2000 e 2010. Naquele Censo foram contados 23.062 habitantes; neste, 21.866 habitantes. Assim, ano após ano, o IBGE foi apontando um tênue recuo da população cunhense.

Todavia, em 2022 apurou-se o contrário: houve a interrupção dos sucessivos recuos, registrando um ínfimo crescimento (1,2%). Se isso será uma tendência para as próximas décadas, tendo em vista que a atividade turística vem se fortalecendo nos últimos anos, só o tempo dirá. A estabilidade ou crescimento de uma população depende, entre outros fatores, de uma resposta econômica. Não tem como a população de Cunha crescer sem a economia local oferecer, por exemplo, emprego aos jovens.

Após essa divulgação protocolar, espera-se agora a divulgação completa do Censo 2022, em que outros aspectos da realidade local possam ser conhecidos e analisados. Aguardamos os dados referentes às taxas de população rural e urbana, à pirâmide e composição etária, à renda média, à escolarização, à religião etc. Com esses dados, é possível comparar com os recenseamentos anteriores e indicar mudanças e permanências no tecido social local.

Vista aérea da cidade de Cunha. Imagem: Guará Vídeo Drone (YouTube). Data: junho de 2022.

A população da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) chegou a 2,5 milhões de habitantes. Em relação ao Censo de 2010, a RMVPLN teve um acréscimo de 295.134 habitantes, o que corresponde a um aumento de 13% de sua população. A RMVPLN é composta por 39 municípios. Cunha foi o segundo município da região que menos cresceu, não acompanhando o patamar de crescimento regional. Ainda assim situação melhor do que nos 11 municípios da região (Cruzeiro, Campos do Jordão, Aparecida, Santa Branca, Piquete, São Luiz do Paraitinga, Bananal, Queluz, Redenção da Serra, Areias e Arapeí) que viram a sua população reduzir na última década.

O Jacuhy retornará à análise da população regional, quando o IBGE apresentar os resultados definitivos. Em alguns municípios da RMVPLN, o Censo 2022 ainda está inconcluso.

Referências:
BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline. Geografia de população. Tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1980.
BROEK, Jan O. M. Iniciação ao estudo da geografia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
DAMIANI, Amélia L. População e geografia. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2022: acompanhe a coleta nas UFs e municípios. Disponível em: < https://censo2022.ibge.gov.br/acompanhamento-de-coleta.html?cod=3513603 >. Acesso em 11 jan. 2023.
______. Censo 2022: Tabelas – Prévia da População dos Municípios com base nos dados do Censo Demográfico 2022 coletados até 25/12/2022. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/22827-censo-demografico-2022.html?edicao=35938&t=resultados >. Acesso em 11 jan. 2023.
______. Censo 2022: Municípios: prévia da população calculada com base nos resultados do Censo Demográfico 2022 até 25 de dezembro de 2022. Disponível em: < https://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2022/Previa_da_Populacao/POP2022_Municipios.pdf >. Acesso em 11 jan. 2023.

Cunha, transporte e desenvolvimento

Rodovia Vice-prefeito Salvador Pacetti (SP-171), quando atravessa o bairro do Taboão. Foto: site Viagens e Caminhos. Data: 2010.

Antes mesmo de Cunha ser Cunha, os caminhos já faziam parte da história deste lugar. A antiga trilha dos Guaianases, o “caminho do Facão”, foi um dos primeiros pontos de entrada para o sertão. Um peabiru que foi amplamente utilizado pelos colonizadores. Aliás, é bem provável que o nosso antigo topônimo “Facan/Facão” seja em razão da condição desse antigo caminho, que vencia a Serra do Mar, mas era dos mais perigosos e precários.

Dizem os antigos cronistas e aventureiros que os Guaianases, primeiros a pisar neste chão, estavam sediados na Ilha Grande. Quando chegava o verão, migravam do litoral rumo ao sertão, embrenhando-se na mata, que, de tanto ser varada, acabou virando a trilha desse povo originário.

Em distância absoluta, a cidade mais próxima de Cunha é Lagoinha (vide Mapa Concêntrico de Cunha abaixo). Dista 23,6 Km. No passado, já chegou a ser distrito de Cunha. Mas somente agora estão a asfaltar a ligação entre elas, via bairro do Jaguarão. A segunda cidade mais próxima, Paraty (RJ), a 30 Km, só foi conectada decentemente a Cunha em 2016, depois de mais um século de reivindicação para o seu calçamento.

É muito pouco para uma cidade que surgiu, justamente, em função dos caminhos.

Está sob a ponte aérea Rio – São Paulo, principal fluxo aeroviário brasileiro. Movimento bem perceptível à noite, com pontos luminosos transitando no céu no sentido Leste-Oeste.

Está conectada por menos de 50 Km, via SP-171, à BR-116, principal rodovia do Brasil.

Mapa Concêntrico em Cunha (SP), apresentando algumas cidades selecionadas como referência. A equidistância entre os círculos em destaque é de 50 Km. O objetivo é mostrar a posição de Cunha entre os dois maiores conglomerados urbanos do Brasil. Além da distância entre as cidades, foram respeitadas as angulações azimutais.Data: 2022. Cartografia: Jacuhy.

Portanto, percebe-se que Cunha não está mal localizada – como sugerem certas pessoas ao tentar justificar o subdesenvolvimento municipal –, já que seu sítio urbano fica entre as duas maiores metrópoles do país; mas é mal servida pela rede rodoviária, modal de transporte predominante no Brasil. E o problema nem é a densidade dessa rede, porque só de estradas rurais o seu território é cortado por mais de 2 mil quilômetros, e, sim, a condição dessas vias. Trata-se de estradas vicinais de terra batida, com manutenção esporádica, inapropriadas ao tráfego nos dias chuvosos.

Até 2016, quando a Estrada Parque Comendador Antonio Conti (RJ-165) foi concluída, a única ligação asfaltada que o município possuía com outro lugar era com Guaratinguetá, pela Rodovia Paulo Virgínio (SP-171), inaugurada em 1967 até a cidade de Cunha. O trecho até a divisa com o estado do Rio de Janeiro foi concluído em 1984.

Sem estradas transitáveis, não há turismo nem escoamento da produção agrícola.

Cidade com clima de montanha, porém bem perto do litoral. Localização privilegiada, isso sim. Só que sem estradas, é mais uma das “cidades mortas” do velho Vale, a espera de uma via transitável que possa ressuscitá-la.

Cunha: paisagem, meio ambiente e economia

Cunha vista da Serra da Bocaina. Foto: Pedro Máximo. Data: 2011.

A cidade de Cunha vista da Pedra Grande, na Serra da Bocaina, próxima à divisa com Silveiras. Está a 34 quilômetros em distância absoluta, na direção sudoeste. O interessante dessa perspectiva é que aparece a Serra do Alto do Diamante ao fundo, que está a cerca de 55 quilômetros de distância da Pedra Grande. Após essa serra, temos ainda o bairro do Sertão do Palmital e mais cerca de 5 Km (em termos absolutos) de terras cunhenses até se chegar ao limite com São Luís do Paraitinga, divisa formada com cotas altimétricas inferiores ao do Alto do Diamante e vertente do rio Paraibuna. A foto na perspectiva noroeste-sudoeste revela um pouco da extensão de nosso município, maior do Vale do Paraíba e o único no estado circundado por três 3 serras principais (além de outras ramificações), como é o caso do Alto do Diamante, do Alto Grande e do Campo Grande. Todas com picos ultrapassando os 1600 metros de altitude.

Cunha vista da Pedra Grande. Cotas altimétricas do IBGE (1973). Edição: Jacuhy.

O bairro Sertão do Palmital, ainda em 1970, completamente isolado de Cunha. Os moradores se serviam, quando podiam, de São Luiz do Paraitinga, via distrito de São Pedro da Catuçaba. Mesmo assim por trilhas acessíveis apenas a pé ou a cavalo.

Parte da carta hipsométrica das três serras. Fonte: IBGE, 1973.

Um dos morros da Serra desperta a nossa atenção por sua feição cônica, se assemelhando a um vulcão, o que obviamente não é e nem nunca foi. Trata-se de dois morros na verdade, mais pontiagudos e altos que os vizinhos que observados de longe, revelam esse contorno diferente. Essa Serra, aliás, pode ser melhor observada do Morro Grande, vide as fotos da “Estalagem Shambala” ou do loteamento recentemente aberto “Alpes de Cunha”.

Alto do Diamante e Campo Grande. Vista da Estalagem Shambala. Data: 2022.

Os morros que circundam a cidade de Cunha, e que parecem altos, praticamente se aplainam ante a imponência da Serra do Mar, que, como uma muralha, cerca o município nos limites de sudoeste a nordeste.

Vista da Serra do Campo Grande. Foto: Guto Felipe. Data: 2022.

Todo esse “Mar de Morros” é obra de milhões de anos de processos erosivos contínuos, consequência da ação do clima tropical sobre o relevo. As paisagens que temos hoje são heranças que a natureza nos legou e que devemos preservar para a posteridade.

Vista da Serra do Alto do Diamante. Foto: Rodrigo Leite. Data: 2012.

Por isso, o desmatamento incontrolável que nossa região passou nos últimos cem anos preocupa. Não só pelo aumento dos movimentos de massa e os riscos que eles trazem à segurança das pessoas e animais, além dos prejuízos, mas pela perda dos solos, um problema grave e ainda pouco abordado e tratado em Cunha. Sem solo não há agricultura, pecuária e nem vida. A aceleração dos processos erosivos e a retirada ilegal de mata ciliar levam ao assoreamento dos cursos d’água e ao desaparecimento da fauna fluvial. A retirada de mata no topo dos morros leva ao sumiço dos vertedouros. Toda ação humana gera algum impacto ambiental que, mais cedo ou mais tarde, acarretará algum impacto social.

O pouco que restou da nossa Mata Atlântica foi resultado da ação impositiva do Estado, que interveio na década de 1.970 para impedir o desaparecimento completo da cobertura vegetal, com a criação de duas unidades de conservação de proteção integral: Parque Nacional da Serra da Bocaina e Parque Estadual da Serra do Mar. Nunca partiu de nós, cunhenses, o devido cuidado com meio ambiente. É muito provável que sem as unidades de conservação, o pouco de verde que ainda restou já teria virado carvão, moirão, palanque, esteio, móveis, pasto etc. Até o nosso linguajar valida a visão antiecológica de ver árvores e matas como um problema. Chamamos de “pasto sujo” aquele que contém árvores e capoeirões espalhados pela herdade.

O desenvolvimento do turismo surge como uma esperança. Ao retirar do setor primário o sustento de muitas famílias e realocá-lo no terciário, ameniza a pressão sobre os recursos naturais do município. Ademais, a paisagem natural ou regenerada deixa de ser um “pasto sujo” e passa a ser valorizada. Valorizada no sentido financeiro mesmo, pois o turismo é uma atividade econômica que promove o consumo do espaço e das paisagens. Desde que não seja predatório ou privilégio de alguns empreendedores, o turismo pode ser uma das saídas para Cunha.

A pergunta que fica é: o que deixaremos para as futuras gerações? Mais do que esperar do Estado e atribuir responsabilidades a outrem, sempre é bom fazer um exercício de reflexão pessoal, focado na nossa ação no mundo. Cabe a nós, enquanto comunidade, buscar alternativas econômicas sustentáveis.

Referências:
AB’SÁBER, Aziz N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 5 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
CRUZ, Rita de C. A. da. Introdução à geografia do turismo. 2. ed. São Paulo: Roca, 2003.
IBGE. Lagoinha: região sudeste do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1973. 1 carta topográfca, color., 4465 × 3555 pixels, 5,50 MB, jpeg. Escala 1:50.000. Projeção UTM. Datum horizontal: marégrafo Imbituba, SC, Datum vertical: Córrego Alegre, MG. Folha SF 23-Y-D-III-2.
O ESTADO DE S. PAULO. Palmital, um bairro isolado. 4 out. 1970, p. 42.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
VELOSO, João J. de O. O ambiente natural cunhense. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 1996.

A demarcação da fronteira entre Cunha e Paraty

Serra do Mar, divisa entre Cunha (SP) e Paraty (RJ). Foto: viagensdecaprala.com.br

Cunha se tornou município em 15 de setembro de 1785, separando-se de Guaratinguetá. Na época, elevar-se à condição de vila equivalia, administrativamente, aos termos políticos e territoriais dos municípios de hoje. Fundado em 1724, o município no extremo leste de São Paulo faz divisa com o estado do Rio de Janeiro. Aliás, a sua maior linha fronteiriça é com o município de Paraty, com quem mantém laços históricos, culturais, ambientais, sociais, econômicos, turísticos, afetivos etc. etc.

Foi durante o conturbado Período Regencial da Era Imperial, mais especificamente durante a Regência Trina (1831 a 1834) – os nomes dos insignes regentes aparecem no autógrafo do decreto –, que os limites entre as Vilas de Cunha e Paraty foram postos. Corria a década de 30 do século XIX… Os cafezais, ainda tímidos, começavam a ocupar as encostas do Vale do Paraíba… E na serra e mar, alheias a coisas maiores, as Câmaras de Cunha e Paraty digladiavam-se sobre a extensão dos seus respectivos territórios. Para apaziguar os ânimos dos “homens bons” (alcunha dos vereadores na época), os regentes usaram o poder de suas penas para pôr fim à altercação. E nos seguintes termos:

DECRETO – DE 29 DE JANEIRO DE 1833.

Fixa os limites entre os termos das villas de Paraty e Cunha.

A Regencia, em Nome do Imperador, resolvendo definitivamente as duvidas, em que até agora se têm conservado as Camaras Municipaes das villas de Paraty, desta Província, de Cunha; da de S. Paulo, sobre os limites dos seus termos confrontantes; depois de proceder ás necessarias informações, e de ponderar as razões offerecidas de uma e outra parte, decreta :

Os termos das villas de Paraty e Cunha ficam divididos pelo alto da serra, pertencendo a cada uma das villas a parte da mesma serra, que verte para o seu lado.

Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Ministro e Secretario de Estado dos Negocias do Imperio, assim o tenha entendido, e faça executar com os despachos necessarios. Palacio do Rio de Janeiro, em vinte e nove de Janeiro de mil oitocentos trinta e tres, decimo segundo da Independencia e do Imperio.

FRANCISCO DE LIMA E SILVA
JOSÉ DA COSTA CARVALHO
JOSÉ BRAULIO MONIZ

Nicolau Pereira de Campos Vergueiro

Pelo que se sabe, via cartografia colonial, os bairros rurais de Cunha, aqueles do alto da Serra do Mar, pertenciam à Vila de Paraty. Taboão, Buracão, Divisa, Mato Limpo, Várzea do Cedro, Pontinha, Gramas etc. era tudo território paratiense. A divisa, pelo que indicam os mapas antigos, era nos altos da Aparição, acompanhando os morros do Divino Mestre, Lavandário etc. Eis aí a razão da contestação litigiosa aventada pela Câmara da Vila de Cunha, uma vez que essas antigas paragens eram povoadas por gente cunhense. Na contenda, pelos contornos municipais que prevaleceram, a nossa Câmara saiu vencedora.

Transcrevendo a legislação territorial dos municípios paulistas, o Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC) (SÃO PAULO, 2010, p. 189) anota sobre a divisa de Cunha com o estado do Rio de Janeiro:

“Com o Estado do Rio de Janeiro: Começa no rio Mambucaba, na foz do córrego da Memória; segue pela divisa com o Estado do Rio de Janeiro até a serra do Mar, onde ela cruza com o espigão que deixa as águas dos ribeirões Picinguaba, Cambuí e córrego da Escada, de um lado, e as dos rios Patatiba e Carapitanga, do outro lado, espigão que é a serra do Parati”

Vale lembrar que Cunha faz divisa com dois municípios fluminenses: Paraty e Angra dos Reis, sendo com este por um pequeno trecho, em torno de um quilômetro, pelo rio Mambucaba, como citado no excerto supra selecionado.

Referências:
IMPERIO DO BRASIL. Collecção das Leis do Imperio do Brasil. Parte II. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1873. Disponível em: < https://bd.camara.leg.br colleccao_leis_1833_parte2 >. Acesso em mai. 2022.
SÃO PAULO (Estado) / Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC). Municípios do Estado de São Paulo: criação e divisas. São Paulo: IGC, 2010.

Campos Novos se torna Distrito de Paz

Arte feita para a série #HojeNaHistóriaDeCunha, da página Jacuhy, no Facebook.

Foram os antigos caminhos que cortavam a região a causa do povoamento. Havia o “Caminho das Boiadas” ou “Estrada da Bocaina”. Surgiu para não destruir o Caminho do Ouro oficial, pela Serra do Facão, pois o gado, em seu transitar, vai socavando com suas patas e destruindo a estrada. Assim, o gado era tocado por outro caminho. O Caminho das Boiadas saía de Guaratinguetá ou Lorena, passava pelos campos da Bocaina e alcançava o porto de Mambucaba ou Angra dos Reis, dependendo do rumo que tomava. Posteriormente (séc. XIX), esse caminho seria utilizado e calçado para o transporte do café. Mais que uma conexão entre o planalto e o litoral, foram esses caminhos vetores de ocupação e colonização.

No final do século XVIII, algumas famílias paulistas e fluminenses conseguiram sesmarias no vale do Paraitinga e nos contrafortes da Bocaina. Eram os Fialho, os Galvão dos Santos (Carmo), os Gomes Siqueira, os Ayres dos Reis, os Vaz da Silva, os França Mota, os Rodrigues da Silva, os Mariano Rodrigues, os Santos Pinto, os Pinto dos Santos, os Pinto Leite, os Cardoso de Miranda, os Marques, os Galvão Freire, os Almeida, os Pereira, os Moraes, os Lopes dos Santos, os Siqueira França, os Albano da Silva, os Müller etc. Terra boa, ainda ínvia. Vão povoando e abrindo passagem. De vez em quando ainda viam, esses pioneiros, os Puris cortando, apressadamente, aquelas florestas intactas. Caminhos foram se abrindo, novas famílias chegando e desmatando. A mata caía onde novos sítios eram erguidos. Por volta de 1.820 já se registra 400 almas, entre brancos e escravos. Denominava-se “Bocaina”, apenas. Em 1.859, Manoel Lopes dos Santos (D’Assunção) edifica a primeira capela da redondeza, orago de Nossa Senhora dos Remédios. Por esse tempo, ganha notoriedade a Fazenda da Serra, no bairro da Guabiroba. Era propriedade de Maria do Carmo dos Santos, viúva do Alferes José Gomes dos Santos Pinto e casada em segundas núpcias com Luiz Pereira Paes de Almeida. Latifundiária e rica, bancou boa parte da edificação da capela. Como centro religioso da redondeza, em torno da capela brota um povoado: Campos Novos. Povoado é um termo que significava à época “pequeno aglomerado rural ou urbano, sem autonomia administrativa; lugar ou sítio no qual já se formou uma pequena população ou um pequeno núcleo de habitantes.” (SEADE, 1995).

Croqui da vila de Campos de Cunha, distrito do município de Cunha. Atentar para o diminuto arruamento. Fonte: Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC). Data: maio de 1940.

Vivia a região um enorme crescimento econômico proporcionado pela riqueza do café, que ia modificando a paisagem. Respingo da pujança econômica do médio Vale do Paraíba no planalto. “Campos”, devido aos campos de altitude da Serra da Bocaina, e “Novos”, porque a ocupação do Distrito era mais recente do que o restante do município. Campos Novos vingou à margem de um (Lorena – Mambucaba) das dezenas de caminhos que conectavam o vale produtor aos portos de exportação. Por isso, pulsou no ritmo regional: viveu o apogeu e a decadência da cafeicultura valeparaibana. Depois veio a fonte de água mineral (na década de 1910), depois a pecuária leiteira (década de 1940) … O turismo ainda é uma promessa, pois o potencial de Campos de Cunha é grande demais para seguir ainda inexplorado.

A região passa por um rápido crescimento econômico e populacional. Até que em 8 de março de 1.872, o povoado de Nossa Senhora dos Remédios de Campos Novos de Cunha se torna um Distrito de Paz, pela Lei Municipal nº. 5. Assim, passa a contar com uma autoridade administrativa nomeada pela Vila de Cunha especialmente para o lugar. Um Distrito era uma “divisão territorial e administrativa em que certa autoridade administrativa, judicial ou fiscal exerce sua jurisdição” (SEADE, 1995).

Em 11/09/1873, a capela passa a ser paróquia, com vigário próprio nomeado. Dessa forma, torna-se de fato Freguesia de Nossa Senhora dos Remédios de Campos Novos de Cunha, pois só se tornava freguesia se fosse paróquia, isto é, tivesse um padre regular atuando na igreja. O primeiro que chegou a Campos Novos para a missão foi o padre italiano Nicolau Polito Derosa (“Padre Derosa”). O termo “freguesia” se refere a: “circunscrição eclesiástica que forma a paróquia; sede de uma igreja paroquial, que servia também, para a administração civil; categoria oficial institucionalmente reconhecida a que era elevado um povoado quando nele houvesse uma capela curada ou paróquia na qual pudesse manter um padre à custa destes paroquianos, pagando a ele a côngrua anual (…)” (SEADE, 1995).

Na divisão administrativa referente ao ano de 1911 já consta o Distrito de “Campos Novos de Cunha” como pertencente à Comarca de Cunha. Esse topônimo foi simplificado para “Campos de Cunha” apenas, na lei de divisão administrativa de 1938, permanecendo assim até os dias atuais. Mas para o cunhense ainda é “Campos Novos”.

Em 1912, o Barão da Bocaina compra a fazenda onde estava as fontes de águas minerais, conhecidas desde o século XIX. Seu projeto era construir uma nova cidade no local, uma estância hidromineral seguindo o exemplo de Campos do Jordão, que fora um projeto seu. E bem-sucedido. Com a morte do Barão, os planos são abandonados. Na década de 1970, a fazenda é comprada pelo italiano Ghisleni Giulio. Seu projeto era criar um loteamento, seguindo, modestamente, os planos do Barão. Não consegue vender os lotes, então decide envasar e vender a água mineral. A qualidade das “Águas Virtuosas Santa Rosa” conquista o mercado regional, mas na década de 1990 o envasamento é suspenso. Em 2021, a água mineral volta a ser vendida com o nome de “Serras de Cunha”, uma marca da Águas Prata Ltda.

Entre as décadas de 1920-1950, muitas famílias mineiras (os Fagundes, os Gonçalves etc.) migram para o município de Cunha, inclusive Campos de Cunha, atraídas pelo baixo preço das terras. Aqui desenvolvem a pecuária leiteira e, posteriormente, a pecuária de corte. Hoje, Cunha é a maior produtora de leite do estado. Então, Campos de Cunha se torna famoso pela qualidade de seus queijos e por sua produção de leite. Até pouco tempo, o Distrito contava com 2 grandes laticínios e outros artesanais espalhados pela zona rural, as fabriquetas.

Antiga fotografia capturada na vila de Campos de Cunha, possivelmente da década de 1940, postada no grupo “Memória Cunhense” (Facebook).

Nos anos de 1970-1980, devido ao abandono do Distrito pelas administrações municipais, cresce entre os moradores o desejo de emancipar-se de Cunha. Ademais, Campos de Cunha sempre manteve mais ligação com Lorena e Silveiras do que com a sede municipal. O pleito dos moradores é levantado pela SADICAC (Sociedade de Amigos do Distrito de Campos de Cunha) e recebe apoio dos deputados da região. Em 1991 é aprovado a realização de um plebiscito pela Assembleia Legislativa de São Paulo para votar a emancipação do Distrito de Campos da Cunha. Todavia, mudanças nas normas estaduais para emancipação de municípios, concernente à autossuficiência econômica, adia o sonho de Campos de Cunha.

É uma longa história, bem resumida pelo poeta e cantor Celso Galvão “…mas o lugar cresceu/ o tempo passou/ as porteiras se abriram / o progresso chegou/ Uma estrada novinha/ e a freguesia no meio da serra aflorou (…) uma gente que sonha e constrói para o futuro uma linda cidade/ na certeza de que/ a união e a fé/ é o caminho e verdade…”. Hoje, Campos de Cunha celebra 150 anos de elevação a Distrito. Parabéns a todos os moradores: da vila, da Bocaina e de todos os bairros rurais. Felicitação que estendo aos que se encontram dispersos por outras paragens.

Campos de Cunha em dois tempos: na década de 1980, na foto superior; na inferior, em 2016. Crescimento da mancha e adensamento urbano. Fotos: Página “Lá em Campos Novos” (Facebook).

Referências:
CUNHA, M. W. V. da. O Povoamento no Município de Cunha. Anais do IX Congresso Brasileiro de Geografia, v. II, p. 641-49, Florianópolis (SC), 1944.
FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS (SEADE). Memória das estatísticas demográficas: definições. Disponível em: < http://produtos.seade.gov.br/produtos/500anos/index.php?tip=defi >. Acesso em 8 mar. 2022.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades: Cunha (SP): História e fotos. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/cunha/historico >. Acesso em 8 mar. 2022.
VELOSO, J. J. de O. A História de Cunha – 1600 – 2010 – Freguesia do Facão: A rota da exploração das minas e abastecimento de tropas. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 2010.

Música homenageando Campos de Cunha, composta e interpretada por Celso Galvão.

Santa Rosa, as virtuosas águas de Campos de Cunha

Logotipo utilizado nos galões da Águas Virtuosas de Santa Rosa. Símbolo de qualidade.

Um breve levantamento histórico das “Águas Virtuosas de Santa Rosa”, hoje “Águas Serras de Cunha”. As águas da Fonte Paulista, considerada uma das melhores do Brasil, voltou a ser engarrafada. Mais que uma fonte geradora de empregos, trata-se um motivo de orgulho para todos os cunhenses.

Século XIX – Em ofício endereçado à Assembleia Provincial solicitando recursos, em 1882, a Câmara de Cunha cita que “no lugar denominado Pedra Branca”, na então Freguesia de Campos Novos, havia uma fonte de água que “na crença popular diz ser milagrosa”, de “gosto nauseante”, de temperatura “em certas ocasiões mais sensivelmente elevada que o ambiente”, porém ainda desprovida de uma “análise qualitativa” que determine suas propriedades físico-químicas.

Década de 1910 – Moradores de Cunha e Campos Novos costumavam fazer excursões para as “Águas”, para beber nas suas fontes, engarrafá-la e até nela se banhar, crendo ser o líquido portador de moléculas milagrosas. A fama da água se espalha pelo Vale e chega aos ouvidos do endinheirado empreendedor Barão da Bocaina, o Francisco de Paula Vicente de Azevedo. Assim que soube das fontes minerais, comprou as terras onde se localizavam as minas. Passava, então, o local a ser denominado por “Águas do Barão”. Era natural de Lorena (SP), mas já época morava em São Paulo (SP). O Barão possuía terras em diversos municípios da nossa região e do Sul de Minas. Pioneiro na introdução do trabalho livre no Vale, estabeleceu diversas colônias agrícolas para imigrantes, com destaque para a de Quiririm, em Taubaté, e para a de Canas, hoje município. Em São Paulo, capital, tonou-se banqueiro, investidor e empresário. Chegou a participar do governo do guaratinguetaense Rodrigues Alves, quando este esteve na Presidência. Esteve sempre envolvido com projetos modernizadores, copiando o que podia da Europa. Em 1861 adquiriu uma grande propriedade de terra na Serra da Mantiqueira, introduzindo uma fazenda-modelo, que veio a se chamar “São Francisco dos Campos do Jordão”. Anos depois, já famosa, tornar-se-ia na primeira estância climática e cidade sanatório, visando o tratamento de tuberculosos. E ainda introduziu nessa sua fazenda o cultivo de frutas europeias. Parecia ser similar o seu projeto para as fontes de água mineral da Pedra Branca, rebatizada por ele, posteriormente, como católico fervoroso que era, como “Águas de Santa Rosa”.

1912 – É organizada a “Companhia Águas Mineraes Santa Rosa”, em Campos Novos de Cunha.

1 de dezembro de 1912 – A “Companhia de Águas Mineraes de Santa Rosa”, do Barão da Bocaina, compra a Fazenda Jaboticabal, espólio de Laurindo Umbellino dos Santos Pinto, com 150 alqueires de terra, aumentando a propriedade da Companhia, que já tinha domínios no lugar. Essa ampliação era fruto da ambição do Barão de levantar no bairro uma nova cidade, uma estância hidromineral, parcelando o solo, levantando casas e hotéis e criando serviços de abastecimento e distribuição das águas minerais.

28 de dezembro de 1913 – Após receber infraestrutura, é fechada à visitação pública a primeira fonte das “Águas Mineraes de Santa Rosa”.

28 de outubro de 1915 – Instrução Pública: É criada pela Assembleia Legislativa de São Paulo uma Escola Rural Mista no Bairro das Águas Virtuosas de Santa Rosa, município de Cunha.

1915 – Entra no orçamento estadual, por indicação do deputado estadual Dr. Casemiro da Rocha e outros da região, a construção de uma estrada ligando Lorena à estação das “Águas Virtuosas de Santa Rosa”.

1916 – Iniciam-se as obras de infraestrutura turística na fazenda das “Águas Virtuosas de Santa Rosa”, tendo à frente o arquiteto francês radicado em Cunha Cyrille Loviat, o mesmo que construiu o Grupo Escolar de Cunha e o Mercado Municpal. A ideia inicial era construir um hotel e um posto policial. O zelador da fazenda era o sr. Bernardino Alves Ferreira.

6 de agosto de 1919 – nomeada, por decreto estadual, a primeira professora da Escola Rural Districtal das “Águas Virtuosas de Santa Rosa”, a saber: Professora Gesséa Dias Corrêa, aprovada em concurso público.

1918 – Requer o Barão da Bocaina, junto ao Governo Federal, a reconstrução da estrada Lorena-Mambucaba, que passava pelo distrito de Campos de Cunha.

1919 – É votado, para o orçamento de 1920, por indicação do deputado Dr. Casemiro da Rocha, a restauração da estrada que ligava a fazenda das “Águas” ao porto de Taquary, município de Paraty, estado do Rio de Janeiro.

1 de janeiro de 1920 – O bairro das “Águas” recebe uma agência postal dos Correios. Antes mesmo de Campos Novos ter uma! Razão de muitas críticas dos moradores da vila, muito mais populosa e ainda desprovida de serviço postal. O agente postal nomeado para aquela agência foi o sr. Benedito Vaz Reis.

Década de 1920 – Administra as fontes minerais a “Companhia de Águas Mineraes de Santa Rosa”. Em diversas comunicações oficiais aponta-se a necessidade de arrumar a estrada que liga a sede da fazenda à cidade de Lorena. Necessidade de prolongar a estrada de Campos Novos à fazenda das “Águas” é prevista no orçamento estadual.

1932 – Durante a Revolução Constitucionalista foi ocupada por tropas paulistas (do 4º Batalhão de Combate e da Liga de Defesa Paulista, sob o comando do Tenente Meirelles Maia). Estando arranchados na localidade, chamou a atenção do serviço médico do Exército Constitucionalista a dentição totalmente preservada dos moradores locais, algo raro na zona rural de Cunha naquela época. Os oficiais médicos atribuíram tal característica à salubridade e propriedades químicas daquelas fontes minerais. Passada a guerra civil, foram aqueles soldados grandes incentivadores da ideia de tornar Cunha uma estância hidromineral, pois muitos que lutaram em Cunha, entrariam para a política, posteriormente. Entre eles, podemos citar o ex-governador Adhemar de Barros, já falecido, que, como mandatário estadual, muito lutou para que Cunha alcançasse o status de estância.

17 de outubro de 1938 – Falece em São Paulo (SP), o Barão da Bocaina, último titular ainda vivo do Império do Brasil. Com sua morte, fenece o seu projeto para as “Águas Virtuosas de Santa Rosa”.

10 de julho de 1940 – É aberta a estrada rodoviária de Cunha a Campos Novos, de terra batida ainda, substituindo o leito carroçável, o antigo caminho de tropa que servia de ligação entre a sede municipal e a distrital. A caravana de políticos que vem inaugurar a obra visita a fazenda da estação das Águas Virtuosas de Santa Rosa, ainda um projeto promissor.

Dezembro de 1941 – É extinta a agência postal das “Águas Virtuosas de Santa Rosa”.

Década de 1940 – A Companhia possuía ações na bolsa de valores do Rio. Laudos do Laboratório Adolpho Lutz e do antigo Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo apontam as fontes de águas minerais da fazenda, com vazão de 101.400 litros por hora, como as melhores do país.

Expedição do antropólogo americano Robert W. Shirley à Fazenda das Águas. 1965. Foto: Arquivo do Museu Francisco Veloso.

Década de 1960 – A Fazenda das Águas, como é conhecida, é vendida ao empresário Ghisleni Giulio, que pretende pôr em prática os antigos projetos do Barão da Bocaina.

Setembro de 1972 – É feito um reflorestamento com eucalipto na fazenda das “Águas Minerais de Santa Rosa”, empreendimento da Agro Vale do Paraíba S/C Ltda., com sede em Guaratinguetá. Trata-se de um investimento que conta com a participação de várias empresas e alega o plantio de 5 milhões de árvores, em três parques florestais criados em nossa região. Até hoje é a maior fazenda do município de Cunha, chegando até o Sertão, no limite com o estado do Rio de Janeiro, município de Paraty. Um ponto verde escuro nas imagens de satélite, devido a cobertura com eucalipto.

12 de novembro de 1975 – É criada a empresa Águas Virtuosas Santa Rosa LTDA, para envasar e comercializar águas minerais.

Igreja da Fazenda das Águas em 1978. Foto: Eurindo Perez (Página “Parada do Tempo”/ Facebook)

1981 – Inicia-se negociação com a Arábia Saudita, visando exportar água mineral de qualidade superior para aquele árido reino do Oriente Médio.

Década de 1980 – A Fazenda das Águas é um dos destinos turísticos de Cunha mais visitado e conhecido. A própria Prefeitura divulgava o lugar como um dos atrativos de Cunha, quando fazia anúncios na imprensa. A visitação pública aumenta após o asfaltamento do Estrada Municipal Ignácio Bebiano dos Reis, que interliga a cidade de Cunha à vila de Campos de Cunha.

Década de 1990 – A água mineral “Águas Virtuosas de Santa Rosa” conquista o mercado regional e seu nome se consolida, fornecendo um produto de excelente qualidade por um preço menor que as concorrentes. Na mesma década, a empresa seria fechada por motivos econômicos (?) e a comercialização suspensa.

24 de abril de 2000 – A Fazenda das Águas e suas fontes minerais são compradas e incorporadas pela empresa do mesmo ramo Águas Prata Ltda.

Década de 2010 – O reflorestamento de eucalipto da fazenda é vendido à indústria de madeira e celulose. A extração de madeira do local, pela quantidade de árvores, gera um importante fluxo de empregos em Cunha.

2021 – As fontes minerais da Fazenda das Águas voltam a ser envasadas e comercializadas, com novo nome: “Águas Serras de Cunha”.

Fontes:
Arquivos do Museu Municipal Francisco Veloso.
Arquivos da Prefeitura Municipal de Cunha.
Grupo “Memória Cunhense” – Facebook.
Jornal Correio Paulistano, 1854 a 1942.
Jornal do Commercio (RJ) – 1940 a 1949.
O Estado de São Paulo, 28 set. 1972.
O Estado de São Paulo, 1 abr. 1981.
Ofícios da Câmara Municipal da Cidade de Cunha, 1882.
Página “Parada do Tempo” – Facebook.
PASIN, J. L. Os Barões do Café: titulares do Império no Vale do Paraíba Paulista. Aparecida: Vale Livros, 2001.
Revista Istoé, 21 dez. 1977.
VELOSO, J. J. de O. A História de Cunha (1600-2010). Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 2010.
______. O ambiente natural cunhense. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 1996.

Bairro do Jericó

Fotos do bairro do Jericó, zona rural de Cunha, estado de São Paulo.

Por um vale esverdeado da Serra do Mar se chega ao bairro do Jericó, na região sudoeste de Cunha. Um típico bairro rural vale-paraibano, com os estábulos para ordenha de vacas, pertinho da tulha de madeira para guardar a produção cerealífera, com as velhas fazendas rurais ou sítios junto aos sopés das montanhas e um córrego passando no quintal. Ah, também se vê cavalos, mulas, cachorros, homens portando o indefectível chapéu de palha e a saudar os transeuntes com o obrigatório bom-dia, naquele peculiar sotaque da gente cunhense. Jericó, alusão à antiga cidade conquistada pelos hebreus, em Canaã – a Terra Prometida –, é também aqui um lugar de primícias. Nesse bairro se faz o melhor requeijão caseiro de toda Cunha. E as muralhas ainda continuam de pé, em forma de montanhas de pedra e de pontões rochosos que se elevam, como torres que cercavam a velha cidade do Oriente Próximo.

Mas Jericó é também a terra da bela cachoeira, da garoa à tardinha, dos hinos religiosos que ecoam do imponente templo da Igreja Metodista, a segunda igreja protestante inaugurada no Vale Paraíba, e da primeira escola rural do município de Cunha. É a terra dos Mariano Leite, tradicional tronco genealógico cunhense.

No adro, a Igreja Metodista colocou uma placa com os versículos de 7 ao 11, do capítulo 8, do livro de Deuteronômio, que sintetizam Jericó, relevando, claro, as diferenças (entre o Jericó da Palestina e o Jericó da Serra do Mar) de gêneros agrícolas e frutas cultivadas em cada lugar:

“Porque o Senhor teu Deus te introduziu numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas;

Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel.

Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre.

Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.

Guarda-te que não te esqueças do Senhor teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; […]”.

Dt. 8:7-11

Palavra do Senhor. Amém.

O planeta do geógrafo

Aquarela de Antoine de Saint-Exupéry

Por Antoine de Saint-Exupéry *

O sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia livros enormes.

— Bravo! Eis um explorador! Exclamou ele, logo que viu o principezinho.

O principezinho assentou-se na mesa, ofegante. Já viajara tanto!

— De onde vens? Perguntou-lhe o velho.

— Que livro é esse? Perguntou-lhe o principezinho. Que faz o senhor aqui?

— Sou geógrafo, respondeu o velho.

— Que é um geógrafo? Perguntou o principezinho.

— É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.

É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão! E lançou um olhar, em torno de si, no planeta do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso.

— O seu planeta é muito bonito. Haverá oceanos nele?

— Como hei de saber? Disse o geógrafo.

— Ah! (O principezinho estava decepcionado). E montanhas?

— Como hei de saber? Disse o geógrafo.

— E cidades, e rios, e desertos?

— Como hei de saber? Disse o geógrafo pela terceira vez.

— Mas o senhor é geógrafo!

— É claro, disse o geógrafo; mas não sou explorador. Há uma falta absoluta de exploradores. Não é o geógrafo que vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares, os oceanos, os desertos. O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças. E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.

— Por quê?

— Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Como o explorador que bebesse demais.

” — Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.

— Por que não? É o mais bonito! “

Saint-Exupéry

— Por quê? Perguntou o principezinho.

— Porque os bêbados vêem dobrados. Então o geógrafo anotaria duas montanhas onde há uma só.

— Conheço alguém, disse o principezinho, que seria um mau explorador.

— É possível. Pois bem, quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta.

— Vai-se ver?

— Não. Seria muito complicado. Mas exige-se do explorador que ele forneça provas. Tratando-se, por exemplo, de uma grande montanha, ele trará grandes pedras.

O geógrafo, de súbito, se entusiasmou:

— Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta!

E o geógrafo, tendo aberto o seu caderno, apontou o seu lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Espera-se, para cobrir à tinta, que o explorador tenha fornecido provas.

— Então? Interrogou o geógrafo.

— Oh! Onde eu moro, disse o principezinho, não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Dois vulcões em atividade e um vulcão extinto. A gente nunca sabe…

— A gente nunca sabe, repetiu o geógrafo.

— Tenho também uma flor.

— Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.

— Por que não? É o mais bonito!

— Porque as flores são efêmeras.

— Que quer dizer “efêmera”?

— As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.

— Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer “efêmera”?

— Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós, disse o geógrafo. O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.

— Mas que quer dizer “efêmera”? Repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.

— Quer dizer “ameaçada de próxima desaparição”.

— Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?

— Sem dúvida.

Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha!

Foi seu primeiro movimento de remorso. Mas retomou coragem:

— Que me aconselha a visitar? Perguntou ele.

— O planeta Terra, respondeu-lhe o geógrafo. Goza de grande reputação…

E o principezinho se foi, pensando na flor.

Fonte:
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe (com aquarelas do autor). Tradução: D. Marcos Barbosa. 17. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1974, cap. XV, pp. 54-58.

* Antoine de Saint-Exupéry (Lyon, 29 de junho de 1900 — Mar Mediterrâneo, 31 de julho de 1944), foi um escritor, ilustrador e piloto francês. “O Pequeno Príncipe” foi publicado em 1943 e foi o grande sucesso de Saint-Exupéry. A obra vendeu mais de 200 milhões de exemplares em todo o mundo. O autor, no entanto, morreria um ano depois da publicação do livro e não testemunhou o seu sucesso

Cunha, cidade das serras

Vista aérea de Cunha. Ao fundo, vê-se a Serra do Mar. Foto: Instituto Chão Caipira. Ano: 2011.

No final do século XIX e até no início do XX, Cunha era conhecida como “Cidade das Serras”. Faz jus ao epíteto. Qual fortaleza, é ladeada por três serras. Só não é inteiramente flanqueada porque o rio Paraitinga abriu um vale para se esvair. A alcunha orográfica não perdurou até nossos dias, apesar de geograficamente factual.

Serra do Mar vista da Praça do Rosário. Ano: 2010.

São as três muralhas: a Serra do Mar, a leste e a sul; a Serra da Bocaina, a norte; a Serra do Quebra-Cangalha, a noroeste. Desconheço município deste estado com mais cordilheiras em seu território. Cunha é única.

Serra da Bocaina vista do Cemitério Municipal de Cunha. Ano: 2012.

E ainda dos seus morros é possível ter uma vista esplêndida dos topos da Serra da Mantiqueira, que ao longe, ao norte, demarca o limite litosférico ante ao horizonte e ainda põe termo ao território paulista, nos contrafortes de Minas Gerais.

Serra do Quebra-Cangalha vista de Cunha. Ano: 2021.

Por isso, dizem que não há ocaso mais bonito, do que o visto desta pequena e pacata cidade. E eu, mesmo suspeito, concordo plenamente.

“O Gigante Adormecido”: a Serra da Mantiqueira vista de Cunha. Foto: Paulo Zaccaro. Data: agosto, 2012.

Situação orográfica de Cunha:

Criação: Jacuhy.

O trecho paulista da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul

Rio Paraíba do Sul, quando cruza o município de Cruzeiro (SP), com a Serra da Mantiqueira ao fundo. Fonte: Wikipédia. Data: 2014.

A porção paulista do rio Paraíba do Sul (também chamada de Alto Paraíba do Sul) ocupa uma área de drenagem de 14.444 Km², onde vivem 2,1 milhões de pessoas, abrangendo 34 municípios de nossa região. A bacia de drenagem de um rio, segundo Teixeira et al. (2009, p. 308), inclui todos os afluentes que deságuam na drenagem principal e eventuais lagos associados a esse sistema, ela é separada das bacias de drenagem vizinhas por divisores de água (elevações topográficas), como as serras do Mar, da Bocaina, Mantiqueira e Quebra-Cangalha, por exemplo

Dentro dessa região hidrográfica há 16 unidades de conservação, com destaque para os núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) e o Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), recentemente tombado como Patrimônio da Humanidade. Ambas as unidades são de proteção integral. Todas essas unidades de conservação visam preservar as seguintes vegetações: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista Alto Montana, Campos de Altitude e Floresta Ombrófila Mista. A área ocupada com vegetação natural remanescente corresponde a 3.846 Km², o que equivale a 26,5% da área de drenagem da bacia.

Mapa mostrando o trecho paulista da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul. Fonte: Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos. Data: 2015.

O rio Paraíba do Sul é formado pela confluência dos rios do Paraibuna, que nasce no município de Cunha (SP), no bairro da Aparição; e do Paraitinga, que nasce no topo da Serra da Bocaina, no município de Areias (SP). A junção dos cursos d’água ocorre onde hoje é a área alagada da Usina Hidrelétrica de Paraibuna, pertencente à Companhia Energética de São Paulo (CESP), localizada entre os municípios paulistas de Natividade da Serra, Paraibuna e Redenção da Serra. Da nascente na Serra da Bocaina até a foz em Atafona, município de São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro, o Paraíba do Sul realiza um percurso de 1.137 km de extensão, até alcançar o Oceano Atlântico. Seus principais afluentes no trecho paulista são: Paraibuna, Paraitinga e Jacuí (formadores); Jaguari, Uma, Buquira, Ferrão, Embaú, Piquete, Bocaina, Pitangueiras e Itagaçaba (tributários).

Imagem de satélite da foz do Paraíba do Sul, mostrando o seu delta assimétrico dominado por ondas, formado pelo acúmulo de sedimentos ao longo de milhares de anos. Imagem: Divisão de Sensoriamento Remoto – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Data: 2019. Fonte: Flickr.

As principais atividades econômicas desenvolvidas são a agropecuária (rizicultura, pecuária leiteira e de corte, milho etc.), indústria e pesquisa tecnológica (automobilística e aeroespacial), química e alimentícia (laticínios, principalmente), o turismo (religioso, ecológico, de montanha, cultural etc.), comércio e serviços e mineração de areia. A maioria dos municípios que estão inseridos dentro da bacia hidrográfica é pobre e vulnerável socioeconomicamente, com a exceção de São José dos Campos, Guararema, Jacareí e Aparecida (SEADE, 2018), que foram classificados e. Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) como dinâmicos, isto é, municípios com índice elevado de riqueza e bons níveis nos indicadores sociais (longevidade e escolaridade médio /alto). Os municípios que são cortados pela Serra do Mar e da Bocaina apresentam os piores indicadores sociais da região, como é o caso de Cunha.

Outros indicadores ambientais: 99,7% dos resíduos sólidos são destinados a aterros sanitários adequados; 91,1% do esgoto urbano é coletado, porém, apenas 63,9% é tratado; a redução da carga orgânica poluidora do esgoto doméstico foi de apenas 40,2%; a demanda total (superficial e subterrânea) corresponde a apenas 10,7% da vazão do rio Paraíba do Sul, no trecho paulista, o que mostra uma baixa pressão sobre os recursos hídricos disponíveis; dos 21 pontos de coleta de água de rios da bacia para análise, 4 foram qualificados como ótimos, 18 como bons e apenas 1 como regular, o que favorece a proteção da vida aquática.

Rio Paraíba do Sul na proximidade de sua nascente, na Serra da Bocaina. Imagem: Marco Cruz. Data: 2011. Fonte: YouTube.

Por estar localizado entre as duas maiores metrópoles do país, o rio Paraíba do Sul sofre com a poluição de suas águas, seja pelo esgoto doméstico ou pelo industrial. Além disso, boa parte de suas cabeceiras, onde estão as nascentes, estão desmatadas e degradadas. Todavia, trata-se de um rio de suma importância social: abastece mais de 14,2 milhões de pessoas, pois parte de suas águas são desviadas para a bacia hidrográfica do rio Guandu, com a finalidade de gerar energia e abastecer a população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Outros usos de suas águas são para irrigação (na rizicultura no Vale do Paraíba paulista, principalmente), geração de energia hidrelétrica e diluição de esgotos, este é uma das principais fontes de poluição do rio Paraíba do Sul, sobretudo nos trechos que cruzam as áreas urbanas. A vazão média do rio Paraíba do Sul, na divisa com o estado do Rio de Janeiro, é de 217 m³/s e a vazão mínima é de 72 m³/s, ou seja, cerca de um terço da vazão média. A situação é preocupante, pois só neste século o rio Paraíba do Sul já passou por duas crises hídricas, a primeira em 2004 e a última entre 2014 e 2016, atingindo sua fase de maior escassez em 2015. Nessas crises, as vazões diminuem muito, devido à baixa precipitação, causando impactos nos níveis de armazenamento dos reservatórios e, consequentemente, na irrigação, na geração de energia e no abastecimento de água para a população. A precipitação média no trecho paulista da bacia é de 1.385 mm ao ano. Devido à escassez hídrica e alta demanda das regiões metropolitanas do entorno, a água do Paraíba tem sido alvo de disputa entre as unidades federativas. Por isso e pela sua relevância ambiental, projetos que objetivem recuperar o rio – da nascente até a foz – são para ontem.

Vídeo com imagens de drone da foz do rio Paraíba do Sul, no norte fluminense. Fonte: YouTube / Canal Macaé Drone. Data: 2021.

Referências:

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO (ANA). Paraíba do Sul. Disponível em: < https://www.gov.br/ana/pt-br/sala-de-situacao/paraiba-do-sul/paraiba-do-sul-saiba-mais >. Acesso em: 19 out. 2021.
FUNDAÇÃO SEADE. Índice Paulista de Responsabilidade Social. São Paulo: Fundação Seade, 2018. Disponível em: < http://www.iprs.seade.gov.br/ >. Aceso em 19 out. 2021.
RIO PARAÍBA DO SUL. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Rio_Para%C3%ADba_do_Sul&oldid=62208470 >. Acesso em: 19 out. 2021.
SÃO PAULO (ESTADO). Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS). Capacitação de agentes no processo de gestão de recursos hídricos em atividades de educação ambiental. Taubaté (SP): CBH-PS, 2009.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos. Guia do Sistema Paulista de Recursos Hídricos. 3. ed. São Paulo: SSRH, 2015.
TEIXEIRA, W. et al. (org.). Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009

Pedra Grande – Cunha – SP

Pedra Grande da Serra da Bocaina. Foto: Pousada Joaninha.

Localização:
Está localizada no bairro do Campo da Bocaina, zona rural de Cunha (SP). Está totalmente localizada dentro do território cunhense, mais especificamente dentro do território do distrito de Campos de Cunha, na região fronteiriça com o município de Silveiras (SP). As coordenadas geográficas do lugar, obtida pelo Google Maps, são as seguintes: 22°49’16.1″S; 44°46’05.3″W.

Localização da Pedra Grande, município de Cunha (SP). Cartografia: Jacuhy.

Altitude:
É variável, conforme o produto cartográfico, site geoespacial ou SIG utilizado. Assim, é no:

a) IBGE: 1.800 metros.
b) IGC: 1.807 metros.
c) Google Maps: 1.780 metros.
d) Google Earth: 1.810 metros.

Altimetria, cobertura do solo e localização da Pedra Grande, em carta do IGC, escala 1:10.000. Recorte e edição: Jacuhy.

História:
Quando os portugueses começaram a colonizar a região do Vale do Paraíba, nos fins do século XVI e início do século XVII, a região da Serra da Bocaina foi um dos últimos refúgios dos indígenas (Puris) que resistiram à catequização e ao aldeamento. No século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas, a região é recortada por caminhos alternativos à Estrada Real, aproveitando as trilhas indígenas que já havia pelas galerias e descampados. Da atual cidade de Lorena (SP), antiga Hepacaré, partiam rotas para o gado e para ouro desviado e furtado (descaminhos), visando alcançar o porto de Mambucaba (RJ), desviando das barreiras alfandegárias e postos de fiscalização e controle. No século XIX viveu o Vale o ciclo do café. As rotas serranas foram reativadas, visando escoar a produção até o porto mais próximo. Como as garoupas (município do “fundo do Vale”) foram pródigas na produção, tropeiros atravessavam a Serra com suas tropas abarrotadas de café, almejando chegar à Mambucaba ou Angra dos Reis (RJ). Nesse tempo, de muito trabalho e escravidão nas fazendas da região, a Bocaina forneceu boqueirões e grutas para formação de quilombos de negros fugidos e resistentes à escravidão. Nos anos de 1940, desenvolveu-se naquelas bandas a pecuária extensiva de leite e corte, agravando processos erosivos e levando a destruição da flora local. Com solo pobre, a agricultura nunca foi o forte da área. Nos anos de 1970 surgiu o Parque Nacional da Serra da Bocaina, demonstrando a importância ecológica e a consequente necessidade de preservar a região, estrategicamente localizada entre as duas maiores metrópoles do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Ali por perto, em Angra dos Reis (RJ), nos anos de 1970, durante o Regime Militar, começa a instalação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), complexo formado por 3 usinas nucleares, projeto para lá de polêmico e muito criticado por ambientalistas. Da década de 1990 em diante, com o advento do turismo na região, a Serra da Bocaina começou a ser explorada pela sua beleza paisagística, pelo clima de altitude e pela vegetação diversificada e esplendida, onde a Mata Atlântica incorpora elementos naturais de áreas subtropicais.

A cidade de Cunha, aos pés da Serra do Alto do Diamante, vista desde a Pedra Grande. Foto: Pousada Joaninha.

Meio físico:
A Pedra está localizada na Serra da Bocaina, em lugar marcado pelo clima tropical de altitude, porém bem mais frio e úmido que o entorno, devido à altitude superior e à proximidade com o mar. As temperaturas ficam na média anual inferior a 17°C e com verão brando. Durante os meses de inverno, principalmente junho e julho, ocorrem temperaturas inferiores a 0° C, ocasionando geadas. Está inserida na bacia hidrográfica do rio Paraitinga, sendo uma região de cabeceira e nascentes. O solo da região é típico de região serrana, sendo o cambissolo húmico. A vegetação é de campos de altitude, as matas ficam concentradas apenas nos fundos dos vales. Nos campos de altitude há a predominância de espécies herbáceas e arbustivas. Conforme a altitude diminui, tem-se a dominância de espécies arbóreas que formam uma mata característica da Floresta Ombrófila Mista Alto Montana, com a presença de Araucárias. As unidades geológicas que afloram na região pertencem ao Terreno Embu. Essa entidade tectônica é constituída por rochas metamórficas e ígneas, em sua maioria com idades proterozoicas (formadas há 2,5 bilhões a 542 milhões de anos). A Pedra em si, do ponto de vista geológico, é um afloramento de Metagranitóide Porfirítico, exercendo controle sobre morfologia do entorno, se destacando no relevo devido a sua resistência à alteração intempérica.

Aspecto da Pedra Grande e entorno. Foto: EcoValeTur.

Parque:
Apesar de estar na Serra da Bocaina, a Pedra Grande não está inserida dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, unidade de conservação de proteção integral. Assim, não há controle de visitação ao local, o que pode ser bastante danoso ao ecossistema do lugar. Não há nenhuma estrutura física para atender a demanda de visitantes e nem qualquer tipo de fiscalização pelo poder público. O descarte de lixo feito de maneira inapropriada no local ou mesmo as fogueiras, acendidas pelos esporádicos acampamentos, podem causar poluição ou queimadas acidentais, colocando em risco o rico e diferenciado ecossistema da Bocaina, considerado por muitos cientistas um refúgio ecológico.

Mapa concêntrico da Pedra Grande da Bocaina. Notar a proximidade com Campos de Cunha. Elaboração: Jacuhy.

Ecoturismo:
Por estar no topo das escarpas da Serra da Bocaina, a Pedra é um excelente mirante, de onde se pode avistar a Mantiqueira, a cidade de Cunha, parte do Vale do Paraíba, a Serra do Mar e da Quebra-Cangalha e até alguns pontos da Costa Verde fluminense. A beleza cenográfica do lugar é de tirar o fôlego. A exploração turística do mirante já vem sendo feita. Passeios de moto, de bicicleta (mountain bike), a pé (trekking), a cavalo, de carro (off-road) têm a Pedra como paragem (camping) ou percurso. O município de Silveiras já explora turisticamente a Pedra, conforme é possível observar nas suas peças de divulgação turística. No entanto, cabe a Cunha saber aproveitar também o mirante da Pedra Grande, já que é parte de seu território, incluindo-o em seu mapa turístico e como um dos destinos a ser visitado pelos viajantes que aqui chegam ou passam. A inclusão desse mirante contribuirá com o próprio desenvolvimento turístico do distrito de Campos de Cunha. Mas é preciso pensar e planejar formas não predatórias de turismo no lugar.

Vídeo da Pedra feito pela empresa EcoValeTur. Data: 12 de jul. de 2019.

Acesso:
A Pedra pode ser acessada por estrada de terra batida, tanto pelo município de Silveiras (SP), via bairro dos Macacos (Colinas), como por Cunha, via bairro da Bocaina. O acesso mais comum e mais recomendado, devido às condições da estrada, é por Silveiras. Pela facilidade de acesso, muitas pessoas confundem a localização da Pedra, colocando-a dentro do município de Silveiras, quando na verdade está dentro de Cunha, conforme pode ser visto nos recortes cartográficos que acompanham esta postagem. Esse Embaraço é reforçado ainda, porque a Pedra está muito próxima à divisa intermunicipal. Equívocos desse tipo ocorrem com frequência com morros em áreas ou próximos de limites territoriais. Veja o que ocorre, p. ex., com a Pedra Macela, na divisa entre Cunha e Paraty (RJ).

Pedra Grande e Serra da Bocaina. Foto: Emil Davidson. Data: maio de 2019. Fonte: Google Maps.

Outras informações:
a) No Google Maps, Pedra Grande já aparece como “Trilha de Caminhada”, porém com “plus code” (56JH+7F Silveiras, São Paulo) localizado em Silveiras, possivelmente cadastrado no site pela ECOVALETUR.
b) Não temos nenhuma informação sobre as condições de trafegabilidade no momento, das estradas que levam à Pedra Grande; entretanto, convém salientar, que nunca foram boas e não são recomendadas para carros de passeio.
c) “Bocaina” é vocábulo de origem tupi, disso não há dúvida; todavia seu significado é controverso. Uma das acepções é: “lugar onde há fontes de água”, derivando de bocá, “irromper”, e ynhã, “fonte, ou jorro d’água”. Talvez seja esse o porquê da Serra apresentar um inexistente lago nas representações cartográficas coloniais, setecentistas; tomando, certamente, os cartógrafos, por fidedigna a tradução literal do vocábulo indígena. No entanto, de fato o termo faz jus à condição hidrográfica da Serra, pois nela nasce o rio Paraitinga, principal formador do rio Paraíba do Sul.

Situação da Pedra Grande, em recorte feito na carta do IBGE, escala 1:50.000. Edição: Jacuhy.

Referências:
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
ECOVALETUR. Pedra Grande da Bocaina (roteiro). Disponível em: <  https://ecovaletur.com.br/roteiro/pedra-grande-da-bocaina/ >. Acesso em: 2 mai. 2021.
GOOGLE MAPS. Disponível em: < https://www.google.com.br/…/@-22.8211891…/data=!3m1!1e3 >. Acesso em: 2 mai. 2021.
IBGE. Campos de Cunha. Rio de Janeiro: IBGE, 1974. 1 carta topográfica, color., 4465 x 3555 pixels, 5,50 MB, jpeg. Escala 1:50.000. Projeção UTM. Datum horizontal: marégrafo Imbituba, SC, Datum vertical: Córrego Alegre, MG. Folha SF-23-Z-A-IV-3, MI: 2742-3. Disponível em: < https://biblioteca.ibge.gov.br/…/GEB…/SF-23-Z-A-IV-3.jpg >. Acesso em: 25 nov. 2020.
INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO (IGC). Ribeirão dos Criminosos. São Paulo: Governo do Estado de S. Paulo – Sec. de Economia e Planejamento: Plano Cartográfico do Estado de S. Paulo / Coordenadoria de Divisão Regional / Divisão de Geografia, 1978. Escala 1:10.000. Projeção UTM. Datum horizontal: marégrafo Imbituba, SC, Datum vertical: Córrego Alegre, MG. Carta SF-23-Z-A-IV-3-NE-D, Folha: 074/135.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SILVEIRAS. Silveiras, Terra do Tropeiro. Vídeo de divulgação. Letra e música: Celso Galvão. Data da postagem do vídeo: 21 de fev. de 2019. Disponível em: < https://youtu.be/CzMOTWIEja8 >. Acesso em: 20 out. 2020.
POUSADA JOANINHA. Passeios. Disponível em: < https://www.pousadadajoaninha.com.br/passeios.php >. Acesso em 26 out. 2020.
REIS, Paulo Pereira dos. O indígena do Vale do Paraíba: apontamentos históricos para o estudo dos indígenas do Vale do Paraíba paulista e regiões circunvizinhas. Coleção Paulística, v. 16. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979.
ROMARIZ, Dora de Amarante. Biogeografia: conceitos e temas. São Paulo: Scortecci, 2008.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente, Instituto Florestal. Mapa pedológico do Estado de São Paulo: revisado e ampliado. Marcio Rossi. São Paulo: Instituto Florestal, 2017. 118p. : il. color ; mapas. 42×29,7 cm. Disponível em: < http://www.iflorestal.sp.gov.br >. Acesso em: 1 mai. 2021.
SOARES, Arthur Távora de Mello. Mapeamento Geológico, Análise Estrutural e Metamorfismo nas proximidades de Campos de Cunha, São Paulo. Monografia de Graduação em Geologia. Orientadores: Julio Cezar Mendes, Rodrigo Vinagre. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro / Instituto de Geociências / Departamento de Geologia, 2018. Disponível em: < http://hdl.handle.net/11422/4254 >. Acesso em: 2 mai. 2021.
TIBIRIÇÁ, Luiz Caldas. Dicionário de topônimos brasileiros de origem Tupi. São Paulo: Traço, 1985.
TOLEDO, Francisco Sodero. Estradas Reais: O Caminho Novo da Piedade. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009.

Vídeo do canal “Girando na Vida” sobre a Pedra Grande. Data: 18 de mai. de 2020.

Turismo em Cunha: cartografias, regionalizações etc.

O Lavandário e o pôr-do-Sol mais lindo do Brasil.

Faço aqui algumas breves considerações sobre a cartografia turística do município de Cunha e as regionalizações impostas pela Secretaria de Turismo de São Paulo e pelo Ministério do Turismo.

Cartografia

Mapa Turístico da Estância Climática de Cunha. Ano: 2009. Fonte: Prefeitura de Cunha (SP).

Esse mapa turístico de Cunha vem sendo reproduzido e impresso pela Prefeitura, com algumas alterações, desde o início deste século. Foi criado pelo designer cunhense Wagner Oliveira. Sem dúvida, é muito bonito e elegante, mas peca nos aspectos cartográficos. Prevalece os aspectos estéticos sobre os técnicos. A cidade de Cunha, como se nota, está ampliada e o restante que do plano, que cobre o município, está em escala menor. Esse tipo de representação acarreta muitas distorções e gera confusão em que lê esse mapa. Geralmente, quando se amplia parte de uma peça cartográfica, a representação em escala maior aparece fora do plano geral, no canto e/ou destacada, a fim de chamar a atenção e não iludir quem realiza a leitura. Ademais, os pontos turísticos de Cunha, diferente de Campos do Jordão, por exemplo, não estão concentrados no perímetro urbano, mas dispersos pela nossa extensa área rural. Desse modo, ainda que o objetivo dessa técnica seja permitir a localização dos pontos turísticos e empreendimentos turísticos dentro da cidade, acaba atrapalhando a localização dos lugares similares que estão na zona rural, já que, como escrevi, Cunha não tem seus pontos e empreendimentos turísticos concentrados na zona urbana. A falta de uma escala mais próxima à realidade, sobretudo nos trechos rurais, tem gerado muitas frustrações nos turistas que se guiam por esse mapa, quando percorrem os roteiros que haviam traçado.

Mapa Turístico da Estância Climática de Cunha. Ano: 2015. Fonte: CunhaTur.

Outro problema é a quantidade de informações que são apresentadas e representadas. Como o número de empreendimentos turísticos em nosso município vem aumentando a cada ano, à medida em que esses mapas são atualizados, ficam cada vez mais poluídos e carregados, o que compromete a leitura e a estética da peça gráfica. A solução pode estar na seleção das informações fornecidas ou na criação de um mapa digital para o turismo cunhense, através de um aplicativo para smartphone, por exemplo. Com os mapas digitais não só a atualização pode ser feita de maneira mais rápida e econômica, como a quantidade de informações pode ser resolvida com a criação de camadas selecionáveis, onde o próprio usuário pode decidir o que ele quer ver e localizar.

Mapa Turístico da Estância Climática de Cunha. Ano: 2019. Fonte: Prefeitura de Cunha (SP).

Regionalizações

Cunha era uma estância climática desde 1948. Foi a primeira do estado, antes até de Campos do Jordão. Na verdade, era para ser estância hidromineral devido às fontes da “Águas Virtuosas de Santa Rosa”. Mas, por pressões políticas de alguns deputados federais, insuflados pelos municípios que já gozavam desse “status” e acesso ao orçamento estadual, acabou se tornando uma estância climática (VELOSO, 1995, p. 12). Nessa batalha de Cunha atuaram dois políticos da época: deputado estadual Sebastião Carneiro da Silva (PSD), grande batalhador das causas valeparaibanas, e o governador Ademar de Barros (PSP), ex-combatente do serviço médico do Exército Constitucionalista, tendo servido na frente de Cunha. Na década de 1940, o dr. João Lellis Vieira, cunhense “da gema” e articulista do jornal “Correio Paulistano”, aproveitava o espaço que tinha para provocar Campos do Jordão, exclamando que Cunha, ao contrário daquela estância da Mantiqueira, era “climatericamente a Suíça Brasileira!”. Puro bairrismo. E um monólogo inócuo. Em nada abalou a reputação de Campos do Jordão, construída pelo próprio governo estadual, visando massagear o ego e ofertar um “plano B” para as quatrocentonas falidas, que já não dispunham de bufunfa para visitar a Suíça (de verdade) …

Mapa da Tipologia Turística das Estâncias Paulistas. Ano: 2017. Fonte: Companhia Paulista de Eventos e Turismo.

Em 2015, o artigo 7º, da Lei Complementar nº 1.261 do estado de São Paulo, que Estabelece condições e requisitos para a classificação de Estâncias e de Municípios de Interesse Turístico e dá providências correlatas”, prescreveu que “os municípios classificados por lei como Estâncias Balneárias, Hidrominerais, Climáticas e Turísticas passam a ser classificados como Estâncias Turísticas, sem prejuízo da utilização da terminologia anteriormente adotada, para efeito de divulgação dos seus principais atrativos, produtos e peculiaridades.” Assim, ainda que a Prefeitura de Cunha mantivesse a divulgação do título de “Estância Climática”, oficialmente passou a ser “Estância Turística”. Na parte que interessa à Municipalidade, o acesso à verba extra do orçamento estadual para fomentar o turismo local, nada mudou. Portanto, nenhum estardalhaço foi gerado. A questão que se pôs a partir de então foi como o Governo Estadual organizaria e enquadraria os municípios turísticos.

Mapa dos Segmentos Turísticos no Estado de S. Paulo. Ano: 2017. Fonte: Companhia Paulista de Eventos e Turismo.

Em um primeiro momento, a Secretaria de Turismo estadual lançou um documento para orientar as prefeituras sobre as mudanças ocorridas por força da nova lei. Assim, naquele momento, São Paulo estava dividido turisticamente em 15 macrorregiões e subdividido em 34 regiões turísticas englobando todos os 645 municípios paulistas (SÃO PAULO, 2015). Cunha pertencia à “Macrorregião do Vale do Paraíba” e à “Região Turística do Vale do Paraíba e Serras”. Basicamente, a Secretaria seguiu a regionalização histórica já existente, sem inventar moda. No mesmo documento, ao aprofundar a regionalização, a Secretaria criou os “Circuitos Turísticos”, uma sub-regionalização das regiões turísticas. Cunha, por sua vez, integrava, simultaneamente, o “Circuito Cultura Caipira”, junto com outros municípios do Alto Vale, e o “Roteiro do Vale Histórico”, junto com os municípios do “garoupas”. Essa regionalização era bastante condizente com a realidade e a história local, valorizando os aspectos culturais de Cunha e adjacências.

Cunha foi inserida dentro do segmento histórico e cultural, com destaque por sua cerâmica de alta temperatura nacionalmente conhecida. Fonte: Companhia Paulista de Eventos e Turismo. Ano: 2017.

A referida Lei Complementar reconhecia 13 segmentos de turismo: Social; Ecoturismo; Cultural; Religioso; Estudos e de Intercâmbio; de Esportes; de Pesca; Náutico; de Aventura; de Sol e Praia; de Negócios e Eventos; Rural; de Saúde. Sendo que Cunha estava segmentada dentro de uma região de turismo cultural, cuja definição, dada pela mesma lei é a que segue: “compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”. Ainda que não seja a melhor para descrever o turismo cunhense era mais condizente que o enquadramento dado, por exemplo, ao turismo religioso, que é definido assim: “configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas, independentemente da origem étnica ou do credo”. Entretanto, a partir de 2017, Cunha passou a integrar a “Região Turística da Fé”, junto com Aparecida, Cachoeira Paulista, Guaratinguetá etc. mesmo não sendo um centro de peregrinação religiosa como esses municípios.

Mapa dos Circuitos Turísticos Paulistas. Ano: 2016. Fonte: Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo.

O que se vê é que nem o próprio Governo conseguiu superar a utilização e categorização das estâncias (turísticas, climáticas e hidrominerais), ainda que oficialmente tenha sido proscrita. O termo “municípios turísticos” ou “estância turística” ainda não foi plenamente assimilado pelas pastas estaduais. E muito menos pelos municípios, empresários, guias e população em geral. Por óbvios motivos políticos e eleitorais, em 2016, uma lei estadual criou a categoria “Municípios de Interesse Turístico”, ampliando em mais 140 o número de municípios paulistas com acesso ao filão orçamentário para “incrementar o turismo”.

Interessante notar que até no site desenvolvido pelas prefeituras da Região Turística da Fé, a foto de Cunha na página inicial é a única não remete à religião ou às igrejas, apresentando a foto de uma das dezenas de cachoeiras do município na chamada da página inicial. Ainda que as festas religiosas de Cunha sejam seculares e possam atrair turistas, elas são expressões de fé da população local e não um evento de cunho turístico. São manifestações de fé genuínas e não eventos comerciais de fundo religioso. Talvez a única exceção dentro dessas manifestações seja a Festa de Sá Mariinha das Três Pontes, em cujo lugar há até um pequeno centro de apoio ao romeiro, mas ainda assim são romeiros de Cunha e adjacências que vistam o local, ou seja, devotos da própria região e que estão no mesmo meio cultural. Diferentemente de Aparecida, Cachoeira Paulista e Guaratinguetá, que são centros nacionais do Catolicismo, e atraem fiéis até de outros países e em contingentes impensáveis para as festas religiosas de Cunha.

A descrição para caracterização da Região Turística da Fé é ambígua. Vejamos: “A Região Turística da Fé se destaca como uma das mais belas do país, está localizada no eixo Rio x São Paulo entre as Serras da Mantiqueira, da Bocaina e do Mar. São 08 municípios no Vale do Paraíba que estão unidos pelo desenvolvimento do turismo regional: Aparecida, Cachoeira Paulista, Canas, Cunha, Guaratinguetá, Lorena e Piquete. Com um grande número de santuários e belezas naturais a região proporciona uma experiência única de fé, contemplação e atividades turísticas em meio das lindas paisagens de serras e rios nos mais variados tipos de turismo e seus atrativos: turismo religioso, turismo rural, turismo cultural, de esportes, de aventura, ecoturismo, negócios e eventos, náutico e gastronômico.” (grifo meu) (REGIÃO TURÍSTICA DA FÉ, 2020). Como se nota, não se sabe ao certo qual o tipo de turismo a desenvolver, porque uma coisa é atrair e acolher romeiros e outra coisa é desenvolver o ecoturismo. No encontro que culminou em um estatuto para os municípios integrantes da RT da Fé, afirmou-se que: “(…) muitos projetos possam acontecer na Rota da Fé, tanto focando a religiosidade regional, como investimentos na infraestrutura (…)” (grifo meu) (PREFEITURA DE APARECIDA, 2019). Ora, como Cunha focar seu investimento em eventos religiosos, se quase todas suas festas turísticas são laicas e comerciais?

Mapa das Regiões Turísticas do Estado de São Paulo. É o que está em vigor. Cunha aparece em outra região turística. Fonte: Secretaria de Turismo do Estado de S. Paulo. Ano: 2017.

Praticamente quase todos os tipos de turismo praticados no Brasil são citados como a ser desenvolvido pela Região Turística da Fé. É claro que a diversificação das atividades turísticas é desejável, mas no caso parece que os mentores municipais estão meio perdidos quanto aos objetivos e metas a serem traçadas. Ter colocado Cunha no meio desses municípios engrossou o caldo da confusão, sem dúvida. Quem dá enfoque em tudo acaba não priorizando nada. Não há nenhum elemento caracterizador, ainda que o turismo religioso preceda os demais e seja citado “um grande número de santuários”, para logo em seguida já destacar as “belezas naturais”, que uma caracterização tão genérica, que pode aparecer na descrição da maioria das regiões turísticas do mundo. O fato é que Cunha não conta com santuários e nem é visitada por motivos religiosos. Na página de Cunha, no site da Região Turística da Fé, até são citadas as festas religiosas, mas os destaques são para os campos de lavandas, cachoeiras e às festas ligadas ao clima serrano. Faria mais sentido, penso eu, alocar Cunha na região vizinha, do “Rios do Vale”, que engloba parte dos municípios do Alto Vale do Paraíba. Pelo menos em nosso território nasce o rio Paraibuna, no bairro da Aparição, e ganha corpo o rio Paraitinga, que desce da Serra da Bocaina. Associar a beleza natural a alguma ação contemplativa de fé em nosso município é um grande disparate, a menos que Cunha tenha algum centro de peregrinação xamânica e ninguém nos avisou de nada…

Não se pode criar regionalizações em gabinetes, desconsiderando a história e desenvolvimento de cada lugar. Canetadas de políticos não devem preceder e prevalecer sobre o trabalho científico de geógrafos e turismólogos.

Considerações finais

Atualmente, a maior parte das pessoas que visitam Cunha utiliza para encontrar os destinos almejados as plataformas cartográficas digitais, como o Google Maps (por exemplo), por serem mais simples, acessíveis e atualizadas. Acessíveis até certo ponto, convenhamos, já que em uma boa parte da zona rural de Cunha não há sinal de celular e, consequentemente, de internet. Entretanto, ainda que venha caindo em desuso e estejam condenados, os mapas turísticos impressos de Cunha precisam equilibrar os aspectos artísticos e técnicos na sua apresentação, tornando-se um instrumento de localização mais útil a quem se destina: os turistas.

Com relação à regionalização turística a que Cunha foi submetida, compete à Prefeitura, através de seu corpo técnico, e ao Conselho Municipal de Turismo de Cunha (COMTUR) questionar esse enquadramento alheio à realidade do turismo local: ao seu desenvolvimento e história, à sua tipologia e às potencialidades que apresenta. Inclusive, o planejamento turístico estadual aponta que um dos objetivos estratégicos para o setor é “promover a atuação articulada de agentes públicos e privados na implantação de empreendimentos e produtos turísticos nacionais ou internacionais, que aproveitem as vocações e potencialidades dos municípios e regiões do Estado de São Paulo.” (SÃO PAULO, 2020, p. 37). E ainda, no mesmo documento, estabelece que o “incentivo e valorização das iniciativas que fortaleçam a identidade local e regional dos destinos turísticos” e a modernização e ampliação das “estratégias de marketing e comunicação de destinos, produtos e serviços turísticos ofertados no Estado de São Paulo nos níveis municipal, regional, nacional e internacional” (SÃO PAULO, 2020, pp. 44-45) são estratégias prioritárias para fomentar o turismo paulista na próxima década. Trata-se de uma regionalização totalmente deslocada, no tempo e no espaço. E que pode comprometer nosso desenvolvimento turístico se for seguida e houver direcionamento de investimentos.

Cunha viveu nesse primeiro quinquênio da pavimentação completa da rodovia que liga a cidade a Paraty (RJ) um crescimento nunca visto do seu turismo. O fluxo cada vez maior de pessoas que se dirige às praias da Costa Verde fluminense e para o Litoral Norte paulista transformou nossas montanhas em vitrine e propaganda ininterrupta do lugar. É um outdoor vivo e verdadeiro dos dois lados da pista da rodovia SP-171. Entretanto, é preciso planejar e aprimorar as atividades turísticas que acontecem aqui, para gere renda e traga benefícios para todos os cunhenses e que seja sustentável, ecologicamente e financeiramente, nas próximas décadas.

Vídeo sobre a então Estância Climática de Cunha, produzido pela Aprecesp (Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo), em 2012.

Referências:
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PREFEITURA DA ESTÂNCIA CLIMÁTICA DE CUNHA. Mapa Turístico de Cunha já está disponível aqui no site oficial da prefeitura, 22 jan. 2019. Disponível em: < http://www.cunha.sp.gov.br/noticias/mapa-turistico-de-cunha-ja-esta-disponivel-aqui-no-site-oficial-da-prefeitura/ >. Acesso em: 4 out. 2021.
PREFEITURA DE APARECIDA. Estatuto da Região Turística da Fé, 26 jul. 2019. Disponível em: < https://www.aparecida.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/326/estatuto-da-regiao-turistica-da-fe >. Acesso em: 5 out. 2021.
REGIÃO TURÍSTICA DA FÉ. Conheça Cunha. Disponível em: < https://rtdafe.com.br/cunha/ >. Acesso em 4 out. 2021.
______. Sobre a região. Disponível em: < https://rtdafe.com.br/ >. Acesso em 4 out. 2021.
SÃO PAULO (Estado). LEI COMPLEMENTAR Nº 1.261, DE 29 DE ABRIL DE 2015. Estabelece condições e requisitos para a classificação de Estâncias e de Municípios de Interesse Turístico e dá providências correlatas. São Paulo (SP), abr. 2015. Disponível em: < https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/2015/lei.complementar-1261-29.04.2015.html >. Acesso em: 5 out. 2021.
SÃO PAULO (Estado) / Secretaria de Turismo. Município de Interesse Turístico: cartilha de orientação de acordo com a Lei 1261/15. São Paulo: Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, 2015. Disponível em: < https://www.turismo.sp.gov.br/publico/include/download.php?file=108 >. Acesso em: 4 ou. 2021.
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______. Mapa das Regiões Turísticas. 2017. Disponível em: < https://www.turismo.sp.gov.br/datafiles/suite/escritorio/aplicativo/conteudo/album_fotografico/782.jpg >. Acesso em 5 out. 2021.
______. TURISMO SP 20-30: Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo do Estado de São Paulo – resumo executivo. São Paulo: SETUR, out. 2020. Disponível em: < https://www.turismo.sp.gov.br/datafiles/suite/escritorio/aplicativo/webdesign/abertura/Plano%20Turismo%20SP%2020-30%20site09dez2020.pdf >. Acesso em: 5 out. 2021.
SECRETARIA DE TURISMO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Tipologia Turística das Estâncias Paulistas – 2017. “Turismo em São Paulo”, TUR.SP – Companhia Paulista de Eventos e Turismo | Disponível em: < http://www.turismoemsaopaulo.com >. Acesso em: 11 jan. 2018.
______. Segmentos Turísticos no Estado de S. Paulo – 2017. “Turismo em São Paulo”, TUR.SP – Companhia Paulista de Eventos e Turismo | Disponível em: < http://www.turismoemsaopaulo.com >. Acesso em: 11 jan. 2018.
VELOSO, J. J. de O. O ambiente natural cunhense. Cunha (SP): Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 1995.

Cunha: maior produtora paulista de leite

Fazenda Aracatu, uma das inúmeras propriedades rurais de Cunha que produzem leite e queijo. Foto: Fazenda Aracatu.

Os resultados do Censo Agropecuário de 2017, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que o município de Cunha é o maior produtor de leite do estado de São Paulo, com uma produção anual de 32,5 milhões de litros, sendo seguido por Araras. Estima-se que o total produzido seja bem maior que o apurado pelo Censo, já que muitos produtores declaram uma quantidade inferior à sua real produção. A produção estadual de leite chega a 1,5 bilhão de litros. De qualquer forma, o resultado municipal evidencia a importância da pecuária leiteira para economia local e a necessidade do governo estadual de investir na pecuária cunhense, visando aumentar a produtividade, a qualidade do leite e a melhora do plantel, já que é o maior produtor estadual de leite, mas a baixa produtividade é um desafio a ser superado.

Cunha possui o 6º maior efetivo de rebanho bovino do estado, com 75.347 cabeças, sendo o maior da região do Vale do Paraíba paulista. A liderança estadual fica com Mirante do Paranapanema, município da região de Presidente Prudente, na divisa com o Paraná, com 101 mil cabeças de gado. Além da produção total, nosso município ocupa a liderança no ranking estadual em número de vacas ordenhadas (13.951 cabeças), no valor obtido com a produção de leite de vaca (35,8 milhões de reais) e no número de estabelecimentos agrícolas que se dedicam à pecuária leiteira (1.281 unidades). Aliás, a maioria (61%) das propriedades rurais locais são voltadas, pelo menos em parte, à produção de leite, uma que vez que as duas modalidades de pecuária (leite e corte) ocorrem de maneira simultânea, em consórcio, nos minifúndios de Cunha.

Ao analisar o resultado desse último recenseamento agrícola, é possível perceber que Cunha é, ao lado de Mirante do Paranapanema, o município que possui a mais forte agricultura familiar do estado, devido à grande quantidade de estabelecimentos agrícolas (o maior número do estado, com 2.287 unidades de produção), à equânime estrutura fundiária (área média dos estabelecimentos é de 35,5 hectares) e à diversidade produtiva, ainda que em pequena escala, de cada unidade agrícola. A ocorrência de víveres, de equinos e muares e de plantações de hortifrutis em quase todos os sítios e pequenas fazendas evidenciam que em Cunha o modo de produção caipira, típico do interior paulista, ainda resiste e persiste em pleno século XXI. Por agricultura familiar entende-se que é aquela onde a gestão da propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agropecuária é a principal fonte geradora de renda da propriedade, sendo diferenciada da agricultura comercial pelo Decreto Federal nº 9.064, de 31 de maio de 2017. Como se nota, a agricultura familiar é uma força econômica do nosso município, precisando ser mais apoiada por todas as esferas do poder público, para que possa garantir renda, emprego e permanência à população rural. A produção captada por laticínios e cooperativas inspecionadas pelos serviços oficiais chega a 23 milhões de litros por ano. Mas nem todas as propriedades produtoras possuem certificação sanitária ou vendem leite para laticínios regularizados.

Outra questão relacionada à pecuária leiteira em nosso município é a produção artesanal de queijo (frescal, muçarela, nozinho, provolone etc.), que ocorre em fabriquetas espalhadas por diversos bairros rurais. A Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável Regional (CDRS) de Guaratinguetá estima, por exemplo, que o processamento artesanal do leite cunhense chega a atingir cerca de mil propriedades, com produção de cerca de 30 mil litros de leite diários. Apesar de não serem registradas e muitas não contarem nem mesmo com o SIM (Serviço de Inspeção Municipal), trata-se de uma atividade que é sustento de muitas famílias rurais e de pequenos pecuaristas que não são cooperativados e que vendem sua produção a essas fábricas artesanais. As queijarias artesanais buscam a regularização de sua produção, visando receber certificação sanitária dos órgãos competentes, para que possam comercializar com tranquilidade e legalmente seus queijos em Cunha e em outros lugares. Para tanto, organizaram uma associação e buscam apoio junto à Prefeitura de Cunha, visando receber apoio técnico e político para alcançar as certificações exigidas pelos organismos sanitários e de controle, buscando, desse modo, equivaler o SIM, de abrangência no território municipal, ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI/POA), certificação federal. Uma vez reconhecida essa equivalência do SIM com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), garante-se oficialmente a segurança dos alimentos produzidos em Cunha e possibilita a venda dos queijos feitos aqui para todo o território nacional. Apesar de desconsiderada nas estatísticas oficiais, a produção desses pequenos laticínios familiares não é pequena. Recentemente, inclusive, a produção artesanal e familiar de queijo em Cunha, bem como as reivindicações dos produtores, foi tema de reportagem do canal Terra Viva. O queijo de Cunha já conquistou muitos paladares, resta conquistar o aval da burocracia federal.

A intensa geada de julho mudou a cor da paisagem rural de Cunha e deve trazer prejuízos à produção de leite. Local: bairro do Encontro – Cunha – SP. Data: julho, 2021.

Apesar da liderança estadual, os pecuaristas de Cunha devem passar por dificuldades em 2021. O inverno por si só, pela falta de chuvas, já faz a produção diária de leite despencar, encarecendo o preço do produto nas prateleiras (Lei da Oferta e da Procura). Só que este ano, além da estiagem e do aumento dos insumos produtivos, a intensidade da geada deve afetar a produção de leite e trazer prejuízos aos retireiros. A paisagem rural cunhense mudou de cor, passou de verde a castanho, após as últimas geadas. Os pastos foram tostados pelo congelamento do orvalho. Sem pastagem, os produtores rurais devem recorrer à compra de silagem ou comprar ração industrializada para alimentação do rebanho, o que deve encarecer a produção e aumentar o preço do leite e seus derivados aos consumidores. As dificuldades para o produtor rural cunhense são muitas (como sempre foram), mas a resiliência é a marca dessa gente que, com trabalho pertinaz, tudo supera. E prevalece. Sorte a nossa, pois sem produção não há comida.

Fontes:

CANAL TERRAVIVA. De Cunha-SP para o Brasil: Produtores buscam venda do queijo para fora do município. Youtube, 19 fev. 2021. Disponível em: < https://youtu.be/pykJ-G3Zvps >. Acesso em: 3 ago. 2021.
IBGE. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. Disponível em: < https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/ >. Acesso em: 3 ago. 2021.
SECRETARIA de Agricultura apoia a produção de queijo dos laticínios de Cunha. Governo do Estado de São Paulo, 9 abr. 2020. Disponível em: < https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/secretaria-de-agricultura-apoia-a-producao-de-queijo-dos-laticinios-de-cunha/ >. Acesso em: 8 ago. 2021.

10 curiosidades sobre Lagoinha – SP

Igreja Matriz e Cachoeira Grande: cartões-postais de Lagoinha, no interior de São Paulo.

1. RELIGIÃO: É o município mais católico de São Paulo. Em termos percentuais, segundo o Censo 2010, 93,4% dos lagoinhenses se declaram católicos romanos. Valor relativo bem acima dos registrados no estado e no país. O segundo município mais católico do estado é Ribeirão dos Índios, no Oeste, com 89,1%.
2. PADRES: Devido à importância da religião junto aos seus moradores, em Lagoinha os padres sempre tiveram um papel social e político relevante, destacando-se dois deles: padre Francisco Eloy de Almeida (Padre Chico) e padre Osmar Barbosa, ambos mineiros e já falecidos. O primeiro chegou a Lagoinha em 1.937. Logo se tornou líder religioso, comunitário e político, um defensor da fé e muito querido junto ao povo. A principal escola da cidade faz homenagem à sua figura. O segundo também foi um líder comunitário e muito conhecido e querido não só pelo povo de Lagoinha, mas por muitas pessoas do Vale. Sua clarividência, sempre negada por ele, e seus aconselhamentos eram considerados divinos e eram buscados por muitas pessoas que passavam por problemas. Também era um dos devotos da Menina Izildinha, uma menina nascida em Portugal em 1897 e falecida com apenas 13 anos vítima de leucemia e considerada santa. O catolicismo popular também é muito forte em Lagoinha e há entre muitos moradores a devoção à Sá Mariinha das Três Pontes (Maria Guedes), curandeira e vidente cunhense, considerada santa por muitos. Essa devoção é resultado da proximidade do bairro da Três Pontes com a zona rural lagoinhense, onde muitos moradores visitavam e se consultavam com Sá Mariinha.
3. PADROEIRA – A padroeira de Lagoinha é Nossa Senhora da Conceição. Lagoinha se tornou freguesia de São Luiz em 26 de março de 1.866. Por freguesia se entende paróquia, ou seja, a antiga capela passou a contar padre regular. A capelinha foi construída em meados do XIX, sendo que por volta de 1.863, a imagem da Virgem da Conceição foi trazida por tropeiros de Portugal, segundo a tradição, a pedido da família dos “Antocas” (os irmãos Joaquim e Francisco Antônio Ribeiro e Antônio Alves da Silva e suas respectivas esposas, antigos sesmeiros). Aliás, é a mesma padroeira de Cunha. Isso se deve à influência dos portugueses, pois a devoção à Imaculada Conceição, padroeira da nossa antiga Metrópole, é bastante antiga e interligada a própria história do país ibérico, sobretudo com os grandes acontecimentos decisivos para a independência e identidade nacional durante a Reconquista. Consta como um dos atos fundantes de Portugal, uma Missa pontifical de ação de graças, em honra da Imaculada Conceição, que foi celebrada em Lisboa, recém conquistada aos islâmicos, em 1.147, pelo primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
4. NOME: O nome Lagoinha tem relação direta com sua origem tropeira. A palavra “lagoinha” é um diminutivo de “lagoa”. Consta que o sítio onde está a cidade foi, desde o século XVII, um pouso de tropeiros. Estes usavam o lugar como paragem e ponto de apoio, em suas viagens comerciais entre as fazendas, vilas, portos e freguesias coloniais. E nesse lugar, por ser um ponto de descanso e reabastecimento, existia uma pequena lagoa, que servia como bebedouro para as tropas e para uso dos tropeiros, daí então vem o nome que os tropeiros batizaram o lugar: “Pouso da Lagoinha”. Em 1.863, chega na região a família dos “Antocas”. Oriunda de Ubatuba, essa devota família, assim que chegou para a sesmaria que havia recebido, resolveu doar uma gleba de terra no entorno do pouso, para que ali se construísse uma capela dedicada à Virgem Imaculada. Casa após casa, no entorno dessa capela começou a surgir o que viria a ser hoje a cidade de Lagoinha.
5. ELEITORES: Lagoinha possui mais eleitores do que habitantes. Em 2018 eram 5.041 eleitores para uma população total de 4.896 habitantes, segundo estimativa do IBGE para o ano de 2019. Apesar dessa situação causar estranheza e desconfiança, não há nada de errado com ela. É típica de municípios que sofrem perda de população por migração intermunicipal e êxodo rural, como ocorre aqui no Alto Vale do Paraíba, onde a mudança de município de residência não é acompanhada pela mudança de domicílio eleitoral. As pessoas mudam de cidade, mas preferem continuar votando na cidade natal, aproveitando a eleição para rever a família e amigos ou mesmo para participar do pleito no lugar onde possuem relação mais próxima com a política. Cunha também possui um número elevado de eleitores, se comparado à população residente. Consequentemente isso acaba gerando uma alta taxa de abstenção, por essa razão o Tribunal Regional Eleitoral tem sido mais exigente no recadastramento eleitoral no que concerne à comprovação de residência.
6. TAUBATÉ: Atualmente o município possui uma forte ligação e dependência em relação a Taubaté, apesar dos laços históricos e da maior proximidade com Guaratinguetá. Essa ligação com Taubaté se estreitou a partir de 1.981, com a pavimentação da Rodovia Nelson Ferreira Pinto (SP-153), que liga a cidade de Lagoinha com a vizinha São Luiz do Paraitinga.
7. FAZENDAS: Apesar da sede da Fazenda Santana ficar no município de Cunha, próxima à divisa com Lagoinha, os seus donos sempre tiveram mais ligação com Lagoinha e São Luiz do que com Cunha, com destaque para o coronel (da Guarda Nacional) Manoel Antônio Domingues de Castro, figura política importante no passado lagoinhense. Em 1.873, ocupava o cargo de subdelegado na então freguesia pertencente a São Luiz do Paraitinga. Chegou a ser deputado estadual em 1.907. E em 1.892 conseguiu que fossem transferidas para a Vila de Lagoinha as terras de suas fazendas, a saber: as fazendas “Santa Anna” (pertencente a São Luiz do Paraitinga na época) e “João Ferraz” (atual bairro do Ferraz, município de Cunha). Com o advento do República, acabou por prevalecer o princípio da divisa intermunicipal por vertentes e não a partir de interesses particulares.
8. FRONTEIRAS: Vários bairros rurais de Cunha se comunicam mais com Lagoinha do que com nossa cidade. Isso se deve à proximidade e facilidade de acesso com a cidade vizinha. Por estarem na região de fronteira, é mais fácil ir até Lagoinha do que vir até Cunha. É o caso, por exemplo, do bairro do Barro Vermelho. Geograficamente, é Cunha; no entanto, os moradores votam, estudam, fazem consultas médicas, negócios e compras em Lagoinha. Por conseguinte, gera atrito entre as duas prefeituras, pois ambas querem se livrar da prestação de serviços públicos a esses moradores, que no final acabam sendo prejudicados e tendo que reivindicar seus direitos por causa de sua localização. Claro que, do ponto de vista legal, o atendimento aos moradores compete à Prefeitura de Cunha, pois estão dentro de nossa circunscrição territorial e nos recenseamentos, que servem de base para o repasse de verbas estaduais e federais, os moradores entram na soma da população de Cunha. Nos últimos tempos, acordos entre as duas prefeituras têm sido feito no tocante à manutenção das estradas rurais, principal queixa desses moradores.
9. TURISMO: A Cachoeira Grande, no bairro do Faxinal, é o principal ponto turístico de Lagoinha. Com 38 metros de queda livre, é uma das maiores e mais bonitas da região. A cachoeira é formada pelo rio do Pinhal, afluente do rio Paraitinga, que corta o município no sentido oeste-leste. Lagoinha está cercada por duas serras: a do Quebra-Cangalha (Serra Fria ou dos Forros) ao norte e ao sul a do Mar (Serra do Alto do Chapéu).
10. TRADIÇÃO: Lagoinha é uma das cidades mortas do Vale Paraíba, tão bem descritas pela narrativa ácida de Monteiro Lobato. Assim como Cunha, o município entrou em estagnação econômica com a subutilização dos caminhos serranos para escoamento da produção valeparaibana, depois da inauguração da Estrada de Ferro Central do Brasil e com o fim do ciclo do café na nossa região. Atualmente conta com 220 estabelecimentos agropecuários, uma produção leiteira de 25 mil litros por dia e mais 20 mil cabeças de gado. É uma das maiores bacias leiteiras do estado e um dos centros da pecuária de corte da RM do Vale do Paraíba. Se no passado a falta de indústrias e a perda de dinamismo econômico eram entraves, hoje o fato de ser uma cidade bucólica e distante dos grandes centros industriais é um fator que impulsiona o turismo rural e o ecoturismo, atraindo visitantes ansiosos para explorar as belezas com que Lagoinha foi, generosamente, agraciada pela natureza. E tudo isso em um lugar que vem conservando a fé, a tradição e os valores que, repassados geração a geração desde tempos imemoriais, fez esse rincão de São Paulo ser um bastião da mais autêntica cultura paulista.

Mapa e dados de Lagoinha – SP. Cartografia: Jacuhy.

FONTES:
A religiosidade de Lagoinha, SP. Trip Rural, 30 ago. 2019. Disponível em: < http://www.triprural.org.br/a-religiosidade-de-lagoinha-sp/>, acesso em: 18 mai. 2020.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO (ALESP). LEI N. 22, DE 26 DE MARÇO DE 1866. Eleva à categoria de freguesia a capela de Nossa Senhora da Lagoinha, e autoriza o governo provincial a determinar as divisas entre essa Freguesia e os municípios de São Luiz, Cunha, Guaratinguetá e Pindamonhangaba. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/…/…/lei/1866/lei-22-26.03.1866.html, acesso em: 20 mai. 2020.
______. LEI N. 85, DE 6 DE SETEMBRO DE 1892 (Transfere para a villa de Lagoinha fazendas do cidadão Manoel Antonio Domingues de Castro). Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/…/l…/lei/1892/lei-85-06.09.1892.html>, acesso em: 19 mai. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Lagoinha: São Paulo. Rio de Janeiro: IBGE, 1973. 1 carta topográfica, color., 4465 x 3555 pixels, 5,50 MB, jpeg. Escala 1:50.000. Projeção UTM. Datum horizontal: marégrafo Imbituba, SC, Datum vertical: Córrego Alegre, MG. Folha SF-23-Y-D-III-2. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/…/GEBIS%…/SF-23-Y-D-III-2.jpg>. Acesso em: 19 mai. 2020.
______. Mapa Municipal Estatístico: Lagoinha – SP. Escala: 1: 50.000. IBGE, Rio de Janeiro: 2011. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/…/mapas_municip…/sp/lagoinha_v2.pdf>, acesso em: 20 mai. 2020.
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INSTITUTO CHÃO CAIPIRA MALVINA BORGES DE FARIA. Lagoinha. Disponível em: <http://www.chaocaipira.org.br/cidades/lagoinha>, acesso em: 20 mai. 2020.
LUNÉ, Antônio J. B. de; FONSECA, P. D. da. Almanak da Província de São Paulo para 1873. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado/Arquivo do Estado, 1985.
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SILVA, Altair V. da. Lagoinha – SP: sua origem e razões de sua localização. Disponível em: < https://youtu.be/tOxP5oJ_ySE>, acesso em: 18 mai. 2020.
SPINELLI, Evandro. Osmar Barbosa (1928-2011): padre Osmar, o milagreiro que previa o futuro. Folha de S. Paulo. Cotidiano. Obituário. São Paulo, 7 nov. 2011. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0711201115.htm>, acesso em: 20 mai. 2020.
VELOSO, João J. de O. Fazenda Sant’anna – Roteiro Turístico e Histórico de Cunha. Cunha: Museu Municipal Francisco Veloso, dez. 2019. Disponível em: <https://www.facebook.com/joaoveloso.veloso.5/posts/10206544664212941>, acesso em 19 mai. 2020.